Posted: quinta-feira, 27 de junho de 2013 by Julian Thomas Montpellier in
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Epílogo

Londres, março de 2027

Tive que passar por uma revisão médica da Marinha e acabei indo mais tarde para o trabalho. Fui levar meu atestado para Elena, e quando bati na porta da sala dela, ninguém respondeu, até iria embora, quando ouvi um espirro. Abri a porta e me abaixei rápido, antes que um objeto macio me acertasse e isso fez com que ouvisse uma risada infantil:
- Ah não era a mamãe, você não vai ficar brabo com Horacio não é?- disse uma menina de uns 5 anos, que reconheci como sendo a filha de Lena, Sophie.
- Eu zangado com este macaco voador? Não, estou é curioso em saber como consegue voar sem asas? – ela riu e naquela hora sabia que estava perdido.
- Você é novo aqui? Não te conheço...
- Sou Julian McGregor, trabalho com sua mãe.
- Ah você é o filho do tio Ty??Você se parece com ele, só é mais bonito, e ele me cobre de presentes, adoro ele. Sabia que Selene é uma das minhas melhores amigas de todo o mundo? Mas você é tão mais velho que ela...Quer brincar um pouco?? Mamãe teve que ir se trocar porque eu passei mal e sem querer vomitei meu suco nela...O café da manhã não caiu bem e estou esperando Dana, minha babá, vamos ficar de moleza em casa hoje.Como vou chamar você?Julian ou tio?
-Uau! Como você fala...E pode me chamar de Julian. E se você esta ruim do estômago devia ficar deitada não é?
- Já descansei, quero brincar um pouco, joga comigo?- comecei a negar com a cabeça mas ela me deu um olhar tão desamparado, que automaticamente assenti concordando e começamos a jogar Uno e ela era muito esperta. Lena voltou uns minutos depois e nos encontrou jogando:
- Sophie, Dana chegou. - E a garotinha jogou as cartas para o alto,  correndo para abraçar sua mãe e falava rápido:
- Mãe, olha só meu novo amigo, Julian. Ele é tããão legal, sabe jogar, montar a cavalo e gosta de contar piadas e adora os livros do tio Rup, você devia sair com ele, e ele é mais bonito que o tio John. E na próxima festa no rancho serei a convidada especial dele. - Lena ficou pálida e disse:
- Soph, fico feliz que você tenha feito um novo amigo, mas agora você precisa ir e de noite conversamos mais ok?- ela assentiu e antes de ir correu de volta e me deu um abraço apertado:
- Gostei de conhecer você e se um dia você quiser me visitar em casa você pode ir ok? Minha mãe deixa Dana servir pipoca aos meus amigos quando vemos filmes. Você vai?
- Sim, eu vou.- respondi rindo e ela:
- Promete?- assenti e ela correu para a mãe que me olhou séria e disse antes que eu abrisse a boca:
- McGregor, a equipe já esta se reunindo, hoje está tranquilo e vamos fazer patrulha.- assenti e até pensei que Lena fosse falar alguma sobre a sua filha mas o resto do dia foi como todos os outros, parecíamos dois estranhos.


Final de Abril 2027

Voltar para Londres e trabalhar com Elena não havia sido uma decisão fácil. Quando ela me viu com o uniforme da equipe perto do chefe dela, sua primeira reação foi de espanto, mas depois pude ver o ressentimento em seus olhos e embora eu duvidasse, pensei que o tempo e nossa convivência pudesse resolver e voltarmos a ser amigos, mas me enganei. Éramos profissionais, mas não havia o antigo companheirismo de antes. E sem querer isso estava afetando a equipe, pois eles ficavam em alerta a cada vez que nossas reuniões começavam, esperando pra ver quem venceria a discussão, pois embora Elena fosse a líder do time,como snyper eu seria o líder tático, encarregado de preparar a equipe para uma entrada forçada e em alguns casos interferir na negociação. De forma resumida: Elena conversava e tentava manter a paz e se eu percebesse algum risco ao refém ou à equipe, não precisava esperar a ordem dela para atirar. Naquela sexta feira, ao meio dia tivemos um chamado em que um atirador de origem búlgara, após matar a ex esposa, estava com uma refém em uma praça da cidade, e Lena estava a uma certa distância negociando com o suspeito, eu dava cobertura de cima do telhado, e ouvia a negociação pelo meu fone de ouvido, quando o homem se enfureceu com ela por pedir novamente que soltasse a refém, ele apontou a arma disposto a atirar, e foi ouvido um disparo, mas quem caiu morto foi o homem com um tiro na testa. Eu atirei! Vi quando Elena tirou o fone do ouvido e o jogou no chão.
Como é padrão em caso de disparo de nossas armas, fiquei incomunicável, enquanto uma equipe da Corregedoria da Scotland Yard tomava meu depoimento, recolhia minhas roupas e minha arma para verificação. E isso demorou horas, e quando fui dispensado tarde da noite, fui direto para o hotel aonde eu estava morando desde o meu retorno.
Mal entrei no quarto, ouvi uma batida na porta e quando abri Lena entrou muito irritada.
- Você não devia ter atirado...Eu não havia autorizado.
- Isso não é você quem decide, sou eu  e atiro em qualquer suspeito que apontar uma arma para você ou de qualquer membro da equipe.Por melhor que você tenha sido, você nunca o alcançou, ele só não te acertou porque eliminei a ameaça antes.
- Suspeito, ameaça, você sequer sabia o nome dele....Você não se conecta com os suspeitos e isso é importante neste trabalho, por mais que você não aceite sou eu que mando nesta unidade.
- Não tenho problema algum com a sua autoridade. E ele era Josip Tesla, 54 anos, bulgaro, desempregado, residente neste país há cinco anos, divórcio  homologado pela corte, devido a violência doméstica.E ele já não tinha mais nada a perder, só queria levar mais gente com ele.Quer saber? Vou facilitar as coisas sargento, vou pedir transferência pois é você quem não gosta de trabalhar comigo, tem medo de não ter o controle.
- Que merda, Julian, você não sabe conversar? Quando as coisas ficam dificeis você corre? Porque isso não me surpreende, foi assim quando nos separamos, bem aqui neste quarto...- e foi como se eu levasse um soco:
- Foi você quem foi embora...- respondi sério e ela rebateu:
- E foi você quem não me impediu.
- O que eu podia fazer? Você queria ficar com o Slater, escolheu a ele, não podia te obrigar a ficar, afinal nosso acordo era de sexo sem compromisso, e foi sua idéia diga-se de passagem.
- Se houvesse amor entre nós, não teria sido assim.
- Amor? Eu te amei tanto que aceitei suas condições e as suas decisões, mas toda vez que eu começava a falar em algo mais sério, você pulava fora. Não era eu que tinha problemas com situações difíceis.
- Você não podia assistir a um casamento que ficava possessivo, sonhava acordado. E nós tinhamos as nossas carreiras para cuidar. Seria absurdo casarmos.
- Absurdo se fosse comigo não é? Mas o que você fez quando saiu da Academia? Casou-se com o Jeff, sem ouvir ninguém.Fale a verdade, o problema era eu.
- Você foi para a guerra...
- Fui convocado,e você sabia que eu iria para lá em algum momento, sou fuzileiro.
- Sim, você é um fuzileiro até seu último suspiro, então de qualquer forma você não estaria comigo. Nunca esteve, nem mesmo quando Jeff morreu.
- Não podia sair de onde eu estava para vir enterrar seu marido, sempre nos detestamos.
- Por isso mesmo você devia ter voltado, não por ele, mas por mim, eu estava livre dele.
- Mas eu não podia vir...
- Claro que você não podia, tinha que ficar com os seus soldados, ensina-los a matar mais rápido, eu não importava...- disse gritando e eu não me segurei:
- Não pude vir porque tive que recolher os pedaços do Cassillas para mandar num saco preto para a familia dele.Ele foi burro o bastante para pisar numa mina para me salvar. - gritei de volta e ela arregalou os olhos:
- Oh Julian...Eu não sabia...Acho que ninguém soube.- ficamos nos encarando por alguns segundos e ela disse dando um passo na minha direção:
- Não posso me envolver com você, por isso tenho mantido distância. Sou sua chefe e muito tempo se passou...
- Quero me envolver com você, e não vou acusa-la de assédio.E ver você depois deste tempo todo só me fez ter certeza de que quero uma chance. – disse dando outro passo e ficando bem perto dela.- e continuei:
- Falei sério quando disse que pediria transferência, posso me adaptar em qualquer lugar.Não vou prejudicar a sua carreira.-e  ela frisou:
- As nossas carreiras seriam prejudicadas...Mas eu não posso me jogar num relacionamento, tenho que pensar em minha filha, sempre vai ser assim, é bom que saiba que ela virá primeiro sempre.
- Gosto da sua filha e ela também gosta de mim, afinal sou muito mais bonito que o tio John. Sério que você saiu com o Weasley?-  provoquei e ela cutucou meu peito e segurei sua mão e ela não puxou de volta:
- John é um amigo, tomamos uns drinks, apenas isso... As pessoas não podem saber sobre nós...
- Isso nos afastou uma vez, Lena.- disse franzindo a testa e me afastando e ela respondeu me puxando pela camisa:
- No trabalho não podem saber, ou seremos suspensos e a equipe dividida, mas nossos amigos e a família sim, pensaremos numa solução ok?Prometo. - olhei para ela e quis saber:
- Pode ficar esta noite?
- Achei que não fosse pedir.- nos beijamos enquanto eu a erguia nos braços como nos velhos tempos e a levava para a cama.

Alguns meses depois, Elena e Sophie viajaram  de férias para Washington para visitar nossa amiga Amber e foi ela que sem querer deu a solução para o nosso problema.

Cause I don't wanna lose you now
I'm lookin' right at the other half of me
The vacancy that sat in my heart
Is a space that now you hold
Show me how to fight for now
And I'll tell you, baby, it was easy
Comin' back into you once I figured it out
You were right here all along
It's like you're my mirror
My mirror staring back at me
I couldn't get any bigger
With anyone else beside me
And now it's clear as this promise
That we're making
Two reflections into one
Cause it's like you're my mirror
My mirror staring back at me
Staring back at me

You are, you are the love of my life



 Nota da autora: trecho de Mirrors de Justin Timberlake

Posted: quinta-feira, 13 de junho de 2013 by Unknown in
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Epílogo

Washington, D.C., Agosto de 2027

Era um dia de céu azul e temperatura agradável quando deixei meu flat para encontrar Elena e Sophie no topo do Washington Monument. Era a última semana de férias de Sophie e elas estavam aproveitando para ter uma viagem de mãe e filha. No entanto, aquela também era uma viagem de negócios. Elena sabia que eu tinha algo importante para discutir com ela sobre trabalho, mas como me recusei a falar por telefone ela não teve alternativa senão esperar até o nosso almoço naquela tarde.

Estavam as duas olhando a vista do alto do obelisco quando cheguei. Aquela vista sempre me impressionava, mesmo já tendo a admirado inúmeras vezes. Era possível ver boa parte da cidade lá do alto, incluindo meu lugar favorito: os arredores do Rio Potomac. Sempre que precisava lembrar porque estava tão longe de casa, subia até o topo do obelisco e olhava a cidade à minha frente.

- A vista é incrível, não? – disse me aproximando e as duas viraram ao mesmo tempo. Elena abriu os braços para me abraçar.
- Ah Becks, que saudade! – ela disse me abraçando apertado antes de me soltar para que eu pudesse abraçar Sophie.
- Também sinto muita falta de vocês. E ai, Soph, está gostando da cidade?
- Muito, tia! O que mais gostei foi o Smithsonian! Podemos nos mudar pra cá, mamãe? – ela perguntou com um sorriso esperançoso e Elena revirou os olhos – Sinto falta da tia Amber e ela mora aqui.
- Talvez não por muito tempo, querida.
- O que quer dizer com isso? – Elena perguntou me olhando desconfiada.
- Que tal aquele almoço agora? Estou faminta!
- Amber Katherine Brennan Beckett, o que está acontecendo?
- Almoço, meninas! Teremos tempo o suficiente para conversar no restaurante.

Elena protestou mais um pouco, mas foi obrigada a desistir e seguir Sophie e eu até o restaurante no Capitólio. Seria uma tarde longa e divertida.

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Connecticut, Yale University, Setembro de 2027

O auditório onde a aula de simbologia acontecia estava apinhado de alunos, todos compenetrados e absorvendo cada palavra dita pelo professor em pé lá na frente. Um professor tão jovem que poderia facilmente ser confundido com um dos alunos.

Sentei em uma poltrona vaga na última fileira e aguardei até que a aula chegasse ao fim. Estava tão interessante que apenas me dei conta de que já tinha terminado quando os alunos começaram a se levantar.

- Aula excelente, professor Hofstadter – disse levantando e Patrick se assustou ao ouvir minha voz.
- Amber? Está perdida em Connecticut? – disse surpreso, mas sorriu enquanto eu descia as escadas do auditório.
- Não, estou exatamente onde queria estar – disse o abraçando – Como está?
- Estou ótimo e você? Não a vejo desde a sua formatura na Academia. O que é quase o tempo que não vejo Penny.
- Sem noticias dela ainda?
- Às vezes ela dá sinal de vida, mas é raro. Acho que não seria chamado de Serviço Secreto se ela estivesse sempre em contato, não é?
- É, acho que não.
- Mas você não veio até aqui para saber da minha irmã.
- Não, vim até aqui para lhe fazer uma proposta.
- Estou ouvindo.
- Você dá aula de simbologia, sendo o professor mais requisitado de Yale, e se sua ficha estiver correta, tem um Doutorado em Psicologia Criminal. Correto?
- Sim, correto.
- Estou precisando de alguém com essa experiência em Londres.
- De volta à Londres? Não sei... Minha vida aqui é muito boa, não estava nos meus planos voltar tão cedo.
- Deixe-me pagar seu jantar hoje e garanto que vai mudar de idéia. Topa?
- Se tem algo que eu nunca recuso é comida de graça.

Patrick sorriu e terminou de juntar os papéis que estavam espalhados pela mesa, me acompanhando para fora do auditório.

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Cairo, Egito, Outubro de 2027

Quando desci do avião, dois dias antes no aeroporto do Cairo, por um instante desejei nunca ter pisado no Egito. O calor era tão intenso que teria derretido minha maquiagem, caso estivesse usando alguma. Perguntei-me de imediato como ele estava sobrevivendo em uma temperatura tão quente como essa por tanto tempo.

O bar sujo e isolado onde combinamos de nos encontrar ficava em uma região perigosa, mas nada que o distintivo do FBI bem escondido em minha bolsa não pudesse me ajudar a resolver. Ele não estava lá quando cheguei, então me acomodei na mesa que fui instruída a ocupar – imediatamente lançando um “abaffiato” por debaixo dela para que pudéssemos conversar em paz –  e cinco minutos depois Oleg entrou pela porta. Vestia um casaco com um capuz que escondia parte de seu rosto, mesmo debaixo daquele sol todo, e com certeza estava derretendo debaixo dele.

- Quer dizer que agora está com os Federais? – disse sentando-se à minha frente – Foi para o lado negro da força.
- Se não pode vencê-los, junte-se a eles.
- Você mereceu isso. Lembro bem do quanto ralou para se destacar entre os outros detetives.
- Você também trabalhou duro.
- Todos nós ralamos. Só os abduzidos pela CIA se dão bem logo que saem da academia.
- Ah, é verdade. Os Escolhidos. Esses vão direto para o topo da cadeia alimentar.

Rimos lembrando os amigos que haviam desaparecido logo depois da formatura e depois o silencio tomou conta da mesa. Oleg e eu nos formamos em turmas diferentes, mas fomos parceiros na NYPD por cinco anos. Era a primeira vez que nos encontrávamos depois que nos separamos.

- Senti sua falta. Lembra quando ficávamos revoltados porque o FBI chegava à delegacia levando todas as nossas coisas?
- Ah se lembro! Eu queria assassinar alguém.
- Foi por isso que você trocou de lado?
- Também. A oferta era irrecusável. E você já tinha me abandonado, não tinha mais nada me prendendo a NYPD.
- Eu não abandonei ninguém, só queria fazer algo novo. Narcóticos é bem diferente de Homicídio, mas eles continuam roubando nossos casos, isso não mudou.
- Bom, tenho uma oferta de emprego a fazer. O que acha que não ter mais casos confiscados e se juntar ao lado negro da força?
- Gata, se essa oferta vai me tirar desse deserto, já estou topando sem nem saber o que é.
- Há quanto tempo está infiltrado aqui?
- Longos 18 meses.
- A oferta é em Londres. Seu treinamento em desarmamento de bombas e especialidade em lingüística serão muito bem vindos em um escritório com ar condicionado.
- Vou precisar usar terno?
- Essa é sua única ressalva? – perguntei rindo.
- Você me ganhou em oferta de emprego, mas ternos me sufocam.

Começamos a rir e expliquei a Oleg o que o trabalho exigia. Sua operação terminava em dois meses, tempo suficiente para que estivesse em Londres antes do natal. Quando nos despedimos e ele voltou para o apartamento onde estava morando, sabia que podia contar com meu velho parceiro.

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Boston, Massachusetts, Outubro de 2027

Minha primeira semana de férias do trabalho depois de um ano foi gasta em Boston, durante uma visita de Kaley e James à família dela. Era também a primeira viagem de Michael aos Estados Unidos e eu estava louca de ansiedade para conhecer meu afilhado, que havia nascido em abril e até então eu só havia visto por fotos e Skype.

Michael era o bebê mais fofo do mundo. Gordinho, bochechas redondas e rosadas e um sorriso adorável que fazia todo mundo suspirar. Seu cabelo era loiro como o de Kaley, mas seu rosto era todo James. Eu não conseguia soltá-lo, eles mal conseguiram segurar o filho naquela semana. Quando ele não estava sendo disputado pela avó e tias, estava no meu colo brincando com meus brincos e se safando com aquele sorriso lindo.

Zack também estava na cidade naquela semana. Sua agenda com o New England Patriots era apertada, mas ele conseguiu alguns dias de folga para rever a irmã e, assim como eu, conhecer o afilhado. Ele também estava aproveitando a visita para apresentar a namorada à familia, uma modelo muito bonita e famosa, mas que era tão simpática e simples que em cinco minutos quebrou todo e qualquer preconceito que pudéssemos ter com sua profissão. A casa ficou um caos com os dois na cidade, todo mundo apareceu para vê-los e de uma hora pra outra estava no meio de uma grande e improvisada reunião de família. E Michael logo provou ser um verdadeiro Walker, lidando muito bem com todos os parentes barulhentos apertando suas bochechas e sorrindo e gargalhando para todos que vinham arrancá-lo do colo de alguém.

Assim como Elena, Kaley e James sabiam que eu queria conversar com eles, mas diferente dela, tinham uma boa idéia do que era. Saímos para jantar na terceira noite. Michael ficou com Zack e a namorada, que insistiram para ficar tomando conta do bebê, e como Kaley estava louca para que o irmão lhe desse um sobrinho, não fez nenhuma objeção. Ela escolheu um restaurante indiano no centro de Boston e assim que ocupamos nossa mesa próxima da janela, com uma linda vista da cidade, James tocou no assunto.

- Então, quando vai nos contar o que exatamente está tramando?
- Não estou tramando nada, apenas tentando reunir os melhores.
- Ok, chega de enigmas, bota pra fora – Kaley disse impaciente e rimos.
- Certo. Vocês já sabem que Micah me ofereceu um trabalho em Londres, certo? – eles assentiram e continuei – Ele disse que eu deveria montar uma equipe de profilers e seria a responsável por ela na Scotland Yard. O Tenente Sanders é o diretor, mas eu seria a líder da equipe.
- Sim, essa parte nós sabemos. O que mais?
- Nos últimos meses viajei para juntar a equipe, cada um com uma especialidade diferente. Elena é a chefe de uma equipe de negociadores, tem experiência de sobra na área. Oleg é fluente em tantas línguas que não consigo contar e tem experiência em desarmamento de bombas. Patrick tem um doutorado em psicologia criminal e dá aula de simbologia em Yale. – fui listando e eles pareciam animados com os nomes – Agora estou pedindo aos dois que façam parte dessa equipe. Você, James, com sua experiência dando aula de criminologia na academia da Scotland Yard, seu diploma em direito e sua formação na marinha. E você, Kaley, com seu diploma em Publicidade, como nossa assessora de imprensa.
- Amber, isso é... Uau. Não sei nem o que dizer – James ficou sem reação.
- Eu não tenho experiência com perfil. Sim, fiz aquelas aulas quando ainda estávamos na academia do FBI, mas não dei continuidade a isso.
- Não tem problema, você vai lidar apenas com a mídia. Selecionar os casos que vamos trabalhar e cuidar das conferencias de imprensa que vêm com eles. Claro, você teria que passar pelo teste de tiro, caso precise ir ao campo em algum caso, mas não precisa ter experiência em perfil.
- O que acha, meu amor? – James olhava para ela animado – É uma oportunidade e tanto e trabalharíamos juntos. Você tem reclamado que quase não nos vemos mais.

Eles se encararam por um momento, então abriram um enorme sorriso e começamos a rir. Sim, eu podia contar com eles.

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Amsterdã, Holanda – Novembro de 2027

Descobrir qual seria meu destino final foi uma das tarefas mais complicadas que encontrei nos meus sete anos de formada. E mais difícil de achar sua localização foi convencer Emma de me encontrar em um café movimentado à luz do dia.

Ela já me esperava quando cheguei na hora marcada. Ocupava uma mesa no canto da calçada e mesmo parecendo distraída com o fone no ouvido e encarando fixamente a tela do laptop, sabia que estava atenta a tudo e todos ao seu redor. Tanto que assim que me aproximei ela levantou os olhos para me encarar.  O olhar era desconfiado, mas o sorriso foi sincero.

- Como diabos você me encontrou?
- O FBI tem seus métodos, mas não foi fácil.
- Você colocou meu nome no banco de dados do FBI? Eles agora sabem onde estou? – ela ameaçou levantar, mas a segurei pelo braço.
- Você não corre perigo algum, eles estão dispostos a abrir uma exceção.
- O FBI não abre exceção para hackers que invadiram o sistema deles.
- Abrem se você colaborar com eles.
- Não vou trabalhar para eles, não me peça isso.
- Não estou pedindo para trabalhar para eles, estou pedindo para trabalhar para mim.

Emma me fitou por alguns segundos sem dizer nada. Embora ainda sustentasse o olhar desconfiado, sabia que estava considerando a possibilidade.

- O que exatamente está me pedindo?
- Estou montando uma equipe de profilers para trabalhar na Scotland Yard. Eu vou chefiar a equipe, vocês vão reportar apenas a mim, ninguém mais. Com o chefe mesmo, eu me entendo e me responsabilizo.
- Eu não sou uma profiler.
- Já tenho muitos profilers, preciso de um hacker com experiência em ciência forense.
- Existem outros hackers.
- Não preciso de alguém que conheci através de uma ficha, preciso de pessoas em quem confiaria minha vida. Pessoas que já se conheçam e confie uma nas outras. Preciso de você, Emma. Não confio em mais ninguém para o trabalho.
- Não posso ajudá-la daqui? Se for trabalhar em um laboratório não preciso acompanhar vocês no campo.
- Não está cansada de fugir?
- Você também fugiu.
- E agora estou disposta a voltar. E quanto a você?

Ela se calou outra vez, refletindo. Estava longe da Inglaterra há muito tempo, era inevitável sentir saudades. Sabia que, embora não quisesse admitir, Emma pensava em voltar.

- Não pode fugir do passado para sempre. Nem você e nem eu. Uma hora temos que encarar o que ficou para trás.
- É mais fácil para você encarar o passado.
- Sei que para você é mais difícil, mas não vai estar sozinha.
- Quando exatamente isso precisa acontecer? – ela tentava rir para relaxar, mas ainda estava tensa.
- Preciso da equipe reunida em Londres antes do natal. Temos que estar prontos para trabalhar no dia 1º de janeiro.
- E não vou ser presa assim que pisar em Heathrow?
- Não vai acontecer nada, tem passe livre.
- E quanto ao Serviço Secreto? Tenho passe livre também?
- Depois de invadir o sistema deles procurando por teorias da conspiração e plantar um vírus? Não força – ela riu – Então? Posso contar com você?
- Pro inferno com Amsterdã, já estou enjoada de stroopwafel mesmo.

Ela estendeu a mão, mas quando apertei para selarmos o acordo ela levantou e me puxou para um abraço apertado. Seria difícil para ela voltar e, inevitavelmente, reviver os eventos de quase 10 anos atrás, mas Emma era forte e não deixaria isso a abalar.

E agora que eu tinha uma equipe com pessoas em quem tinha total confiança, sabia que também estava pronta para voltar para casa.


I'm going home back to the place where I belong
Where your love has always been enough for me
I'm not running from
No, I think you've got me all wrong
I don't regret this life I chose for me
But these places and these faces are getting old
So I'm going home

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