Setembro de 2013, no Hospital Geral de Londres
-Muito bem, Jeff, hoje você está realmente cheiroso.- eu disse enquanto encontrava a equipe de paramédicos que haviam trazido um paciente para o hospital onde trabalhava.
Jefferson Kern, era um sem teto bêbado, com mais de 60 anos e várias vezes ia parar no hospital com problemas de pressão alta, crises de diabetes, machucados em brigas de rua, e em todas as vezes ele chegava ao hospital muito sujo, pois se recusava a morar nos abrigos que nós indicavamos, então o chamávamos de ‘Jeff Cheiroso’. Quando sabíamos que era ele a caminho do hospital, tirávamos na sorte, e eu fui o perdedor da vez. Hoje ele estava muito agitado e tentaram amarra-lo, pois, ele estava dando muito trabalho. Houve um momento que ele se soltou e mesmo eu estando alerta, acabei tomando um tapa no lado da cabeça, enquanto media seus sinais vitais. De repente ele parou de se debater e disse:
- Se eu morrer hoje, eu quero este anjo me escoltando,mesmo que seja para ir ao inferno.Olha ela tem até asas. - e uma voz conhecida disse, antes que eu me virasse:
- Um homem forte e simpático como você não vai morrer hoje. Acalme-se sim? Está assustando as crianças. – olhei e vi que minha mãe usava um casaco branco aberto, o homem achava que eram asas, e Jeff começou a rir feito um bobo para minha mãe.- eu disse:
- Você pode esperar um pouco? Preciso terminar de cuidar do Jeff...
- É, ele perdeu no sorteio e tem que me aturar hoje, me dá um abraço Doc?Quero ver as asas da bonitona novamente. - disse Jeff e minha mãe sorriu e juro que vi aquele velho maluco suspirar.
-Precisa de ajuda Doutor Warrick? Olá, sou o doutor Karev,chefe do departamento posso ajudá-la senhora?-e ele estendeu a mão e minha mãe a pegou de volta o cumprimentando.
- Sou Alexandra Warrick, e muito obrigada pela oferta de ajuda, mas eu preciso mesmo conversar com meu filho assim que for possivel, mas aqui está tão cheio e vai demorar tanto...- e minha mãe lançou um olhar meloso para cima do Dr. Karev, que depois de ficar parado encarando-a, pigarreou e disse:
- Bom...se é assim... Deixe que eu cuido do senhor Kern, Warrick. Tire a sua pausa para o café e vá com ela.- nem esperei ele mandar duas vezes, tirei as luvas e fui com minha mãe em direção ao café, antes que alguém me chamasse para uma emergência.
Quando estavamos sentados e com xicaras de café forte à nossa frente, eu disse:
-Você arrumou um fã. ‘Jeff Cheiroso’ vai começar a vir aqui direto esperando vê-la. E o que foi aquilo de flertar com o meu orientador?- e ela riu:
- Você está aqui não? Uma mulher com saudades do filho, usa as armas que tem. Duas semanas sem aparecer em casa, isso é coisa que se faça à sua mãe?- beijei suas mãos enquanto conversávamos e ela pareceu ficar mais tranquila e disse:
-Encontrei Brianna e fomos fazer compras. Desculpe, mas nao resisti e quis saber se ela já esta arrependida de ter recusado o seu pedido.
- Mãe, não se envolva nisso...- comecei mas minha mãe continuou falando:
-... eu quero muito saber porque ela recusou o seu pedido. Ninguém magoa um filho meu e fica por isso mesmo.
- Não fica bem discutirem por besteiras, você é a madrinha dela, têm o mesmo sangue...
- Eu nunca discuto, meu bem. Apenas disse a Brie, que ela cometeu um erro enorme ao recusar o seu pedido e me decepcionou. E não me diga que não está triste, até emagreceu, nestes meses. E o fato de você não ter saído de minha barriga como os seus irmãos, não o torna menos meu. Amo você e qualquer coisa que o faça triste, me afeta. – ela disse e nossos olhos se encontraram e vi que os olhos dela, brilhavam com algumas lágrimas, que ela segurava.
- Eu te amo da mesma forma, mãe.A minha vida só começou de verdade quando você e papai me levaram para casa. E ando exigente quanto a me casar, quero alguém, como você, não aceito menos, ok? – rimos e eu fiquei sério e perguntei:
- Agora que nós já trocamos declarações de amor diga-me: o que está acontecendo? - ela suspirou e respondeu:
- Fui chamada ao St. Mungus por Dunstan, há dois dias. Ele estava sozinho e pediu para me ver. Ele estava muito doente.– de imediato fiquei tenso, pois aquele homem havia me sequestrado quando pequeno, mas minha mãe segurava as minhas mãos com força e disse:
- Ele realmente sentia muito por tudo, filho e pediu que o perdoássemos. Disse que ficou cuidando da fortuna dos Selwyn para você...
- Eu não quero, o Estado que fique com tudo.
- Foi isso o que eu disse a ele, mas ele me implorou que eu o convencesse a aceitar o dinheiro.
- Papai sabe?
- Sim, seu pai não quis que eu fosse sozinha. No começo, seu pai estava irritado com o pedido de Dunstan, mas depois ele disse que se você ficar com o dinheiro pode fazer algo que deixe Wilhelmina se remoendo no túmulo...Você sabe, que ela odiava os trouxas. E isso pareceu trazer paz ao Dunstan que morreu logo depois. Não posso dizer a você o que fazer, só posso pedir que pense um pouco e o que você decidir terá o nosso total apoio.- acabei concordando e logo esquecemos o assunto, enquanto mamãe me atualizava sobre os meus irmãos.
Alguns dias depois
Eu estava no turno da noite, e o hospital estava tão calmo, que Brian havia escapado da cirurgia e estava junto comigo e outros colegas jogando baralho, no quarto de um paciente idoso que estava em coma. O homem já estava nesta situação há mais de seis meses e como não tinha familia, os únicos que tinham contato com ele era o pessoal do hospital. E como nós precisavamos de um local para bater um papo, comer, ou se distrair entre um atendimento e outro, todos usávamos o quarto dele, afinal ele nunca reclamou do barulho rs.
Para minha sorte, eu havia acabado de engolir meu sanduiche, quando nossos bipes começaram a soar ao mesmo tempo. Fomos para o pronto socorro e não demorou chegaram as ambulâncias. Um bêbado havia ultrapassado o sinal vermelho e acertado um carro com uma mãe e três crianças. A mãe estava bem, com apenas algumas escoriações, mas as crianças mais velhas estavam bem machucadas.
Assim que examinamos as crianças, Brian já se encarregou do menino que devia ter uns 9 anos, Grayson, eu encaminhei a menina, Emma, que devia ter uns 6 anos para nossa colega Christina, que era a residente em cirurgia pediátrica de plantão, e eu fiquei com o mais novo,Parker que devia ter un 4 anos e por sorte teve apenas uma luxação no braço e arranhões. Ele era bem falante, e logo soube que seu sobrenome era Malone, mas o de mentira era Smith. E ele ficou todo preocupado quando me contou, e eu disse que iria anotar Smith na ficha e ele ficou mais tranquilo.
Estava dando mais uma verificada em Parker, quando a mulher entrou preocupada, puxando o seu soro, e só então pude olhar bem para ela. Ela era baixa e magra, com cabelos castanhos claros, não fraca, mas delicada, e tinha uns olhos cinzentos tristes. Mas que se iluminavam ao olhar para o filho. Reparei que em seu antebraço, marcas de dedos estavam amareladas, mas o que me chamou a atenção foi o seu pescoço, exibir uns vergões como se alguém tivesse tentado estrangula-la.
- O homem que causou o acidente, depois de medicado foi preso. Grayson e Emma, já estão no pós operatório e assim que acordarem, eu a levarei até lá, senhora M...Smith. - e ela me olhou assustada. Dado o meu lapso, resolvi ser direto:
- Há algo que eu possa fazer para ajudar? A senhora sabe que existem abrigos...
- Estão lotados, e ele sempre nos encontra.Assim que meus filhos tiverem alta, nós vamos embora...
- Grayson e Emma, vão precisar estar próximos do hospital por alguns dias, ou a senhora porá a vida deles em risco.Se quiser chamo a policia e eles fazem uma ordem de restrição contra quem os assusta.
- Você não entende...Nem a policia pode impedi-lo de chegar perto de nós...Acha que não tentei? Mas não se pode fugir de um marido policial, mesmo que ele seja violento.- e me senti de mãos atadas. Mandei que a colocassem no mesmo quarto com o filho e fui até o centro cirurgico falar com Brian e Christina, ter mais informações sobre as crianças e pensar numa forma de ajudá-los.
o-o-o-o-o-
O dia da alta da familia Smith, havia chegado e eu ainda me sentia sem saber o que fazer para ajuda-los. Havia tentado vários abrigos que conhecia, mas estavam lotados. Continuei tentando mas não havia nenhum lugar seguro para aquela familia, e mesmo Brian estava procurando, pois havia se afeiçoado às crianças, a ponto de usar um pouco de magia de cura para ajudá-los na recuperação, pois se eles iam continuar fugindo, aqueles garotos precisavam estar bem. Esbarrei num envelope na sala dos médicos e era para mim.
Abri e era uma escritura e junto vinham as chaves de uma casa na área bruxa próximo ao hospital. Fazia parte da herança que Dunstan havia me deixado. Coloquei no bolso e fui com Brian para o quarto de nossos pacientes, e quando chegamos ao quarto encontramos Gwen, a mãe, e as crianças agitadas.
- O que houve?- perguntei e Emma veio até mim chorando, enquanto os garotos corriam apra Brian.
- Precisamos ir embora, uns policiais perguntaram sobre a gente, nosso pai deve estar perto...-e tomei uma decisão:
- Gwen, junte as coisas deles e venham conosco. Vamos leva-los a um lugar seguro.
- Se formos para um abrigo, ele vai nos encontrar...
- Não ele não vai, posso garantir isso.- como a mãe ainda estivesse muito assustada, Brian a segurou pelos ombros e olhou em seus olhos dizendo:
- Ele não vai chegar perto de vocês, você tem a nossa palavra.
Pedi a dois colegas que cobrissem a nossa ausência e saimos dali bem na hora, pois alguns policiais estavam no saguão, exibindo fotos.
Não tivemos tempo para pensar muito, nos afastamos até uma área mais reservada, peguei Parker no colo e Emma, e Brian segurou Gwen e Grayson, e dissemos pára se segurarem firmes em nós e não soltar. Antes que eles perguntassem mais coisas, aparatamos.
Quando aterrissamos, eles sentiram-se um pouco nauseados e enquanto respiravam fundo para se recuperar, Gwen perguntou com medo:
- O que foi isso? Vocês nos drogaram?Ou melhor: o que são vocês?
- Não tenham medo de nós. Somos bruxos e usamos nossa magia para desaparecer e tirá-los o mais rápido possivel, pois os policiais estavam exibindo um cartaz com uma foto de vocês, e desta forma não deixamos pista para o seu ex marido nos seguir. Vocês estarão seguros aqui, pois esta parte é bruxa e os trouxas não podem nos rastrear...
- Acho melhor vocês nos levarem de volta...Isso deve ser um pesadelo...- e eu me abaixei e falei com Emma, que não se afastou de mim:
- Somos bruxos bons, iguais às fadas que ajudam as princesas, das histórias que você tanto gosta.- e a garotinha colocou as mãos em meu rosto e sorriu. Brian estava conversando e olhando para Gwen:
- Se tivessemos mais tempo, não teriamos chegado a este ponto, mas vocês seriam descobertos no hospital. Se nos derem uma chance podermos ajuda-los e quando os garotos estiverem totalmente curados, nós a ajudaremos a encontrar um bom advogado e se proteger com a lei.Mas se vocês não quiserem nossa ajuda, os levamos de volta e tentaremos despistar os policiais. E basta sair da casa e seguir a estrada que você chega no vilarejo, não são prisioneiros. – a mãe nos olhava desconfiada, mas foi o pequeno Parker que salvou o dia:
- Se você é um bruxo, pode fazer aparecer um copo de leite com bolo de chocolate? Estou morto de fome.- e mesmo tensos todos riram. O garoto vivia com fome.
- Olha, eu não vou dizer que me sinto segura com esta situação, mas entre meu ex marido e dois bruxos que até o momento só nos fizeram bem, eu prefiro me arriscar com vocês..- e após olhar para seus filhos mais velhos e eles assentirem, ela disse: - Meus filhos parecem confiar em vocês, e eles são bons em avaliar as pessoas.Obrigada!
Caminhamos até a casa, e quando a abri, de varinha em punho esperei feitiços de proteção mas não havia nenhum. A casa não era cheia de móveis, mas havia o essencial, embora estivesse tudo muito sujo, mas os armários de mantimentos estavam cheios. Depois que os acomodamos, nos despedimos e Brian deixou com eles, o nosso espelho de duas vias. As crianças ficaram maravilhadas, com a forma que tudo funcionava, especialmente quando fiz um bolo de chocolate e copos de leite levitarem até eles.
Nós os deixamos instalados e voltamos para o hospital. Para nossa sorte, não sentiram a nossa falta e enquanto esperavamos mais uma ambulância chegando com outros pacientes, Brian ao meu lado disse:
- Sabe o que aconteceu hoje primo?
- Nem imagino...- disse zombando e ele disse sério:
- Você acabou de criar um abrigo para pessoas que não tem para onde ir.E isso é muito legal.
- Abrigo? Não, só estamos dando uma força... E eu nem teria idéia de como fazer um abrigo...
- O principal você já fez Ethan, você abriu o coração, o resto será mais fácil, pode contar que eu o ajudo e quando 'a familia' souber, vai ajudar também. E só mais uma coisa: nunca mais me compare a uma fada ok?Asas transparentes não combinam comigo. – ri, mas não tive muito tempo de aproveitar o momento descontraído, pois novos pacientes precisavam de nós.
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