Posted: quinta-feira, 27 de junho de 2013 by Julian Thomas Montpellier in
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Epílogo

Londres, março de 2027

Tive que passar por uma revisão médica da Marinha e acabei indo mais tarde para o trabalho. Fui levar meu atestado para Elena, e quando bati na porta da sala dela, ninguém respondeu, até iria embora, quando ouvi um espirro. Abri a porta e me abaixei rápido, antes que um objeto macio me acertasse e isso fez com que ouvisse uma risada infantil:
- Ah não era a mamãe, você não vai ficar brabo com Horacio não é?- disse uma menina de uns 5 anos, que reconheci como sendo a filha de Lena, Sophie.
- Eu zangado com este macaco voador? Não, estou é curioso em saber como consegue voar sem asas? – ela riu e naquela hora sabia que estava perdido.
- Você é novo aqui? Não te conheço...
- Sou Julian McGregor, trabalho com sua mãe.
- Ah você é o filho do tio Ty??Você se parece com ele, só é mais bonito, e ele me cobre de presentes, adoro ele. Sabia que Selene é uma das minhas melhores amigas de todo o mundo? Mas você é tão mais velho que ela...Quer brincar um pouco?? Mamãe teve que ir se trocar porque eu passei mal e sem querer vomitei meu suco nela...O café da manhã não caiu bem e estou esperando Dana, minha babá, vamos ficar de moleza em casa hoje.Como vou chamar você?Julian ou tio?
-Uau! Como você fala...E pode me chamar de Julian. E se você esta ruim do estômago devia ficar deitada não é?
- Já descansei, quero brincar um pouco, joga comigo?- comecei a negar com a cabeça mas ela me deu um olhar tão desamparado, que automaticamente assenti concordando e começamos a jogar Uno e ela era muito esperta. Lena voltou uns minutos depois e nos encontrou jogando:
- Sophie, Dana chegou. - E a garotinha jogou as cartas para o alto,  correndo para abraçar sua mãe e falava rápido:
- Mãe, olha só meu novo amigo, Julian. Ele é tããão legal, sabe jogar, montar a cavalo e gosta de contar piadas e adora os livros do tio Rup, você devia sair com ele, e ele é mais bonito que o tio John. E na próxima festa no rancho serei a convidada especial dele. - Lena ficou pálida e disse:
- Soph, fico feliz que você tenha feito um novo amigo, mas agora você precisa ir e de noite conversamos mais ok?- ela assentiu e antes de ir correu de volta e me deu um abraço apertado:
- Gostei de conhecer você e se um dia você quiser me visitar em casa você pode ir ok? Minha mãe deixa Dana servir pipoca aos meus amigos quando vemos filmes. Você vai?
- Sim, eu vou.- respondi rindo e ela:
- Promete?- assenti e ela correu para a mãe que me olhou séria e disse antes que eu abrisse a boca:
- McGregor, a equipe já esta se reunindo, hoje está tranquilo e vamos fazer patrulha.- assenti e até pensei que Lena fosse falar alguma sobre a sua filha mas o resto do dia foi como todos os outros, parecíamos dois estranhos.


Final de Abril 2027

Voltar para Londres e trabalhar com Elena não havia sido uma decisão fácil. Quando ela me viu com o uniforme da equipe perto do chefe dela, sua primeira reação foi de espanto, mas depois pude ver o ressentimento em seus olhos e embora eu duvidasse, pensei que o tempo e nossa convivência pudesse resolver e voltarmos a ser amigos, mas me enganei. Éramos profissionais, mas não havia o antigo companheirismo de antes. E sem querer isso estava afetando a equipe, pois eles ficavam em alerta a cada vez que nossas reuniões começavam, esperando pra ver quem venceria a discussão, pois embora Elena fosse a líder do time,como snyper eu seria o líder tático, encarregado de preparar a equipe para uma entrada forçada e em alguns casos interferir na negociação. De forma resumida: Elena conversava e tentava manter a paz e se eu percebesse algum risco ao refém ou à equipe, não precisava esperar a ordem dela para atirar. Naquela sexta feira, ao meio dia tivemos um chamado em que um atirador de origem búlgara, após matar a ex esposa, estava com uma refém em uma praça da cidade, e Lena estava a uma certa distância negociando com o suspeito, eu dava cobertura de cima do telhado, e ouvia a negociação pelo meu fone de ouvido, quando o homem se enfureceu com ela por pedir novamente que soltasse a refém, ele apontou a arma disposto a atirar, e foi ouvido um disparo, mas quem caiu morto foi o homem com um tiro na testa. Eu atirei! Vi quando Elena tirou o fone do ouvido e o jogou no chão.
Como é padrão em caso de disparo de nossas armas, fiquei incomunicável, enquanto uma equipe da Corregedoria da Scotland Yard tomava meu depoimento, recolhia minhas roupas e minha arma para verificação. E isso demorou horas, e quando fui dispensado tarde da noite, fui direto para o hotel aonde eu estava morando desde o meu retorno.
Mal entrei no quarto, ouvi uma batida na porta e quando abri Lena entrou muito irritada.
- Você não devia ter atirado...Eu não havia autorizado.
- Isso não é você quem decide, sou eu  e atiro em qualquer suspeito que apontar uma arma para você ou de qualquer membro da equipe.Por melhor que você tenha sido, você nunca o alcançou, ele só não te acertou porque eliminei a ameaça antes.
- Suspeito, ameaça, você sequer sabia o nome dele....Você não se conecta com os suspeitos e isso é importante neste trabalho, por mais que você não aceite sou eu que mando nesta unidade.
- Não tenho problema algum com a sua autoridade. E ele era Josip Tesla, 54 anos, bulgaro, desempregado, residente neste país há cinco anos, divórcio  homologado pela corte, devido a violência doméstica.E ele já não tinha mais nada a perder, só queria levar mais gente com ele.Quer saber? Vou facilitar as coisas sargento, vou pedir transferência pois é você quem não gosta de trabalhar comigo, tem medo de não ter o controle.
- Que merda, Julian, você não sabe conversar? Quando as coisas ficam dificeis você corre? Porque isso não me surpreende, foi assim quando nos separamos, bem aqui neste quarto...- e foi como se eu levasse um soco:
- Foi você quem foi embora...- respondi sério e ela rebateu:
- E foi você quem não me impediu.
- O que eu podia fazer? Você queria ficar com o Slater, escolheu a ele, não podia te obrigar a ficar, afinal nosso acordo era de sexo sem compromisso, e foi sua idéia diga-se de passagem.
- Se houvesse amor entre nós, não teria sido assim.
- Amor? Eu te amei tanto que aceitei suas condições e as suas decisões, mas toda vez que eu começava a falar em algo mais sério, você pulava fora. Não era eu que tinha problemas com situações difíceis.
- Você não podia assistir a um casamento que ficava possessivo, sonhava acordado. E nós tinhamos as nossas carreiras para cuidar. Seria absurdo casarmos.
- Absurdo se fosse comigo não é? Mas o que você fez quando saiu da Academia? Casou-se com o Jeff, sem ouvir ninguém.Fale a verdade, o problema era eu.
- Você foi para a guerra...
- Fui convocado,e você sabia que eu iria para lá em algum momento, sou fuzileiro.
- Sim, você é um fuzileiro até seu último suspiro, então de qualquer forma você não estaria comigo. Nunca esteve, nem mesmo quando Jeff morreu.
- Não podia sair de onde eu estava para vir enterrar seu marido, sempre nos detestamos.
- Por isso mesmo você devia ter voltado, não por ele, mas por mim, eu estava livre dele.
- Mas eu não podia vir...
- Claro que você não podia, tinha que ficar com os seus soldados, ensina-los a matar mais rápido, eu não importava...- disse gritando e eu não me segurei:
- Não pude vir porque tive que recolher os pedaços do Cassillas para mandar num saco preto para a familia dele.Ele foi burro o bastante para pisar numa mina para me salvar. - gritei de volta e ela arregalou os olhos:
- Oh Julian...Eu não sabia...Acho que ninguém soube.- ficamos nos encarando por alguns segundos e ela disse dando um passo na minha direção:
- Não posso me envolver com você, por isso tenho mantido distância. Sou sua chefe e muito tempo se passou...
- Quero me envolver com você, e não vou acusa-la de assédio.E ver você depois deste tempo todo só me fez ter certeza de que quero uma chance. – disse dando outro passo e ficando bem perto dela.- e continuei:
- Falei sério quando disse que pediria transferência, posso me adaptar em qualquer lugar.Não vou prejudicar a sua carreira.-e  ela frisou:
- As nossas carreiras seriam prejudicadas...Mas eu não posso me jogar num relacionamento, tenho que pensar em minha filha, sempre vai ser assim, é bom que saiba que ela virá primeiro sempre.
- Gosto da sua filha e ela também gosta de mim, afinal sou muito mais bonito que o tio John. Sério que você saiu com o Weasley?-  provoquei e ela cutucou meu peito e segurei sua mão e ela não puxou de volta:
- John é um amigo, tomamos uns drinks, apenas isso... As pessoas não podem saber sobre nós...
- Isso nos afastou uma vez, Lena.- disse franzindo a testa e me afastando e ela respondeu me puxando pela camisa:
- No trabalho não podem saber, ou seremos suspensos e a equipe dividida, mas nossos amigos e a família sim, pensaremos numa solução ok?Prometo. - olhei para ela e quis saber:
- Pode ficar esta noite?
- Achei que não fosse pedir.- nos beijamos enquanto eu a erguia nos braços como nos velhos tempos e a levava para a cama.

Alguns meses depois, Elena e Sophie viajaram  de férias para Washington para visitar nossa amiga Amber e foi ela que sem querer deu a solução para o nosso problema.

Cause I don't wanna lose you now
I'm lookin' right at the other half of me
The vacancy that sat in my heart
Is a space that now you hold
Show me how to fight for now
And I'll tell you, baby, it was easy
Comin' back into you once I figured it out
You were right here all along
It's like you're my mirror
My mirror staring back at me
I couldn't get any bigger
With anyone else beside me
And now it's clear as this promise
That we're making
Two reflections into one
Cause it's like you're my mirror
My mirror staring back at me
Staring back at me

You are, you are the love of my life



 Nota da autora: trecho de Mirrors de Justin Timberlake