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Epílogo
Washington, D.C., Agosto de 2027
Washington, D.C., Agosto de 2027
Era um dia de céu azul e temperatura agradável quando deixei
meu flat para encontrar Elena e Sophie no topo do Washington Monument. Era a
última semana de férias de Sophie e elas estavam aproveitando para ter uma
viagem de mãe e filha. No entanto, aquela também era uma viagem de negócios.
Elena sabia que eu tinha algo importante para discutir com ela sobre trabalho,
mas como me recusei a falar por telefone ela não teve alternativa senão esperar
até o nosso almoço naquela tarde.
Estavam as duas olhando a vista do alto do obelisco quando
cheguei. Aquela vista sempre me impressionava, mesmo já tendo a admirado
inúmeras vezes. Era possível ver boa parte da cidade lá do alto, incluindo meu
lugar favorito: os arredores do Rio Potomac. Sempre que precisava lembrar
porque estava tão longe de casa, subia até o topo do obelisco e olhava a cidade
à minha frente.
- A vista é incrível, não? – disse me aproximando e as duas
viraram ao mesmo tempo. Elena abriu os braços para me abraçar.
- Ah Becks, que saudade! – ela disse me abraçando apertado
antes de me soltar para que eu pudesse abraçar Sophie.
- Também sinto muita falta de vocês. E ai, Soph, está
gostando da cidade?
- Muito, tia! O que mais gostei foi o Smithsonian! Podemos
nos mudar pra cá, mamãe? – ela perguntou com um sorriso esperançoso e Elena
revirou os olhos – Sinto falta da tia Amber e ela mora aqui.
- Talvez não por muito tempo, querida.
- O que quer dizer com isso? – Elena perguntou me olhando
desconfiada.
- Que tal aquele almoço agora? Estou faminta!
- Amber Katherine Brennan Beckett, o que está acontecendo?
- Almoço, meninas! Teremos tempo o suficiente para conversar
no restaurante.
Elena protestou mais um pouco, mas foi obrigada a desistir e
seguir Sophie e eu até o restaurante no Capitólio. Seria uma tarde longa e
divertida.
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Connecticut, Yale
University, Setembro de 2027
O auditório onde a aula de simbologia acontecia estava
apinhado de alunos, todos compenetrados e absorvendo cada palavra dita pelo
professor em pé lá na frente. Um professor tão jovem que poderia facilmente ser
confundido com um dos alunos.
Sentei em uma poltrona vaga na última fileira e aguardei até
que a aula chegasse ao fim. Estava tão interessante que apenas me dei conta de
que já tinha terminado quando os alunos começaram a se levantar.
- Aula excelente, professor Hofstadter – disse levantando e
Patrick se assustou ao ouvir minha voz.
- Amber? Está perdida em Connecticut? – disse surpreso, mas
sorriu enquanto eu descia as escadas do auditório.
- Não, estou exatamente onde queria estar – disse o
abraçando – Como está?
- Estou ótimo e você? Não a vejo desde a sua formatura na
Academia. O que é quase o tempo que não vejo Penny.
- Sem noticias dela ainda?
- Às vezes ela dá sinal de vida, mas é raro. Acho que não
seria chamado de Serviço Secreto se ela estivesse sempre em contato, não é?
- É, acho que não.
- Mas você não veio até aqui para saber da minha irmã.
- Não, vim até aqui para lhe fazer uma proposta.
- Estou ouvindo.
- Você dá aula de simbologia, sendo o professor mais
requisitado de Yale, e se sua ficha estiver correta, tem um Doutorado em Psicologia Criminal.
Correto ?
- Sim, correto.
- Estou precisando de alguém com essa experiência em
Londres.
- De volta à Londres? Não sei... Minha vida aqui é muito
boa, não estava nos meus planos voltar tão cedo.
- Deixe-me pagar seu jantar hoje e garanto que vai mudar de
idéia. Topa?
- Se tem algo que eu nunca recuso é comida de graça.
Patrick sorriu e terminou de juntar os papéis que estavam espalhados
pela mesa, me acompanhando para fora do auditório.
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Cairo, Egito, Outubro
de 2027
Quando desci do avião, dois dias antes no aeroporto do
Cairo, por um instante desejei nunca ter pisado no Egito. O calor era tão
intenso que teria derretido minha maquiagem, caso estivesse usando alguma.
Perguntei-me de imediato como ele estava sobrevivendo em uma temperatura tão
quente como essa por tanto tempo.
O bar sujo e isolado onde combinamos de nos encontrar ficava
em uma região perigosa, mas nada que o distintivo do FBI bem escondido em minha
bolsa não pudesse me ajudar a resolver. Ele não estava lá quando cheguei, então
me acomodei na mesa que fui instruída a ocupar – imediatamente lançando um “abaffiato” por debaixo dela para que
pudéssemos conversar em paz – e cinco
minutos depois Oleg entrou pela porta. Vestia um casaco com um capuz que
escondia parte de seu rosto, mesmo debaixo daquele sol todo, e com certeza
estava derretendo debaixo dele.
- Quer dizer que agora está com os Federais? – disse
sentando-se à minha frente – Foi para o lado negro da força.
- Se não pode vencê-los, junte-se a eles.
- Você mereceu isso. Lembro bem do quanto ralou para se
destacar entre os outros detetives.
- Você também trabalhou duro.
- Todos nós ralamos. Só os abduzidos pela CIA se dão bem
logo que saem da academia.
- Ah, é verdade. Os Escolhidos. Esses vão direto para o topo
da cadeia alimentar.
Rimos lembrando os amigos que haviam desaparecido logo
depois da formatura e depois o silencio tomou conta da mesa. Oleg e eu nos
formamos em turmas diferentes, mas fomos parceiros na NYPD por cinco anos. Era
a primeira vez que nos encontrávamos depois que nos separamos.
- Senti sua falta. Lembra quando ficávamos revoltados porque
o FBI chegava à delegacia levando todas as nossas coisas?
- Ah se lembro! Eu queria assassinar alguém.
- Foi por isso que você trocou de lado?
- Também. A oferta era irrecusável. E você já tinha me
abandonado, não tinha mais nada me prendendo a NYPD.
- Eu não abandonei ninguém, só queria fazer algo novo. Narcóticos
é bem diferente de Homicídio, mas eles continuam roubando nossos casos, isso
não mudou.
- Bom, tenho uma oferta de emprego a fazer. O que acha que
não ter mais casos confiscados e se juntar ao lado negro da força?
- Gata, se essa oferta vai me tirar desse deserto, já estou
topando sem nem saber o que é.
- Há quanto tempo está infiltrado aqui?
- Longos 18 meses.
- A oferta é em Londres. Seu treinamento em desarmamento de
bombas e especialidade em lingüística serão muito bem vindos em um escritório
com ar condicionado.
- Vou precisar usar terno?
- Essa é sua única ressalva? – perguntei rindo.
- Você me ganhou em oferta de emprego, mas ternos me
sufocam.
Começamos a rir e expliquei a Oleg o que o trabalho exigia.
Sua operação terminava em dois meses, tempo suficiente para que estivesse em
Londres antes do natal. Quando nos despedimos e ele voltou para o apartamento
onde estava morando, sabia que podia contar com meu velho parceiro.
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Boston, Massachusetts,
Outubro de 2027
Minha primeira semana de férias do trabalho depois de um ano
foi gasta em Boston, durante uma visita de Kaley e James à família dela. Era
também a primeira viagem de Michael aos Estados Unidos e eu estava louca de
ansiedade para conhecer meu afilhado, que havia nascido em abril e até então eu
só havia visto por fotos e Skype.
Michael era o bebê mais fofo do mundo. Gordinho, bochechas
redondas e rosadas e um sorriso adorável que fazia todo mundo suspirar. Seu
cabelo era loiro como o de Kaley, mas seu rosto era todo James. Eu não
conseguia soltá-lo, eles mal conseguiram segurar o filho naquela semana. Quando
ele não estava sendo disputado pela avó e tias, estava no meu colo brincando
com meus brincos e se safando com aquele sorriso lindo.
Zack também estava na cidade naquela semana. Sua agenda com
o New England Patriots era apertada, mas ele conseguiu alguns dias de folga
para rever a irmã e, assim como eu, conhecer o afilhado. Ele também estava
aproveitando a visita para apresentar a namorada à familia, uma modelo muito
bonita e famosa, mas que era tão simpática e simples que em cinco minutos
quebrou todo e qualquer preconceito que pudéssemos ter com sua profissão. A
casa ficou um caos com os dois na cidade, todo mundo apareceu para vê-los e de
uma hora pra outra estava no meio de uma grande e improvisada reunião de
família. E Michael logo provou ser um verdadeiro Walker, lidando muito bem com
todos os parentes barulhentos apertando suas bochechas e sorrindo e gargalhando
para todos que vinham arrancá-lo do colo de alguém.
Assim como Elena, Kaley e James sabiam que eu queria
conversar com eles, mas diferente dela, tinham uma boa idéia do que era. Saímos
para jantar na terceira noite. Michael ficou com Zack e a namorada, que
insistiram para ficar tomando conta do bebê, e como Kaley estava louca para que
o irmão lhe desse um sobrinho, não fez nenhuma objeção. Ela escolheu um
restaurante indiano no centro de Boston e assim que ocupamos nossa mesa próxima
da janela, com uma linda vista da cidade, James tocou no assunto.
- Então, quando vai nos contar o que exatamente está
tramando?
- Não estou tramando nada, apenas tentando reunir os
melhores.
- Ok, chega de enigmas, bota pra fora – Kaley disse
impaciente e rimos.
- Certo. Vocês já sabem que Micah me ofereceu um trabalho em
Londres, certo? – eles assentiram e continuei – Ele disse que eu deveria montar
uma equipe de profilers e seria a responsável por ela na Scotland Yard. O
Tenente Sanders é o diretor, mas eu seria a líder da equipe.
- Sim, essa parte nós sabemos. O que mais?
- Nos últimos meses viajei para juntar a equipe, cada um com
uma especialidade diferente. Elena é a chefe de uma equipe de negociadores, tem
experiência de sobra na área. Oleg é fluente em tantas línguas que não consigo
contar e tem experiência em desarmamento de bombas. Patrick tem um doutorado em
psicologia criminal e dá aula de simbologia em Yale. – fui listando e eles
pareciam animados com os nomes – Agora estou pedindo aos dois que façam parte dessa
equipe. Você, James, com sua experiência dando aula de criminologia na academia
da Scotland Yard, seu diploma em direito e sua formação na marinha. E você,
Kaley, com seu diploma em Publicidade, como nossa assessora de imprensa.
- Amber, isso é... Uau. Não sei nem o que dizer – James
ficou sem reação.
- Eu não tenho experiência com perfil. Sim, fiz aquelas
aulas quando ainda estávamos na academia do FBI, mas não dei continuidade a
isso.
- Não tem problema, você vai lidar apenas com a mídia.
Selecionar os casos que vamos trabalhar e cuidar das conferencias de imprensa
que vêm com eles. Claro, você teria que passar pelo teste de tiro, caso precise
ir ao campo em algum caso, mas não precisa ter experiência em perfil.
- O que acha, meu amor? – James olhava para ela animado – É
uma oportunidade e tanto e trabalharíamos juntos. Você tem reclamado que quase
não nos vemos mais.
Eles se encararam por um momento, então abriram um enorme
sorriso e começamos a rir. Sim, eu podia contar com eles.
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Amsterdã, Holanda –
Novembro de 2027
Descobrir qual seria meu destino final foi uma das tarefas
mais complicadas que encontrei nos meus sete anos de formada. E mais difícil de
achar sua localização foi convencer Emma de me encontrar em um café movimentado
à luz do dia.
Ela já me esperava quando cheguei na hora marcada. Ocupava
uma mesa no canto da calçada e mesmo parecendo distraída com o fone no ouvido e
encarando fixamente a tela do laptop, sabia que estava atenta a tudo e todos ao
seu redor. Tanto que assim que me aproximei ela levantou os olhos para me
encarar. O olhar era desconfiado, mas o
sorriso foi sincero.
- Como diabos você me encontrou?
- O FBI tem seus métodos, mas não foi fácil.
- Você colocou meu nome no banco de dados do FBI? Eles agora
sabem onde estou? – ela ameaçou levantar, mas a segurei pelo braço.
- Você não corre perigo algum, eles estão dispostos a abrir
uma exceção.
- O FBI não abre exceção para hackers que invadiram o
sistema deles.
- Abrem se você colaborar com eles.
- Não vou trabalhar para eles, não me peça isso.
- Não estou pedindo para trabalhar para eles, estou pedindo
para trabalhar para mim.
Emma me fitou por alguns segundos sem dizer nada. Embora
ainda sustentasse o olhar desconfiado, sabia que estava considerando a
possibilidade.
- O que exatamente está me pedindo?
- Estou montando uma equipe de profilers para trabalhar na
Scotland Yard. Eu vou chefiar a equipe, vocês vão reportar apenas a mim,
ninguém mais. Com o chefe mesmo, eu me entendo e me responsabilizo.
- Eu não sou uma profiler.
- Já tenho muitos profilers, preciso de um hacker com
experiência em ciência forense.
- Existem outros hackers.
- Não preciso de alguém que conheci através de uma ficha,
preciso de pessoas em quem confiaria minha vida. Pessoas que já se conheçam e
confie uma nas outras. Preciso de você, Emma. Não confio em mais ninguém para o
trabalho.
- Não posso ajudá-la daqui? Se for trabalhar em um
laboratório não preciso acompanhar vocês no campo.
- Não está cansada de fugir?
- Você também fugiu.
- E agora estou disposta a voltar. E quanto a você?
Ela se calou outra vez, refletindo. Estava longe da
Inglaterra há muito tempo, era inevitável sentir saudades. Sabia que, embora
não quisesse admitir, Emma pensava em voltar.
- Não pode fugir do passado para sempre. Nem você e nem eu.
Uma hora temos que encarar o que ficou para trás.
- É mais fácil para você encarar o passado.
- Sei que para você é mais difícil, mas não vai estar
sozinha.
- Quando exatamente isso precisa acontecer? – ela tentava
rir para relaxar, mas ainda estava tensa.
- Preciso da equipe reunida em Londres antes do natal. Temos
que estar prontos para trabalhar no dia 1º de janeiro.
- E não vou ser presa assim que pisar em Heathrow?
- Não vai acontecer nada, tem passe livre.
- E quanto ao Serviço Secreto? Tenho passe livre também?
- Depois de invadir o sistema deles procurando por teorias
da conspiração e plantar um vírus? Não força – ela riu – Então? Posso contar
com você?
- Pro inferno com Amsterdã, já estou enjoada de stroopwafel
mesmo.
Ela estendeu a mão, mas quando apertei para selarmos o
acordo ela levantou e me puxou para um abraço apertado. Seria difícil para ela
voltar e, inevitavelmente, reviver os eventos de quase 10 anos atrás, mas Emma
era forte e não deixaria isso a abalar.
E agora que eu tinha uma equipe com pessoas em quem tinha
total confiança, sabia que também estava pronta para voltar para casa.
I'm going home back to the place where I belong
Where your love has always been enough for me
I'm not running from
No, I think you've got me all wrong
I don't regret this life I chose for me
But these places and these faces are getting old
So I'm going home
Where your love has always been enough for me
I'm not running from
No, I think you've got me all wrong
I don't regret this life I chose for me
But these places and these faces are getting old
So I'm going home