Posted: sexta-feira, 25 de outubro de 2013 by Artemis Chronos in
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Tudo começou com uma sensação repentina. Um brilho de esperança. Do nada aquela sensação surgiu e lembrarei pra sempre a forma como nasceram lágrimas nos meus olhos e um largo sorriso...
E da mesma forma que surgiu... Ela desapareceu.

2024

- Nós viemos assim que soubemos! - Keiko falou se jogando nos meus braços. Tuor havia aberto a porta da nossa casa, mas ela simplesmente o ignorou e correu até mim.
Nossa casa estava lotada com todos os nossos amigos e eles se levantaram para ir falar com Hiro e Keiko, os últimos a chegar.
Enquanto Tuor e Hiro se cumprimentavam, Keiko dava pulinhos ao meu redor e eu estava tão feliz que fui contaminada pela alegria dela e pulava junto, enquanto ríamos e chorávamos ao mesmo tempo. Assim que ela começou a dar os pulinhos de alegria, todas as outras garotas, que estavam sentadas ao meu redor, começaram a dar pulinhos animados também.
Só depois de algum tempo que nós nos acalmamos e Keiko me deu um último abraço forte e deixou Hiro falar comigo, enquanto ia cumprimentar Tuor.
Hiro também me abraçou com força e me deus os parabéns, sorrindo alegremente. Percebi então que ele tinha deixado uma caixa de madeira branca com Tuor e agora Keiko a tirava dele, com pressa, como se não quisesse que ele visse algo.
- O que vocês estão aprontando? - Eu perguntei, curiosa e eles sorriram, sendo Hiro a responder.
- Assim que recebemos a sua mensagem nas nossas penas, queríamos vir logo pra cá, mas antes queríamos ter um presente em mãos. - Ele falou após dar um beijo em Clara.
- Por sorte, eu já tinha tido essa idéia antes e sabíamos onde procurar. - Keiko completou. - Por isso nos atrasamos. Fomos buscar seu presente! - Ela falou toda alegre e estendeu a caixa a frente.
- E como você é uma garota muito sem graça, precisamos enfeitiçar a caixa para impedir de você perceber o que era antes da hora! - Hiro falou rindo, quando peguei a caixa. Ela era pesada, talvez uns 2 ou 3 quilos e eu estava morta de curiosidade.
- Vocês sabem como sou curiosa! O que tem aqui?
Eu mal terminei de perguntar e senti um movimento na caixa e um latido baixo. Tuor, também curioso, veio pro meu lado e segurou a caixa enquanto eu a abria. Quando deixei a tampa cair no chão, dei de cara com um lindo filhote de Akita.
Ele era lindo! Completamente branco, todo peludinho e fofo, tinha um olhar brilhante, sério e divertido ao mesmo tempo. Senti uma empatia enorme por ele e coloquei minha mão dentro da caixa para pegá-lo. Ele pulou alegre para o meu colo e começou a lamber meu rosto, enquanto eu abria um sorriso enorme.
- Ele é lindo! - Eu falei, agora ficando com lágrimas nos olhos. O filhote olhou ao redor curioso, abanando o rabo e se aconchegando no meu colo.
- É ela. É uma fêmea! - Keiko falou. - Que nome vai dar?
- Amaterasu! - Eu nem precisei pensar. No primeiro momento que a vi eu percebi que daria esse nome. As garotas fizeram uma cara de que não gostaram do nome, mas Clara riu, juntamente com os garotos.
- Combina realmente! É o nome daquele lobo branco do jogo Okami, não é? - Rupert perguntou e eu assenti.
- É também a deusa do Sol japonesa. - Hiro completou.
- Mas o apelido dela vai ser Amy! - Eu falei e deixei Tuor pegar Amy no colo. Ela o cheirou e o lambeu, mas pouco depois já queria voltar para o meu colo.
- Os Akitas são os samurais caninos e dizem que escolhem um dono só. - Hiro falou, enquanto Amy me lambia de novo.
- Já sabemos quem ela escolheu então! - Clara falou rindo.
- Ih, Tuor, então é a Arte que manda na casa hein? - Jamal brincou e todos riram.
- Achamos que seria um presente maravilhoso! Ela vai poder crescer junto do seu filho, ou filha! - Keiko falou, acariciando minha barriga.
Eu me emocionei e fiquei com lágrimas nos olhos, abraçando-a junto de Hiro, enquanto ainda mantinha Amy no colo.
Todos queriam brincar com Amy e ela logo corria pela casa, alegre e cheia de energia. Eu ainda me sentia um pouco emocionada ao vê-la correr de um lado para o outro e, acariciando minha barriga e abraçada a Tuor, fiquei imaginando que dentro de 7 meses haveria uma criança para correr com ela.

2 meses depois

Deviam ser umas 6 da manhã e eu já estava de pé e banho tomado, pronta para sair de casa. Quando sai do banho ouvi Amy latindo e assim que terminei de me arrumar olhei pela janela do meu quarto, achando isso estranho. Ela latia na direção da casa e quando me viu na janela soltou um latido feliz, animada por me ver.
Meus dias eram extremamente corridos, com muitas coisas para fazer e eu me desdobrava para fazer tudo. Geralmente acordava bem cedo e ia correr no parque que ficava próximo da minha casa, antes de ir para Avalon cuidar dos meus dragões, por volta das 7 da manhã. Ficava em Avalon até por volta de meio dia, quando ia para o Ministério ou onde quer que Hermione me mandasse ir trabalhar. Depois disso passava a tarde inteira trabalhando como auror, para no final da tarde voltar a Avalon para dar uma última conferida antes de ir pra casa.
Nossa casa, um presente de meus pais e meus sogros, ficava em Kensington, próxima ao Hyde Park e ao Kensington Gardens, o que era maravilhoso. Quando decidimos morar em uma casa, queríamos um lugar calmo e de preferência próximo a algum parque, para que eu pudesse manter minha atividade física sem problemas. A casa, encontrada por mamãe sem querer, era mediana, mas o seu terreno era enorme, com um gramado na entrada e um jardim aos fundos. Ela ficava próxima o suficiente do metrô para que eu e Tuor o usássemos para ir trabalhar e a vizinhança era bem tranquila, o que nos permitia aparatar se desejássemos. Tuor estudava em Londres para ser professor de Transfiguração, mas às vezes ia a Hogwarts para reuniões com Tio Ben ou para assistir alguma aula.
A casa era de dois andares, em um estilo antigo, porém simples. Ela já viera decorada, tanto de móveis dos antigos donos, quanto de alguns presentes de nossos pais e parentes, mas já havíamos dado o nosso toque pessoal a ela. No andar de baixo, ela tinha uma sala bem espaçosa, uma cozinha com saída para os fundos e uma suíte que transformamos em um escritório, além de um banheiro. No andar de cima ficavam os quartos propriamente ditos: havia a nossa suíte e mais dois quartos, assim como mais um banheiro. Não queríamos cair naquela pretensão dos pais de que os filhos nunca iam crescer e por isso queríamos que ele ou ela tivesse seu próprio espaço. Um dos quartos já estava sendo decorado para um quarto de criança, com tons neutros, já que ainda não sabíamos qual era o sexo do bebê. Havia brinquedos espalhados por todos os cantos e tínhamos acabado de terminar um painel pintado na parede com árvores e lagos, inspirado na praça central de Avalon. O outro estava sendo usado como biblioteca e sala de jogos, e estava cheio de livros e outras coisas, além da minha coleção de flores encantadas.
Os fundos da casa eram com certeza a maior parte do terreno. Havia grama em todo o terreno de trás e um caminho de pedra que levava da porta da cozinha até algumas mesas e cadeiras, com um pequeno lago artificial. Haviam algumas flores plantadas perto da porta da cozinha e uma pequena horta no canto direito. Porém, era o fundo do terreno que era mais bonito e minha parte favorita. Ele era dividido em duas partes: à esquerda havia um círculo de pedras que eu erguera com pedras e areia de Avalon. O círculo era conectado à rede de círculos que havia na Grã-Bretanha e Avalon, permitindo que qualquer pessoa com a minha autorização pudesse ir da minha casa para a Ilha e vice-versa, já que havíamos colocado proteções contra aparatação na nossa casa. Além disso, o círculo me servia para me reestabelecer e me manter ligada a Avalon. Na parte direita havia uma grande árvore de cerejeira, uma surpresa de Tuor. A árvore era linda, principalmente quando florescia ou quando as flores caiam e nosso quintal ficava cheio de pétalas de rosas. Foi ali, envolta da árvore, que construímos uma casinha de madeira para Amy e um cercado de metal. Nos primeiros dias que Amy ficou conosco, ela dormiu na cozinha, mas logo depois construímos esse pequeno espaço para ela e ela adorava brincar aos pés da cerejeira.
Durante o dia, ela ficava com o quintal todo para ela (e várias vezes quando chegávamos em casa, ela havia devorado alguma planta), mas a noite nós a prendíamos no cercado. Sempre que eu acordava, por mais cedo que fosse, Amy estava acordada me esperando e aquilo se tornou tão importante pra mim quanto meus exercícios diários. Após Amy tomar todas suas vacinas, comecei a levá-la para correr comigo no parque de manhã. Amy era tão calma e séria que ela andava comigo sem coleira e podia correr livremente ao meu lado. Ela era cheia de energia e alegria, mas fora de casa se comportava bem e nunca precisei me preocupar de andar sem coleira.
Depois da corrida matinal, eu voltava pra casa e tomava um banho antes de sair, deixando-a solta no quintal. Quando Tuor acordasse, ele iria brincar um pouco mais com ela antes de sair. Amy então ficaria sozinha até o almoço, pois eu e Tuor tínhamos cultivado o hábito de almoçarmos juntos, fosse em casa ou algum restaurante e sempre íamos visitá-la um pouco. Quando nenhum de nós dois podia ir ficar com ela na parte da tarde, uma das minhas sobrinhas ia visitá-la ou então eu deixava uma chave com Flonne e ela ia cuidar de Amy, juntamente de Diana, minha afilhada.

Assim que abri a porta dos fundos da minha casa, vi que Amy já me olhava ansiosa.
- Ei, Amy, bom dia! – Eu falei alegre, me aproximando dela. – Hoje não vamos poder correr, porque tenho uma reunião cedo, mas amanhã prometo que a gente compensa!
Amy havia crescido bastante em 2 meses e quando ficava em pé em duas patas, já batia na minha cintura. Ela latiu brevemente e se apoiou no cercado, abanando o rabo. Eu a soltei e ela se aproximou com cuidado de mim. Às vezes eu a achava quase humana, pois eu tinha certeza que ela sabia que eu estava grávida e que não podia pular em cima de mim. Ela geralmente ficava em pé e levantava minha camisa para lamber minha barriga, fazendo cócegas que eu adorava.
Por falar em gravidez, eu estava em meu quarto mês, extremamente feliz. A barriga começava a crescer e já estava um pouco grande. Graças aos deuses os enjoos pararam e eu começava a me sentir menos irritadiça. Estava muito animada, pois tinha uma consulta com minha ginecologista, minha mãe, para a semana seguinte. Mamãe tinha nos dito que nessa consulta provavelmente conseguiríamos ver o bebê em um ultrassom, inclusive saber seu sexo. Eu ainda não tinha decidido se queria saber o sexo do bebê, mas estava ansiosa para poder ouvir o bater de seu coração e vê-lo. Eu conseguia perceber muito bem o bebê se formando dentro de mim, principalmente quando eu meditava, mas poder ver uma imagem dele, isso era algo que eu esperava ansiosamente.
Eu estava colocando comida para Amy quando percebi que ela ficou tensa. Olhei para ela preocupada e ela estava me olhando fixamente. Tenho certeza que seus olhos estavam cheios de preocupação e logo em seguida, ela correu para o meu lado, cabisbaixa. Ela começou a chorar baixinho e eu me sentei no chão, preocupada com ela.
Ela logo subiu no meu colo e se aconchegou com a cabeça em minha barriga. Comecei a fazer carinho nela, e comecei a usar meus poderes para examiná-la. Ela parecia não ter nada de mais, mas estava preocupada, pois ela não parava de chorar baixinho e nunca foi de fazer isso.
Fui até a cozinha com ela no colo e deixei um bilhete para Tuor, pedindo que a levasse em um veterinário. Eu mesma queria levar, mas Hermione marcara uma reunião muito importante hoje de manhã e como chefe da sua segurança pessoal, eu não podia faltar.
Voltei para o quintal ainda preocupada e com ela no colo e olhei em volta, querendo ver se tinha algo errado. Tudo estava normal.
Coloquei Amy no chão e fiz carinho até ela se acalmar um pouco. Com dó no coração eu fui na direção da cozinha novamente. Amy ficou parada onde eu a deixei, me olhando com seus olhos negros e profundos. Só quando eu passei pela porta da cozinha que ela se mexeu e correu até a porta, latindo baixo.
Decidi acordar Tuor e contei pra ele o que estava acontecendo. Ele se levantou imediatamente e foi vê-la, enquanto eu ia embora. Ele prometeu me mandar alguma notícia assim que fosse a um veterinário. Não conhecíamos nenhum que estivesse aberto a essa hora da manhã, mas ele disse que procuraria alguém.

Horas depois

A reunião com os aurores e Hermione foi tranquila, como esperava que fosse. Revemos alguns planos e redividimos o nosso pessoal. Isso havia sido uma idéia minha que Hermione logo aceitou: passamos a revezar os aurores, para que todos desenvolvessem habilidades diversas, desde investigação à vigília.
As penas que eu dera para meus amigos em Hogwarts ainda funcionavam e muitas vezes nos comunicávamos por elas. Assim, Tuor me mandou uma mensagem por volta das 8 e meia dizendo que Amy estava bem e que estavam em um veterinário. Ela ainda estava cabisbaixa, mas sua saúde estava bem. Estranhamente, muito por sinal, recebi uma mensagem de um dos tratadores de dragões de Avalon informando que Fidelus estava inquieto e ansioso desde cedo. Eu fiquei preocupada na mesma hora, não era normal Fidelus e Amy sentirem-se estranhos assim. Os dois se davam muito bem, desde a primeira vez que eu os havia apresentado. Amy adorava brincar com Fidelus e meu dragão sabia como lidar com um filhote muito mais fraco e frágil que ele.
Comecei então a ficar preocupada de algo estar para acontecer comigo ou com algum amigo meu. Ao final da reunião, devia ser umas 10 da manhã, eu pedi que me deixassem um pouco sozinha e me sentei em minha sala, para meditar e usar meus poderes.
Eu não gostava de fazer isso, pois saber o futuro nem sempre é bom. Você perde um pouco do fator decisão, uma vez que o que você vê é apenas um futuro possível. Mas agora que você o viu, suas tentativas de mudá-lo, apenas aumentam a chance dele acontecer. E inconscientemente você começa a tomar decisões que vão te levar a ele.
Mesmo assim estava preocupada e decidi fazê-lo. Chronos falava mentalmente comigo de que também não sentia nada, mas concordou que era melhor não arriscar.
Fechei meus olhos e comecei a me concentrar em Tuor... Não senti nada de estranho para ele no futuro próximo. Ia começar a fazê-lo para mim, quando senti uma presença.
Ela era frágil e pequena, como uma consciência que acabasse de surgir. Num minuto eu não sentia nada, mas no seguinte, podia senti-la claramente. Abri os olhos surpresa e alerta, procurando algo de estranho na minha sala. Havia anos que não tínhamos problemas com vampiros ou outras entidades, mas eu continuava alerta. Então, percebi que a presença vinha de dentro de mim.
Toquei ao mesmo tempo minha barriga com uma das mãos e com a outra tapei minha boca, enquanto um largo sorriso surgia em meus lábios e lágrimas começaram a descer de meus olhos. Senti o coração bater mais forte, o meu e o dela. Pois era ela! Era uma menina! Era a minha filha!
Eu podia sentir sua presença, podia senti-la tomando consciência das coisas ao seu redor, de mim e de si mesma. Pude senti-la se mexendo lentamente em meu ventre, aconchegando-se a mim. Percebi que ela sabia quem eu era, podia sentir sua consciência tratando-me por “mãe”... Concentrei-me em Tuor, queria passar essa memória para ele, passar essa sensação! Era o momento mais feliz da minha vida!
E então senti uma nova presença, diferente, misturada a essa.
E veio a dor.
Até hoje não sei se o grito de dor foi meu ou da minha filha. Mas gritei a plenos pulmões, de dor, de medo e de tristeza. Com dificuldade me apoiei na mesa e não cai no chão, sentindo sangue descendo pelas minhas pernas, e a dor crescia cada vez mais. Eu sabia o que isso significava, queria não saber, mas eu sabia.
A porta da minha sala se abriu imediatamente e os aurores entraram correndo de varinha em punho. Hermione vinha na frente e vi seus olhos arregalados em mim.
- Mione. Salve o meu bebê. – Foi a última coisa que eu lembro de ter dito, antes de cair na escuridão completa.

Uma semana depois – Visão de Tuor Mithrandir

A casa parecia ter absorvido o nosso clima. Ela estava silenciosa, escura, e parecia tão vazia. O único barulho era o de Amy latindo.
Entrei abraçado a Artemis. Ela se apoiava em mim e tinha o olhar vazio, sem perceber nada. Ela havia pedido para ficar sozinha e eu também preferia ficar sozinho, por isso nenhum de nossos amigos ou familiares estavam conosco.
Eu a sentei no sofá da sala e me ajoelhei diante dela, apertando suas mãos entre as minhas com força, beijando-as em seguida. Ela me olhou e mantemos nosso olhar, ela tentou sorrir e aquilo quase me fez chorar. Mas eu tinha que ser o mais forte possível, ela precisava da minha ajuda.
Arte sempre foi a garota mais forte que eu conheci, e acho que foi essa força que me fez me apaixonar por ela. Agora, iniciando sua vida como mulher adulta, ela estava ainda mais forte e radiante. As responsabilidades e correria pareciam lhe dar mais energia e deixá-la ainda mais bonita.
Mas agora ela estava melancólica como nunca esteve antes. Parecia não ter mais energia para nada.
- Vou lá em cima pegar umas coisas e depois vou fazer um chá pra você. Já volto. – Eu falei, beijando-a carinhosamente na testa.
Subi as escadas rapidamente para pegar sua coleção de flores para tentar animá-la, enquanto me lembrava da horrível conversa que tivemos ontem com Mirian.

No Dia Anterior
- Eu preciso ter uma conversa séria com vocês. – Mirian falou, fechando a porta do quarto onde Artemis estava internada. Arte estava acordada, mas muito cabisbaixa, e eu estava sentado na beirada de sua cama, apertando sua mão. Havíamos perdido nossa filha, ela havia falecido sem nem ter a chance de viver. O aborto fora espontâneo e quando Hermione conseguiu levar Arte para o Hospital, por mais rápido que tenha sido, nossa filha já estava morta.
O que nos dava força para continuar em frente era pensar que ainda poderíamos ter outros filhos.
- Eu estava em uma reunião com outros médicos, mas eu queria falar com vocês pessoalmente, afinal é da minha filha que estou falando. – Mirian falou e vi como ainda estava triste.
- Fale logo, mãe. – Arte pediu e Mirian assentiu.
- Não tem como falar isso de forma bonita ou boa, e prefiro ir direto ao ponto. – Mirian falou, sentando-se na outra beirada da cama. Ela então apertou a mão de Arte com força e vi que segurava as lágrimas. – Você ficou estéril, minha filha, não poderá mais ter filhos.
Foi como se Arte entrasse em choque. Ela abriu a boca para tentar falar, mas nenhum som saia de seus lábios. Naquele momento eu percebi que Arte já sabia disso, mas vinha mentindo para si mesma de que tudo ia ficar bem, de alguma forma milagrosa.
Ser mãe era um dos maiores sonhos de Arte e agora estava destruído. Ela começou a chorar e me puxou para me abraçar. Nos abraçamos forte, enquanto os soluços e lágrimas dos dois se misturavam. Mirian afagou nossas cabeças com carinho e nos deixou a sós.

Naquela noite, quando Arte finalmente dormiu, exausta, eu procurei Mirian e ela me levou para ver alguns exames, me explicando com detalhes o que tinha acontecido.
Nossa filha fora morta pelo organismo de Artemis, não tem outra forma de explicar. Ela era meio-vampira e o sangue de Artemis a matou.
Mirian estava arrasada, não apenas por ter perdido a neta de forma tão horrível, mas por não ter pensado nisso antes e não ter podido ajudar sua filha. Ela foi uma das responsáveis pela pesquisa de gestações vampíricas e tratou da gestação de Luna. Mais ainda, foi Mirian quem fez as pesquisas mostrando que o sangue dos Chronos realmente se comportava como metal goblin, absorvendo qualquer característica que o tornasse mais forte. E ela nunca imaginou que um filho de Artemis poderia ser meio-vampiro. E que o organismo de Artemis, tão puro devido a enorme quantidade de água sagrada e sangue de dragão que ela consumiu nos últimos anos, iria danificar de forma tão intensa um feto meio-vampiro.
E ninguém sabia exatamente como se comporta um feto vampiro, ou mesmo meio-vampiro. Só houve três casos de mulheres grávidas de vampiros até hoje: a própria Mirian, Luna e Megan Langston, e nos três casos sabiam desde o início da gestação que era possível nascer um filho vampiro, por isso todos os cuidados haviam sido tomados. Mas no caso de Arte, não havia nenhuma preocupação com isso e em dado momento, nossa filha não resistiu ao corpo da própria mãe.
Mas era pior do que isso.
A situação fora tão intensa que os ovários e o útero de Arte foram completamente destruídos no processo. Durante a operação para tentar salvar a criança, os ovários de Artemis foram retirados. O útero fora mantido, mas não tinha como ser curado. Mas ainda tinha algo pior. Com horror Mirian me contou que nada restou de nossa filha, apenas cinzas...

Eu balancei a cabeça, tentando esquecer mais uma vez daquela conversa, mas era impossível fugir daquele pesadelo. Senti lágrimas nos meus olhos e fui até o quarto que tínhamos separado para nosso filho. Senti uma dor no coração e entrei lentamente. Peguei um pequeno travesseiro e o apertei contra meu peito. Sai dali e tranquei a porta. Arte não estava preparada para entrar naquele quarto. Antes de descer, tentei me acalmar e forçar o melhor sorriso que eu podia. Enquanto descia a escada, tive uma idéia.
- Por que não tiramos umas férias, Arte? Podemos ir para a Croácia, você sempre quis conhecer... – Parei de falar quando vi que Arte não estava sentada no sofá e fiquei preocupado.
A porta da frente continuava trancada e corri para a cozinha preocupado, ainda mais quando vi a porta aberta e passei correndo por ela.
Então a vi.
Arte estava sentada no chão, encostada no tronco da nossa árvore de cerejeira. Amy estava parada em frente a ela, enquanto Arte a abraçava com força e soluçava. Amy estava quieta e tranquila como se a consolasse e pudesse saber o tipo de coisa que Arte estava sentindo. Eu fui andando lentamente até elas e quando cheguei perto, as duas me olharam e pareciam ter o mesmo olhar, mas diferentes.
Arte tinha o olhar da tristeza, falta de esperança e desespero, enquanto os olhos de Amy me transmitiam serenidade e sabedoria, como se me dissesse que tudo ia ficar bem. Sentei-me ao lado de Arte e nos abraçamos, com Amy no meio de nós. Nos entregamos a tristeza e choramos as lágrimas que vínhamos segurando, enquanto Amy nos apoiava silenciosamente, mas de uma forma de puro carinho e amor.

Let my eyes take in, the beauty that's here
That's left on this earth, my ears long to hear
A melody... Give me sight...

Nothing will be forever gone
Memories will stay and find their way
What goes around will come around
Don't deny your fears
So let them go and fade into light
Give up the fight here

N.A.: Chasing the Dragon, Epica.