Posted: quinta-feira, 23 de maio de 2013 by Rupert A. F. Storm in
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Queria poder dizer que 2019 estava sendo um ótimo ano, com Nick conseguindo a guarda das crianças, Clara começando o estágio no hospital trouxa, Becky e Connor pensando em ter filhos e meus livros cada vez mais famosos, mas a verdade não era exatamente essa. Enquanto algumas coisas iam bem, outras estavam uma bagunça. E quando digo bagunça, quero dizer caos.


O efeito dominó teve início em abril. Amber começou um projeto para a aula de Ciência Forense onde coletou amostras de DNA de seus pais adotivos e pretendia comparar com seu próprio sangue para provar que as pessoas podem ter semelhanças mesmo que não compartilhem a mesma genética. O problema surgiu quando a amostra de sangue de seu pai adotivo mostrou que eles tinham um grau de parentesco. Pelos testes que foram feitos depois que ela informou a descoberta ao Tenente Sanders, a conclusão que chegaram foi que ele era tio dela.

Amber ficou tão possessa que dava medo e a incapacidade do homem de dar as respostas que ela queria só piorou tudo. A coisa saiu tanto do controle que Wes foi forçado a tirar ela do caso. Ela argumentou, bateu boca com o Tenente – e quase foi expulsa da Academia por isso – mas a história era muito mais complexa que um simples caso de desaparecimento e ela foi obrigada a aceitar que não podia mais fazer parte da investigação. E as poucas respostas que Jeremy Beckett conseguiu responder só reforçaram ainda mais a teoria de que os pais de Amber trabalhavam para o Serviço Secreto.

Depois que foi retirada do caso, Amber meio que surtou. Ela não conseguia deixar o assunto de lado e continuou uma investigação por conta própria, desobedecendo às ordens do Tenente. E quando tentei fazer com que ela parasse, tivemos uma briga de proporções épicas. A discussão foi tão feia que ela saiu do loft batendo porta e se escondeu no dormitório da quartel pelo resto do mês de maio, com a desculpa de que tinha coisas demais para estudar. Depois de um tempo parou também de atender minhas ligações e eu acabei desistindo. Já estava ficando atrasado com o deadline do livro e precisava me concentrar. Quando ela quisesse conversar, e pedir desculpas, sabia como me encontrar.

Ela me procurou outra vez no começo de junho, assim que o semestre na academia terminou. Estava irritado com alguns detalhes do livro que não estavam me agradando quando ouvi a campainha tocar e dei de cara com ela quando abri a porta. Não tinha a melhor das expressões no rosto, mas também não esperava que fosse reaparecer depois de um mês soltando rojões.

- Ah, então você lembra onde eu moro – não me contive e ela ameaçou ir embora, mas segurei seu braço – Estou brincando. Por que não usou sua chave?
- Não sei onde deixei. Rup, sinto muito. Não devia ter falado com você daquela forma, muito menos ido embora e ignorado suas ligações.
- Não, não deveria. Só estava fazendo o que me pediu, lembra?
- Sim, eu lembro.

Ficamos em silêncio alguns segundos e ela se aproximou para me abraçar. Seu corpo estava tão tenso que ela não conseguia relaxar.

- Preciso contar uma coisa a você e espero que me entenda – ela se soltou do abraço e sentamos no sofá.
- O que aconteceu?
- Consegui uma vaga no projeto para concluir o curso fazendo o ultimo ano na academia do FBI em Quântico.
- Quântico, Virginia? Nos Estados Unidos? – ela assentiu – E você vai? É claro que você vai.
- Eu preciso ir. Além de ser uma oportunidade única, preciso me afastar das coisas por aqui.
- Eu também estou entre as coisas de que você precisa se afastar?
- Não, você é uma das poucas coisas que quero por perto.
- E como isso pode acontecer se está indo embora? Virginia não é nem em outro país, é em outro continente!
- Quero que venha comigo.

Por um instante eu considerei. Juro que por alguns segundos pensei “que se dane, vou embora com ela para outro continente”, mas a razão veio mais rápido que gostaria. Como eu poderia simplesmente me mudar para tão longe, quando ainda tenho um contrato de mais cinco livros que me prendem ao Reino Unido?

- Não posso ir.
- Por que não? Você pode escrever de qualquer lugar.
- Não posso, não enquanto ainda estiver escrevendo Harry Potter. Tudo que preciso para terminar eles está aqui e tenho uma infinidade de eventos marcados.
- Você não pode voltar para cá nas datas deles?
- Gabriel vai me matar. Minha editora é aqui, se disser a ele que vou me mudar para tão longe, ele vai me matar. Preciso ficar aqui pelo menos até terminar a série.
- Isso são mais cinco anos.
- Mas eu iria. Iria com você para onde pedisse.
- Eu realmente preciso ir.
- Eu sei. Lembro que falou sobre esse projeto quando ainda estávamos em Hogwarts. Só pensei que, depois que começamos a namorar, você fosse querer ficar aqui.
- Não posso ficar aqui, não agora. Tenho medo de voltar a ser aquela pessoa do mês passado estando tão perto da investigação.
- Eu posso ajudar você com isso, não vou deixa-la voltar ao estado em que estava.
- Você não pode me ajudar, viu o que aconteceu quando tentou. Vou acabar afastando você outra vez.
- Você já está me afastando.
- Rup, não torne isso ainda mais difícil do que já é.
- Desculpa, mas minha namorada, se é que ainda posso dizer que tenho uma, vai embora por e espera que eu ache que não tem nada demais nisso – ela levantou do sofá e começou a caminhar na direção da porta – Ah, vai fugir de novo!
- Vou embora porque não vim aqui com a intenção de brigar. Conversamos outra hora.
- Se conversar outra hora significa apenas adiar o inevitável, vamos poupar tempo. Nosso namoro acabou, está livre para ir para onde quiser sem remorso.

Amber ficou parada onde estava sem reação e caminhei até a porta, a abrindo e esperando que ela saísse. Esperava que ela dissesse algo, me xingasse, batesse, qualquer coisa para revidar minha resposta ríspida e estúpida, mas não fez nada, apenas caminhou até a porta. Ela me encarou de frente antes de sair e deixou um suspiro escapar antes de me abraçar. Não queria abraçá-la de volta, mas nem mesmo toda a força de vontade do mundo teria me impedido. Abracei-a tão apertado que é provável que a tenha machucado, mas ela não reclamou, pois me apertava com a mesma intensidade.

- Eu amo você – disse em meu ouvido – E eu vou voltar.

Ela se soltou do abraço e sem me encarar outra vez desaparatou na minha frente. Ainda continuei na mesma posição, com a porta aberta encarando o corredor vazio por alguns minutos. Quando a ficha do que tinha acabado de acontecer finalmente caiu, a sensação que tomou conta de mim era a pior do mundo. Era a sensação de quem tinha acabado de deixar o amor da sua vida escapar.

Amber foi embora para Los Angeles uma semana depois, para passar o verão com o irmão. Ela começou o último ano de treinamento no FBI junto de Kaley, James, Julian, Elena e Penny em setembro. A promessa de que voltaria foi cumprida, mas apenas nove anos depois.

Catch myself
From despair
I could drown
If I stay here
Keeping busy everyday
I know I will be OK

Out of Reach – Gabrielle