Posted: quinta-feira, 27 de janeiro de 2011 by Ethan M. Warrick in
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Meados de janeiro de 2014

Uma coisa que eu tinha que admitir era que Brian tinha razão: Quando a nossa familia e amigos souberam que eu havia criado um abrigo para ajudar vitimas de abuso, formou-se um mutirão para ajudar. Passamos um fim de semana pintando e reformando a casa, minha mãe juntou roupas, sapatos, brinquedos e livros infantis. Ty junto com meu pai, além de pegar no pesado como consertos de torneiras e pintura, cuidaram de fazer barreiras de segurança, John, Declan e Mary, os advogados da familia, se encarregariam da parte jurídica, e o apoio de minha familia me fez ter certeza de havia feito a coisa certa.
Gwen no começo se sentia um pouco insegura pelo fato de a casa estar em uma área onde trouxas e bruxos conviviam, optamos em manter uma certa vigilância, então, sempre havia um quarto preparado para que eu, Brian ou algum outro membro da familia, dormisse ali e garantisse a segurança. Gwen, se sentia envergonhada por não ter recursos para se manter, então minha mãe deu a ideia, dela ser administradora do abrigo, pois assim ela sempre estaria em casa para quando os filhos voltassem da escola, teria um salário, além de poder se curar do trauma causado por um marido abusivo. Ela era uma mulher fantástica, muito forte, decidida e quando recebemos outras pessoas, percebia que ela as recebia por amor e não porque recebesse um salário. E isso, era digno de admiração e respeito.

-o-o-o-o

-Ai!- foi a palavra mais suave que saiu de minha boca quando acertei o dedão do pé, na caixa que estava num canto do meu apartamento perto do hospital, naquela manhã. Era a caixa com as coisas que ficavam na casa de Brianna e que apesar de quase um ano de rompimento, eu nunca mexi nela. Enquanto meu dedo latejava e eu resolvi que já era hora de pôr as coisas no lugar. Virei a caixa em cima da cama e além de roupas, sapatos, livros e Cd’s, vi o brilho de uma presilha que Brie usava para prender os longos cabelos escuros, no meio das minhas coisas. Sabia que ela adorava aquela presilha e devia ter posto na caixa por engano. Toquei a presilha e pensei ter sentido o cheiro do xampu que ela usava, e senti uma pontada de frustração.Patético eu sei. Mesmo tendo saido com outras garotas neste tempo separados eu ainda a amava.Talvez fosse hora de eu tomar as rédeas da situação e saber de uma vez por todas se eu ainda teria alguma chance com ela. Se ela ela dissesse sim, eu aceitaria que não teriamos filhos, aceitaria que morássemos em casas separadas, aceitaria até que ela não usasse o meu nome, desde que eu pudesse ouvir o riso dela pela manhã, ao acordar. Mas o soar do meu bipe, me fez deixar para resolver meus problemas pessoais depois.
- O que temos aqui?- perguntei enquanto colocava as luvas e a enfermeira me atualizava:
- Mãe, de pouco mais de 30 anos, com filho de 2 anos na cadeirinha, contra um ônibus onde o motorista sofreu um ataque cardíaco. O Doutor McGregor, está com ela em cirurgia, o caso é muito grave, o doutor Karev está fazendo uma angioplastia no motorista.A coisa está feia, alguns passageiros se machucaram bastante, a equipe está toda aqui.
- Como está o bebê?
- Com ótimos reflexos, sinais vitais estáveis, um corte na testa, tem pulmões fortes. Achei que você era o melhor para cuidar dele, nasceu para ser pai.
- Isso é uma indireta, Carol?- impliquei pois sabia da vontade de Carol de casar e ter filhos.E, sim nós tinhamos uma história.
-Você sabe que você seria a minha primeira escolha, Doutor Warrick, mas como seu coração já tem dona, eu ainda continuo na busca.- ri quando ela passou a mão em meu queixo, suspirando.
Fui até o local onde o bebê estava internado e comecei a cuidar dele. Limpei seu corte, fiz a sutura de forma a não deixar cicatriz e o peguei no colo do mesmo jeito que fiz com os vários bebês da familia e aos poucos o garotinho começou a se acalmar. Ele tinha cabelos escuros e vivos olhos cinzentos. Tirei suas roupas sujas de sangue para troca-lo quando congelei com o que havia em suas costas.

14 horas depois

- A assistente social já chegou?- perguntei para a recepcionista novata da ala pediátrica.Ela me olhou com cara de poucos amigos, continuando a lixar as unhas.
- É madrugada, doutor, melhor ir para a sua salinha de descanso...- disse atrevida e dei um tapa forte no balcão para chamar a sua atenção, fazendo os papéis pularem:
- Não me importa o horário, quero uma assistente social aqui para ajudar ao meu paciente,se vira ou vou cuidar para que você possa lixar as suas unhas em sua casa permanentemente.- disse irritado deixando a mulher de olhos arregalados. Minha bronca surtiu efeito, pois ela começou a teclar assustada ao telefone.
Voltei para o quarto do garoto e uma enfermeira havia acabado de dar a sua mamadeira, peguei-o no colo para que arrotasse, quando ouvi uma batida na porta.
- Foi daqui que pediram um assistente social?Só consegui pegar o recado agora, estava em outra chamada, na ala psiquiátrica...- virei-me e encontrei Brianna parada na porta. Nos olhamos e ela se recuperou do choque mais rapido.
- Demorei porque eu estava na ala psiquiátrica do Hospital , o que temos aqui? – disse pegando o prontuário do garotinho.
- Este é o Liam. A mãe não resistiu aos ferimentos, pareciam estar de férias, não havia telefone de contatos de emergência. Eu quero saber se eu posso levá-lo para casa e ser responsável por ele, até encontrarmos algum parente.
- As coisas não são decididas assim, Ethan. Há toda uma burocracia e você é um homem solteiro, com um ritmo de trabalho extenuante, não teria tempo para cuidar de uma criança.Há casais cadastrados que já foram avaliados pela agência e ficariam felizes em cuidar dele.
- Já pedi uns dias de folga do hospital, sou um excelente médico, e um ótimo tio. Já cuidei de crianças pequenas antes. Não sou um pervertido sexual e sou financeiramente estável, e se for preciso meu chefe mesmo contrariado pode atestar que sou confiável, ah e é claro não estarei cuidando dele sozinho. (vi seus olhos franzirem em irritação mas continuei): - Agradeceria se você me desse os papéis para que tudo fique em ordem, mas garanto que ele vai para casa comigo, com ou sem a sua ajuda.
-Porque este desespero Ethan? Vai adotar um filho já que eu não quis lhe dar nenhum?Ou você tem complexo de herói, acha que pode salvar todo mundo?
- O mundo não gira ao redor do seu umbigo bonito Brianna. Sei que nem sempre eu posso salvar a todos, mas se conseguir salvar um, ja ganhei o dia. E eu não estarei... sozinho. – e ela ficou vermelha e me ocorreu que ela ainda podia sentir alguma coisa por mim e resolvi baixar a guarda. Suspirei e disse:
- Olhe isso...- e abri a camisola do hospital e mostrei as costas do bebê, onde havia uma mancha em forma de um mapa.
- É tão parecida com a minha e a de Brian...Ele é...um dos nossos?
- Não sei, tudo o que pensei quando vi isso era ganhar tempo para descobrir antes que alguém o coloque nos sistema.Depois da história do Tristan, acho que não custa nada investigar.Então vai me ajudar?- ela assentiu e saiu do quarto.
Passou ainda uma hora, antes de que ela voltasse trazendo os papéis me dando a guarda provisória do garoto. Como ele já estava de alta, peguei suas coisas e logo que alcancei a parte lateral do hospital, aparatei com ele, próximo do abrigo. Olhei para seu rosto adormecido e acabei perguntando, esperando ouvir uma resposta que eu sabia que não viria:
- Quem é você?

Continua...