Posted: sábado, 8 de janeiro de 2011 by Nicholas O'Shea in
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A ambulância chegou ao Hospital Geral de Londres transportando Connor 20 minutos depois do acidente. Eu fui junto dele, não houve quem me impedisse. Ethan já estava esperando do lado de fora e o acompanhou direto até o centro cirúrgico, me deixando na sala de espera sem saber o que fazer primeiro. Só depois de completar três voltas pela sala foi que consegui discar o numero da casa dos pais de Connor, para avisar o que havia acontecido.

- Como ele está? – Nick entrou na sala escancarando a porta, seguido por Otter e Nigel.
- Não sei, ninguém diz nada! Ethan e Brian estão lá dentro há quase meia hora, mas não podemos passar daqui.
- E os pais dele?
- Já estão a caminho.
- Então só nos resta esperar.

Otter apertou meu ombro e me empurrou até a poltrona, me forçando a sentar junto com eles. Eu não conseguia ficar parada. Um sentimento de culpa enorme tomava conta de mim. Se tivesse seguido as instruções do treinamento e atirado quando o homem avançou, ele não estaria naquela situação. Se alguma coisa desse errado na cirurgia, nunca seria capaz de me perdoar.

Ficamos mais de uma hora na sala de espera e nesse tempo Brianna e os pais dele chegaram apavorados. Expliquei o que havia acontecido, incluindo que ele havia levado o tiro porque eu não havia atirado no seqüestrador primeiro, os pais dele foram autorizados a ir um pouco mais além para conversar com um outro médico, enquanto Connor ainda estava na cirurgia.

- Pare de se culpar! – Brianna brigou comigo, sentada ao meu lado – Você não é a culpada pelo que aconteceu!
- Brianna tem razão, Becky, pare com isso! – Nick falou andando de um lado para o outro – Foi um acidente, não foi você quem atirou nele.
- Falem o que quiser, mas se ele não sobreviver a isso, eu nunca vou conseguir me perdoar sabendo que poderia ter impedido.
- Então pode ficar tranqüila, ele vai sobreviver – Ethan abriu a porta do Centro Cirúrgico e todo mundo levantou.
- Ele está bem então? Podemos vê-lo? - perguntei afoita e todo mundo encarou Ethan ansioso.
- Calma todo mundo! O quadro dele está estável, mas ainda vai ser mantido na UTI por um tempo, portanto só os pais dele podem entrar. Brian está com eles.
- Mas ele vai ficar bem? – insisti.
- Ainda não posso responder essa pergunta com 100% de certeza – Ethan falava sério e aquilo só estava me deixando cada vez mais em pânico – Mas correu tudo bem na cirurgia e o esperado é que ele acorde amanhã sem nenhuma complicação.
- Ethan, você está deixando ela ainda mais assustada – Brianna apertou meu ombro e olhou para ele tentando dizer alguma coisa.
- Becky, não precisa se preocupar, tenho certeza que ele vai sair dessa totalmente recuperado – ele me encarou e já não tinha o ar tão serio. Era menos o Ethan médico e mais o Ethan meu amigo – Ele não vai acordar hoje porque está sedado, mas amanhã vamos poder avaliar melhor.
- O fato de estar estável é bom, não? – Nick perguntou mais calmo que eu.
- Sim, muito! Significa que os riscos de alguma complicação são menores.
- Viu? Ele vai ficar bem? – Brianna falou animada.
- Agora eu aconselho todo mundo a ir pra casa e descansar. Voltem amanhã no final do dia, ele já deve estar acordado.
- Não, não vou sair daqui enquanto ele não abrir os olhos – bati o pé. Ninguém ia me tirar dali.
- Becky, você não vai poder fazer nada aqui. Não vai poder entrar na UTI, vai ficar 24 horas na sala de espera? – Nigel falou e os outros apoiaram.
- Eu não vou embora.
- Deixa ela, gente – Brianna me apoiou – Voltem pro trabalho, digam que Connor vai ficar bem e eu fico aqui com ela.

Eles ainda relutaram um pouco, mas acabaram cedendo e foram embora. Ethan ainda conversou comigo mais um pouco, mas Micah e Wes, os irmãos de Connor, chegaram esbaforidos atrás de noticias e ele os acompanhou até a UTI, deixando Brianna e eu sozinhas na sala de espera.

- Vai mesmo passar a noite aqui, e sei lá quantas horas, até ele acordar? – ela perguntou e eu assenti – Uau.
- O que?
- Estava pensando se Ethan passaria um dia inteiro sentado numa sala de espera só esperando que eu acordasse.
- Claro que ele ficaria. Ele ama você.
- Ah, exatamente onde eu queria chegar.
- Ai Brianna, por favor, não estou com cabeça pra isso agora.
- Pois eu acho que essa é a hora certa, temos bastante tempo pra conversar agora. Eu não vou a lugar nenhum, e você?
- Eu tenho namorado, pare com isso.
- E desde quando isso impede que você ame outra pessoa? Você sempre gostou do Connor, só se conformou com o Alex.
- Eu amo o Alex, ok? Estamos juntos há 5 anos e eu sou feliz com ele.
- Mas ele não é o Connor – ela completou a frase pra mim – Não acho justo você estar com um cara legal como ele, pensando em outro.
- Em outro que não quer nada comigo. Não vou terminar algo concreto por uma coisa que pode nem acontecer.
- Você nunca nem tentou! – ela excedeu um pouco a voz, mas logo voltou ao tom normal – Merlin me livre, mas você poderia ter perdido a oportunidade de dizer a ele o que sente se algo mais grave tivesse acontecido hoje cedo.
- Nem me lembre disso, por favor.
- Esse deveria ser seu incentivo. Quando ele acordar, converse com ele. Diga a verdade, diga o que sente, o que sempre sentiu. Está tão certa de que ele não pensa em você da mesma forma, mas pode acabar se surpreendendo.
- Você sabe de alguma coisa que não está me contando?
- Só o que eu sei é que um cara que liga 10 vezes pra uma garota e diz que a ama, mesmo que bêbado, não considera ela apenas uma amiga. A bebida não faz a gente falar bobagens, mas sim verdades que não falaríamos sóbrios.

Fiquei calada um bom tempo, pensando no que ela havia dito. Por mais que tivesse me esforçado para esquecer Connor durante os últimos cinco anos, era obrigada a admitir que nada havia mudado. Estava indo tudo bem, até Alex me pedir em casamento na mesma noite que Connor decidiu beber além da conta e me ligar para confundir minha cabeça. E agora ele estava em uma cama de hospital e se não acordasse no dia seguinte, nunca saberia o quanto ele era importante pra mim.

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Era quase meio dia do dia seguinte e eu ainda estava no hospital, como havia dito que faria. Brianna ficou comigo até quando pôde, mas assim que amanheceu ela precisou ir embora. Nick passou no hospital logo cedo, antes de ir para o trabalho, pare me entregar uma roupa limpa, eu ainda estava com o uniforme da operação tática. Como ainda não havia nenhuma mudança no quadro de Connor, ele foi embora dizendo que voltaria à noite.

Já passava das 14h quando os irmãos dele passaram por mim apressados e depois de conversarem rápido com Brian, entraram no elevador e foram embora. Fiquei observando de longe tentando encontrar uma brecha para abordar Brian ou Ethan e saber o que estava acontecendo, mas não precisei ir até lá. Brian passou alguma instrução para a enfermeira daquele andar apontando para mim e depois caminhou até onde eu estava.

- Os pais deles foram para casa de manhã e os irmãos precisaram sair por um tempo, então pediram que deixasse você entrar no quarto dele se quiser.
- Quarto? – me espantei – Ele já está no quarto? Ele acordou? Quando foi isso?
- Calma, ele ainda não acordou. Foi transferido pro quarto agora pouco, está no 4º andar, quarto 410 – ele sorriu confiante e aquilo me tranqüilizou bastante – Pode ficar lá se quiser, ele deve acordar a qualquer momento.

Ele não precisou falar uma segunda vez. Desci de escada mesmo até o 4º andar e localizei o quarto dele, mas travei quando cheguei à porta. Ela tinha um quadrado de vidro e pude ver Connor deitado na cama, ainda dormindo, um monte de fios e um aparelho monitorando seus batimentos cardíacos. Não sei o porquê, mas não conseguia entrar.

- Você está aqui há quase 24 horas e agora que tem permissão para se aproximar, empaca? – ouvi a voz de Ethan ao meu lado.
- Não consigo deixar de pensar que ele está ali por minha culpa.
- Outra vez isso? Todo mundo já disse que você não é a culpada disso, foi um acidente. Pare de se torturar, ele vai ficar bem.
- Vai mesmo?
- Ele já está no quarto, isso nunca é mau sinal – ele piscou e abriu a porta pra mim – Entre logo, antes que ele acorde e não veja ninguém. E acho que ele vai gostar se você for a primeira pessoa que ele vê depois disso tudo.

Entrei no quarto devagar, como se fazer barulho fosse afetar alguma coisa. Fui direto para a beira da cama e não sei quanto tempo fiquei ali, parada, observando ele dormir. Passavam mil coisas pela minha cabeça, principalmente a conversa com Brianna. Por mais que negasse, sabia que ela estava certa. Precisava dizer a ele a verdade.

- Becky? – ouvi uma voz baixa e rouca me chamar e levei um susto quando vi que era Connor. Minha mão instintivamente procurou a dele.
- Connor! Ai graças a Merlin você acordou! – minha voz desesperada devia estar patética, mas não me importava – Você lembra o que aconteceu?
- Estávamos no metro, uma bomba explodiu nos trilhos e eu levei um tiro – ele falava com a voz ainda mole, tonto pela anestesia.
- Sim, eu estava com o seqüestrador na mira, mas não fui rápida o bastante e ele atirou em você. Sinto muito, devia estar mais atenta, mas o barulho da bomba me desconcentrou.
- Por que está me pedindo desculpa? Eu não culpo você por isso.
- Ainda assim, eu nunca ia me perdoar se você tivesse morrido
- Eu proíbo você de continuar se culpando – ele apertou minha mão – Não quero pense isso outra vez. Eu vou ficar bem.

Eu ia dizer, estava pronta pra começar a falar, mas naquele momento o irmão dele, Micah, entrou no quarto. Deveria ter ficado frustrada, mas me senti aliviada. Não tinha ensaiado o que dizer e podia me atrapalhar, talvez até travar e não conseguir dizer nada, então quando ele entrou, decidi o que fazer. Ele ainda segurava minha mão quando reclinei o corpo para cima dele e o beijei. Senti que ele ficou tenso na hora, com certeza surpreso, mas no mesmo instante correspondeu ao beijo.

- Vou deixar você com seu irmão e ir pra casa descansar, volto mais tarde com o resto da turma – disse me afastando e sorri para Micah me despedindo.

Se não tinha coragem para falar, a única solução era demonstrar. E agora que não tinha mais volta, podia pensar direito no que dizer a ele quando tivéssemos outra oportunidade de ficarmos a sós e também pensar no que fazer em relação ao Alex. Mas naquele momento tudo que eu queria era tomar banho e desmaiar na minha cama, sem pensar em nada.