das lembranças de Ethan....
- Você ainda me deve dinheiro sua ordinária...- e tapei meus ouvidos. Não queria ouvir o som dos socos e gritos.
Os gritos pararam por alguns segundos. Agora eu só ouvia os gemidos dela, e esperava que aquele homem fosse embora. Sabia que era ele que arrumava aquelas coisas para ela. Ela gemia baixo, devia estar bem machucada, e isso significava que iria precisar que eu tomasse conta dela. E fazendo isso não haveria “amigos” a visitá-la pelo menos por alguns dias. Quem sabe assim, ela parasse com aquela vida e agisse como uma mãe normal. Mas não, ela não faria isso, não quando a culpa por ela ser assim era minha...
Saí do esconderijo, devia ser seguro agora... Só percebi que não era seguro quando fui jogado ao chão e recebi um chute...
- Tira as mãos de mim! NÃÃAÃOOOOO!
- Ethan acorde. Foi só um pesadelo, você está seguro aqui. - o garoto se debatia enquanto Logan tentava acordá-lo. Após algumas tentativas, o menino acordou.
- O que faz aqui?- perguntou assustado enquanto percebia suas roupas coladas ao corpo pelo suor frio.
- Você teve um pesadelo e estava gritando. Tome um pouco de água. Garoto você chuta bem, deveria pensar em praticar futebol. - Logan disse massageando a costela e estendendo um copo com água ao menino.
Ele olhou para Logan e viu que ele vestia uma camiseta amarrotada e um jeans colocado às pressas, estava descalço e tinha os cabelos desalinhados. Logan não era do tipo que gostasse de meninos, ele mesmo havia dito isso, então Ethan se forçou a respirar com calma.
- Cadê a Alex?
- Ela precisou ir ao Ministério. Um auror precisou faltar por problemas de família e pediu que ela o substituísse numa vigilância hoje.
- Ela está grávida, não tem que trabalhar de noite. Vocês são ricos! – resmungou Ethan e Logan sorriu:
- Alex não trabalha apenas pelo dinheiro, embora todos que prestem um serviço devam ser remunerados. É importante para ela poder ajudar, principalmente se for o pedido de algum amigo. Quer conversar sobre o pesadelo?
- NÃO! – disse assustado e Logan arqueou as sobrancelhas:
- Quer dizer...Não precisa... Eu estou bem.
Logan respeitou o silêncio do garoto, e não falaram mais no assunto.
O feriado de Páscoa foi uma coisa de outro mundo. Ty teve folga na escola e veio para casa ficar conosco. Era bom ter o Ty em casa, porque ele sempre estava fazendo alguma coisa, e ele fazia a Alex rir, contente, sem resmungar por estar "de molho".
Ela estava de repouso porque andou sentindo dores na barriga e o médico a mandou ficar em casa por alguns dias e isso a deixava um pouco irritada. Não comigo ou com o Ty, mas com o Logan rsrs. Nas primeiras vezes fiquei preocupado quando a vi dar alguns gritos, e no dia seguinte o encontrei dormindo no sofá, achei que ele fosse ficar zangado com ela, mas bastava ela sorrir para ele, que ficava tudo bem. E quando eles estavam bem, coisas incríveis aconteciam, como a festa de aniversário que fizeram para mim. Eu teria ficado feliz com um bolo e umas velinhas em cima, mas eles chamaram toda a família, puseram cama elástica no quintal, carrinho de pipoca, algodão doce, cachorro quente, docinhos de diversos tipos, e ao final puseram uma piñata, em forma de um bicho esquisito e tínhamos que bater nela com um bastão para quebrá-la e de lá de dentro caíam brinquedos, balas, docinhos coloridos, tinha varinhas que viravam galinhas magrelas e faziam barulhos esquisitos, pirulitos ácidos que quando a gente chupava saía fumaça da boca, alguns deixavam buracos na língua, Ty pegou um que o encheu de bolhas coloridas, rimos muito.
Quando eu achei que tudo não podia ser melhor, Logan trouxe uma caixa de papelão e disse que era um outro presente. Cheguei perto e vi que lá dentro havia uma bola de pêlos amarelada, até lembrava um daqueles caramelos puxa-puxa.
- É meu?- perguntei incerto.
- Se você o quiser...- disse Logan e eu peguei a bolinha e abracei junto ao peito. Escondi o rosto no cãozinho, fungando para segurar as lágrimas. Não iria chorar na frente de toda aquela gente.
- Como vai chamá-lo?- perguntou Ty.
- Vai ser Boomer, igual ao cara dos desenhos. - respondi.
- Será que ele vai gostar de rosquinhas?? Vai ter que disputá-las comigo. - disse Alex acariciando a barriga e rimos.
Todos brincaram um pouco com ele, mas ele sempre vinha para o meu lado. Teve uma hora os sobrinhos da Alex disseram que não era para deixar o Ty segurar o cachorro senão iria, embalsamá-lo. Quando descobri que isso era transformar em múmia, peguei Boomer no colo e olhei sério para o Ty. Ele riu e contou a historia onde ele e os amigos fizeram um enterro egípcio pro gato morto da diretora da escola em Paris e que receberam um monte de punições como castigo. Acabei rindo quando ele explicou a historia toda, e o Boomer corria para o lado dele sem medo, só para morder as luvas de couro de dragão que ele usava. Como Ty é um “irmão legal”, ele iria deixar as luvas aqui para o meu cachorro brincar com elas, quando voltasse para a escola. Quando fui dormir naquela noite, coloquei Boomer aos pés da cama no cesto como Alex mandou, mas ele estava tão sozinho... E a minha cama é tão grandona...
Ele dormiu comigo, e pela primeira vez em muito tempo não tive pesadelos.
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