Londres, Março de 2015 – St. Patrick’s Day
O dia de St. Patrick era o dia mais esperado do ano, a menos para o nosso grupo. Agora formados, tanto em Hogwarts quanto na Academia de Aurores, era o dia do ano onde podíamos levar ao pé da letra o lema de que no dia de St. Patrick tudo pode acontecer.
Ninguém tinha um plano ainda, só sabíamos que a noite deveria ser de celebração e não havia lugar melhor que o Scavo’s para se reunir e decidir o que fazer. Connor e eu fomos os primeiros a chegar, com roupas verdes como combinado, e Nigel nos saudou por detrás do balcão. Otter já estava sentado na nossa mesa de sempre, com a namorada Allyson.
- Ah cara, você ta trabalhando hoje à noite? – reclamei quando ele veio até nossa mesa atirar os cardápios – É dia de St. Patrick. Deveríamos fazer algo divertido, esqueceu?
- Não, não esqueci, não vou trabalhar a noite toda. Mamãe teve que sair pra socorrer minha tia, só estou cobrindo até ela voltar.
- Ótimo, então traga quatro cervejas amanteigadas enquanto ela não volta – Connor pediu folheando o cardápio e Nigel voltou ao bar.
- E ai? Perdemos a diversão?
Ethan chegou até nossa mesa e vinha acompanhado de Brian, Brianna, Becky e Alex. Todos trajavam roupas verdes, uma tradição do dia, e nos esprememos para cabermos todos na mesa que não era tão grande assim. Algumas rodadas de cerveja amanteigada e whisky de fogo depois, decidimos que a melhor comemoração seria ali no pub mesmo, que não precisaríamos ir a nenhum outro lugar para se divertir, mas Becky e Alex tinham outros planos.
- Vocês precisam mesmo ir? – Otter perguntou desanimado pelo desfalque na turma.
- Becky não precisa, mas eu não tenho escolha – Alex respondeu dando de ombros – É a festa do comitê olímpico britânico, se eu não for vai pegar mal.
- E eu não vou celebrar o dia de St. Patrick sem você, então também tenho que ir – Becky respondeu sorrindo e segurou sua mão, enquanto pegava a bolsa na mesa – Vemos vocês pela madrugada, sei que não vão sair daqui tão cedo.
- Tudo bem, cara? – Ethan perguntou a Connor assim que Becky e Alex saíram do bar.
- Tudo, e você? – Connor respondeu parecendo confuso e sufoquei um riso.
- Cara, a garota dos seus sonhos acabou de sair com o namorado, isso me abalaria um pouco – Brian completou e agora todo mundo disfarçou a risada.
- Ela não é a garota dos meus sonhos, já desencanei. Eles estão juntos há muito tempo, não é justo.
- Ah então ela ainda é a garota dos seus sonhos, mas você não quer mais lutar porque acha que não é certo – Brianna completou e ninguém mais fingiu não achar graça.
- Já pensei muito sobre isso e tomei minha decisão.
- Esse é o problema, Connor – Otter o encarou sério – Você pensa demais. Precisa ser mais espontâneo, agir por impulso.
- Falou o cara mais impulsivo do planeta – Connor disse sarcástico.
- E ainda assim eu estou com a garota que quero ao meu lado – Otter abraçou Allyson e todo mundo riu.
- Não, não, Otter tem razão – interrompi os risos – Você pensa demais, cara. Já experimentou desligar o cérebro por um dia? Fazer tudo sem pensar antes?
- E como se faz isso?
- Fácil – Ethan estalou o dedo e Nigel olhou para nossa mesa – Ei Nigel, traga 5 doses dessa coisa verde de St. Patrick que está no cardápio.
- Álcool não desliga meu cérebro. Nada desliga ele.
- Bom, é o que estamos prestes a comprovar... ou não – Nigel trouxe 5 copos com um liquido verde que parecia grama e colocou na mesa – Vire as 5 doses.
- Tudo bem, mas isso não vai adiantar – Connor pegou o primeiro copo e virou – Já tomei porres outras vezes – virou o segundo – e não fiz nada idiota – virou mais um – que tenha me deixado arrependido – virou o quarto copo – Na verdade, eu penso que – virou o quinto – álcool não surte efeito em mim.
- Merlin, ele bebeu as 5 doses – Brianna começou a rir na mesa – Isso não pode ser bom.
- Se ele vomitar, vocês vão limpar – Nigel avisou saindo da mesa com a bandeja, mas voltou em seguida sem o avental e se juntou ao grupo.
- O que está fazendo? – Allyson perguntou vendo Connor pegar o celular do bolso.
- Ligando pra Becky.
- Ah não, nada disso, me dá esse telefone – Brianna esticou a mão, mas Connor saltou do banco a tempo.
- Olá Becky, sou eu, Connor – ele falou e soluçou – Olá Becky, sou eu, Connor.
- Amigos não deixam amigos beber e usar o telefone – Allyson apoiou Brianna.
- Ei, vocês que queriam que ele desligasse o cérebro por uma noite, agora não podem repreender – Nigel falou olhando para Connor e rindo.
- Becky, eu já falei o quanto você é uma excelente auror? – Connor falava com a voz meio embolada e riamos na mesa – É verdade, você é muito boa. E não precisa se apressar em casar com Alex só porque ele só fala disso. Faça o que o seu coração mandar. Vá devagar, Becky. Vá devagar... – e sua voz foi morrendo, até ele desligar o telefone e voltar à mesa.
- Viu, Connor? Você desligou o cérebro um pouco e já ligou pra Becky e disse parte do que queria – Ethan bateu em suas costas – É isso que acontece quando não pensamos, nós agimos.
- Você tem razão – Connor deu um salto do banco e ficou de pé.
- Não devíamos ter tomado o telefone dele? – Otter perguntou incerto – Ele não está em condições de tomar decisões inteligentes.
- Essa é a beleza de se estar bêbado – disse rindo – Eu não sei o que ele vai fazer em seguida, mas eu quero descobrir.
Connor caminhou até uma velha Jukebox que tinha no pub e depois de alguns segundos, colocou uma música cafona e puxou o celular do bolso de novo, ligando para Becky. Quando ela atendeu, começou a cantar a música para ela. Sabíamos que aquilo não era legal, mas ninguém conseguia interromper, era engraçado demais ver Connor bêbado fazendo coisas idiotas. A ligação foi interrompida quando ele caiu da mesa onde havia subido para cantar e ele voltou para a mesa.
Ao todo foram quase 10 ligações para Becky no decorrer da noite. Connor tomou mais duas doses da coisa esverdeada e acabamos saindo do pub para aproveitar um pouco da comemoração nas ruas. Voltamos para casa perto do amanhecer e despejei Connor em sua cama, enquanto ouvia-o dizer o quanto amava todos os seus amigos e o quanto éramos bons cuidado dele. A ressaca seria boa.
Não dormimos quase nada aquela noite e já estávamos de pé para mais um dia de trabalho. Ao menos Nigel, Otter e eu estávamos prontos, pois Connor ainda dormia profundamente em seu quarto. Já discutíamos a possibilidade dele ter entrado em coma alcoólico enquanto tomávamos café quando a porta do quarto abriu e meu amigo saiu. Ele mancava, seu pijama estava ao contrario, os cabelos mais despenteados que os do tio Harry e uma cara horrível. Começamos a rir na mesma hora.
- Bom dia, Kurt Cobain – falei mordendo uma torrada e ele encolheu com o barulho.
- O que aconteceu ontem? – Connor sentou no sofá quase sem conseguir se manter de pé.
- Você não se lembra mesmo? – Nigel soltou uma gargalhada.
- Acho que não de tudo.
- Lembra de ter ligado pra Becky insistentemente? – Otter perguntou e ele confirmou – Então isso já basta.
- Por que vocês me deixaram fazer isso?
- Você disse que ia desligar o cérebro, então o deixamos fazer o que queria – respondi rindo – Cara, você estava hilário.
- O que eu falei pra ela? – Connor parecia preocupado, o que só deixava tudo muito mais engraçado.
- Acho que você vai descobrir em alguns minutos... – e apertei o botão da secretaria eletrônica.
- Connor, o que está acontecendo? Por que me ligou a noite inteira, bêbado? Vou passar ai pela manhã antes de irmos para o Ministério, precisamos conversar – a voz de Becky saiu do aparelho e Connor foi escorrendo no sofá.
- A voz dela pareceu um pouco estremecida. O que você falou pra ela que não ouvimos? – Otter questionou, mas Connor deu de ombros, sem graça.
Continuamos o café enquanto íamos relembrando os fatos mais engraçados na noite anterior, e conseqüentemente refrescando a memória falha de Connor, autor de 98% dos fatos relembrados. Era difícil decidir qual era o melhor. Se quando Connor subiu no balcão e gritou que amava todos no bar ou quando ele começou a chamar todo mundo de bitch. Ele continuou jogado no sofá, de pijama, sem perspectiva de levantar e começar a se arrumar pro trabalho, só ouvindo nossas risadas e relatos. Quando a campainha tocou, saltou do sofá todo atrapalhado.
- Ei Becky, como foi na festa do comitê ontem? – Nigel perguntou descontraído.
- Foi boa, eu acho – ela parecia um pouco perturbada e não sabia se eram pelos telefonemas de Connor ou algo além – Connor, o que aconteceu ontem? O que significa esses telefonemas todos?
- Olha, não foi nada demais, ok? – Connor começou a se explicar e Otter tentou puxar Nigel e eu para fora da sala, mas não nos mexemos – Eu só desliguei meu cérebro por uma noite e bebi demais – e Becky puxou o celular da bolsa, abrindo e apontando para ele.
- Becky, Becky, atende, atende. Vou cantar até você atender – ouvimos a voz de Connor na caixa postal e Otter me beliscou quando ri - When you love a woman, you tell her that she's really wanted, when you love a woman, you tell her that she's the one.
- Eu sinto muito mesmo por isso – Connor tinha as mãos juntas, praticamente implorando – Eu provavelmente nunca mais vou beber outra vez.
- Beeeeecky! Eu te amo, sabia? Já disse isso a você? Não me lembro. Se nunca disse, então estou dizendo agora. Eu te amo, ok? – Becky continuou apertando os recados e era difícil não rir vendo o rosto de Connor assumir todas as cores do arco-íris.
- O que isso significa? Você estava falando sério ou o que? – Becky não ria, e parecia realmente perturbada – Foram quase 10 recados assim.
- Não significa nada, eu estava bêbado! – Connor respondeu e reagimos, mas Otter não deixava ninguém falar – Me desculpe, por favor. Ignore tudo!
- Becky, está tudo bem? – Otter perguntando quando ela se largou no sofá, parecendo exausta – Aconteceu alguma coisa que deveríamos saber?
- Alex me pediu em casamento ontem – ela falou e vi Connor cair sentado no sofá, ao mesmo tempo em que nos aproximávamos depressa.
- Devemos dar parabéns ou não? – Nigel perguntou inseguro, já que ela não parecia animada.
- Eu não sei – disse sincera – Não respondi ainda. Connor podia estar bêbado, mas ele tinha razão. Eu sou nova demais pra isso. Por Merlin, só tenho 21 anos, não quero me casar ainda!
- Mas ele pretende casar agora? Essas coisas demoram mesmo – perguntei tentando ajudar.
- Alex foi meu primeiro namorado. Sai com outros garotos antes, mas namorado ele foi o primeiro. Devo me casar com o primeiro garoto que namorei? – Becky estava completamente desorientada, não estávamos acostumados a isso.
- Ah, mas nem todos os casamentos duram pra sempre, não? – Nigel deu de ombros e soquei seu braço.
- Vou me casar pensando que vou poder sair com outros garotos quando me separar, ótimo!
- Becky, se você acha que é cedo demais pra pensar nisso, ou que talvez esteja na hora de dar um tempo com Alex, converse com ele – Otter orientou e Connor se mexeu no sofá – Não é justo com ele dizer sim, se tem todas essas duvidas.
- É, acho que vou conversar com ele – ela deitou a cabeça no encosto do sofá e bateu a mão na perna de Connor – Estamos bem então, não é? Não beba outra vez.
- Sim, tudo bem – Connor levantou depressa – Melhor me arrumar ou vamos nos atrasar.
Connor voltou pra sala 20 minutos depois e aparatamos direto no Ministério, sem tocar mais no assunto tanto do porre dele quanto do pedido de casamento de Becky. Se minha prima estava começando repensar se estar com Alex era mesmo o que ela queria pra ela e Connor sob o efeito de álcool, e de testemunhas, admitiu o que sentia, podia apostar o que fosse que nossos próximos meses seriam bastante movimentados.