Posted: sábado, 9 de maio de 2015 by Unknown in
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Londres, janeiro de 2028.

Voltar a Londres depois de nove anos fora não foi tão difícil como eu pensava. O ar familiar a cada rua que eu passava me fazia perceber o quanto eu sentira falta de casa, mesmo que nunca tivesse admitido todo esse tempo.

Minha equipe se instalou no escritório da Scotland Yard já no dia 1º de janeiro e foi preciso apenas 15 minutos para que todos estivessem 100% entrosados. Facilitou bastante o fato de Kaley, James, Lena, Emma e Patrick já se conhecerem, mas Oleg, o único que ainda não conhecia os demais, conquistou a todos bem depressa com seu jeito despretensioso e bem humorado. Nossa rotina era intensa. Já no primeiro dia surgiu um caso que nos colocou a prova, mas que pra mim serviu para reforçar que havia escolhido as pessoas certas para trabalhar comigo. E quando um caso se resolvia, um novo já surgia sem nos dar tempo de respirar.

Trabalhávamos em um ritmo enlouquecedor, mas no fim do mês, depois de um caso particularmente complicado, consegui que a equipe tivesse um merecido dia de folga. Havia tirado o dia livre para passear pela cidade de carro, ver o que era novidade, mas meus planos haviam ido pelo ralo quando meu carro ficou preso na nevasca. Precisei percorrer a cidade a pé, o que encurtou o passeio pela metade e fez com que meu dia terminasse debaixo das cobertas vendo TV.

O dia seguinte havia amanhecido com alguns tímidos raios de sol. A forte neve que insistiu em permanecer na cidade durante todo o mês de hoje deu uma trégua. O canal do tempo na TV já não falava mais em nevasca e não pedia mais que as pessoas evitassem sair de carro. “Ótimo!”, pensei. Parece que vou conseguir resgatar meu carro no Hyde Park.

Embora o sol estivesse começando a aparecer mais, ainda estava muito frio. Caminhava apressada pelas ruas tentando proteger meu rosto do vento cortante com um cachecol, mas não estava surtindo muito efeito.

O carro estava parado em frente a um dos portões do parque e resolvi cortar caminho por dentro dele para evitar um grupo de adolescentes uniformizados que pelo horário estavam fugindo da aula. O parque estava quase deserto e ao atravessar a ponte, notei uma criança sentada sozinha, brincando de desenhar na neve acumulada no banco. Olhei ao redor e como não vi nenhum adulto em um raio de 500 metros, achei melhor me aproximar.

- Ei, tudo bem? – parei em frente ao garoto e ele me olhou com uma carinha triste – Qual é o seu nome?
- Dashiell.
- Olá Dashiell, me chamo Amber – sentei ao seu lado e mostrei o distintivo – Sou policial. Onde estão seus pais?
- Papai está em casa com a minha irmã, ela está doente.
- Por que não está na escola? – perguntei apontando para o casaco que ele usava. Era da Windsor Kindergarten.
- Mamãe me buscou para me levar no Science Museum.
- E onde está sua mãe? – ele deu de ombros – Ela deixou você sozinho?
- O telefone dela tocou e ela pediu para eu esperar enquanto ela atendia.
- Quando foi isso?
- O ponteiro pequeno estava aqui – ele puxou minha mão e apontou para o numero 10, depois apontou para a torre com um enorme relógio que podia ser vista daquele ponto do parque.

Olhei para o relógio no meu pulso. Eram 12h. Esse menino estava sozinho há quase duas horas no frio. Onde está a mãe dessa criança?

- Você sabe o telefone da sua mãe, Dashiell? – ele negou com cabeça – E o do seu pai?
- Também não, mas eu sei onde eu moro. Fica em Chelsea, mas eu não sei o nome da rua.
- Se passarmos por ela você a reconhece? – ele assentiu – Isso já basta. Vamos, vou levá-lo para casa.

Ele olhou para mim outra vez, ainda tímido, mas sorri e estendi a mão para que ele me acompanhasse. Caminhamos até meu carro e quando chegamos a Chelsea, diminui a velocidade para que pudesse reconhecer sua rua e a entrada do prédio. Quando ele finalmente apontou, senti um aperto no peito. Ele estava apontando para o prédio onde Rupert morava quando ainda namorávamos. Estacionei na porta e descemos.

O porteiro logo o reconheceu, então estávamos no lugar certo. Dashiell apertou o número 4 no elevador, na cobertura. Mesmo prédio, mesmo andar. Foi só então que olhei de verdade para o menino todo agasalhado ao meu lado e notei que o pouco cabelo que era visível com o gorro que usava era vermelho. Como não havia reconhecido? Eram tão parecidos. Poderia ser simplesmente uma coincidência, mas conseguia ouvir a voz de Kaley na minha cabeça dizendo que não existem coincidências, apenas interferência divina. Talvez fosse isso mesmo.

Ouvi passos descendo uma escada e Rupert abriu a porta. Seu olhar confuso me viu primeiro e o que quer que ele fosse dizer, ficou perdido quando viu Dashiell ao meu lado. O menino correu na direção dele e Rupert agachou depressa para abraçá-lo.

- Apertado, papai. Apertado! – ouvi sua voz abafada pelo abraço sufocante que ele deu no pai e Rupert o apertou mais.
- Dash, o que houve? Por que não está na escola? Você está bem?
- Ele estava sozinho no parque, disse que a mãe o buscou na escola para levar ao museu – respondi quando ele não disse nada.
- E onde está sua mãe? – ele perguntou e olhou rápido para mim.
- Ela me esqueceu – Dashiell deu de ombros e ele suspirou.
- Dash, você sabe que a mamãe ama você, não é? – ele assentiu ainda sem se soltar do abraço – Tenho certeza que ela deve estar preocupada por não encontrá-lo – ele deu um suspiro que foi de partir o coração – Está melhor? – ele assentiu outra vez – Certo. Vá lá para cima, faça companhia a sua irmã, subo daqui a pouco.
- Obrigado, policial Amber – ele correu na minha direção e abraçou minha perna tão depressa que não tive tempo de reagir.
- De nada, Dashiell – e não pude evitar sorrir também quando ele deu um sorriso mais animado antes de subir as escadas.
- O que aconteceu? – Rupert perguntou assim que ele subiu, fazendo sinal para que entrasse.
- Encontrei-o perdido no Hyde Park e me aproximei. Ele disse que estava com a mãe, mas ela saiu para atender o celular e não voltou para buscá-lo. E isso foi às 10h.
- Abby, eu vou matá-la. Eu juro que vou matá-la.
- Não aconselho dizer isso para uma policial – disse em tom de brincadeira e ele riu.
- Desculpa, estou um pouco nervoso. Meu filho estava sozinho em um parque e podia ter sido seqüestrado, porque a louca da mãe dele o abandonou lá.
- Mas não aconteceu nada, ele está bem, se acalme.
- Eu sei, desculpa.
- Bom, tenho que ir, estava a caminho do trabalho.
- Ah Merlin, desculpa. Nem perguntei como você está – Rupert parecia atordoado. Acho que era muita informação em pouco tempo – Não foi exatamente assim que achei que fossemos nos reencontrar depois de tantos anos. Quando tempo tem? Nove anos?
- Quase isso já. Também não achei que seria assim.
- Quer tomar alguma coisa? Estava fazendo café na hora que vocês chegaram.
- Não, tudo bem, estou mesmo atrasada pro trabalho. Fica pra próxima.
- Vai ter uma próxima?
- Claro, por que não? – disse já caminhando para a porta. Mulheres deviam ser proibidas de tomar decisões ao reencontrarem um ex – Contanto que ela não comece comigo encontrando sua filha perdida na rua e trazendo pra casa, não vejo problemas.
- Vou me certificar de que isso não aconteça – ele riu. Merlin, o que eu estava fazendo? – Então posso ligar pra você?
- Kaley tem meu numero – respondi sorrindo e abri a porta do elevador.
- Vou pedir a ela. Obrigado por trazê-lo em segurança para casa.
- Não foi nada.


Ele assentiu e a porta do elevador se fechou. Encostei o corpo na parede, minhas pernas fraquejando. O que eu havia feito?

Posted: sexta-feira, 25 de outubro de 2013 by Artemis Chronos in
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Tudo começou com uma sensação repentina. Um brilho de esperança. Do nada aquela sensação surgiu e lembrarei pra sempre a forma como nasceram lágrimas nos meus olhos e um largo sorriso...
E da mesma forma que surgiu... Ela desapareceu.

2024

- Nós viemos assim que soubemos! - Keiko falou se jogando nos meus braços. Tuor havia aberto a porta da nossa casa, mas ela simplesmente o ignorou e correu até mim.
Nossa casa estava lotada com todos os nossos amigos e eles se levantaram para ir falar com Hiro e Keiko, os últimos a chegar.
Enquanto Tuor e Hiro se cumprimentavam, Keiko dava pulinhos ao meu redor e eu estava tão feliz que fui contaminada pela alegria dela e pulava junto, enquanto ríamos e chorávamos ao mesmo tempo. Assim que ela começou a dar os pulinhos de alegria, todas as outras garotas, que estavam sentadas ao meu redor, começaram a dar pulinhos animados também.
Só depois de algum tempo que nós nos acalmamos e Keiko me deu um último abraço forte e deixou Hiro falar comigo, enquanto ia cumprimentar Tuor.
Hiro também me abraçou com força e me deus os parabéns, sorrindo alegremente. Percebi então que ele tinha deixado uma caixa de madeira branca com Tuor e agora Keiko a tirava dele, com pressa, como se não quisesse que ele visse algo.
- O que vocês estão aprontando? - Eu perguntei, curiosa e eles sorriram, sendo Hiro a responder.
- Assim que recebemos a sua mensagem nas nossas penas, queríamos vir logo pra cá, mas antes queríamos ter um presente em mãos. - Ele falou após dar um beijo em Clara.
- Por sorte, eu já tinha tido essa idéia antes e sabíamos onde procurar. - Keiko completou. - Por isso nos atrasamos. Fomos buscar seu presente! - Ela falou toda alegre e estendeu a caixa a frente.
- E como você é uma garota muito sem graça, precisamos enfeitiçar a caixa para impedir de você perceber o que era antes da hora! - Hiro falou rindo, quando peguei a caixa. Ela era pesada, talvez uns 2 ou 3 quilos e eu estava morta de curiosidade.
- Vocês sabem como sou curiosa! O que tem aqui?
Eu mal terminei de perguntar e senti um movimento na caixa e um latido baixo. Tuor, também curioso, veio pro meu lado e segurou a caixa enquanto eu a abria. Quando deixei a tampa cair no chão, dei de cara com um lindo filhote de Akita.
Ele era lindo! Completamente branco, todo peludinho e fofo, tinha um olhar brilhante, sério e divertido ao mesmo tempo. Senti uma empatia enorme por ele e coloquei minha mão dentro da caixa para pegá-lo. Ele pulou alegre para o meu colo e começou a lamber meu rosto, enquanto eu abria um sorriso enorme.
- Ele é lindo! - Eu falei, agora ficando com lágrimas nos olhos. O filhote olhou ao redor curioso, abanando o rabo e se aconchegando no meu colo.
- É ela. É uma fêmea! - Keiko falou. - Que nome vai dar?
- Amaterasu! - Eu nem precisei pensar. No primeiro momento que a vi eu percebi que daria esse nome. As garotas fizeram uma cara de que não gostaram do nome, mas Clara riu, juntamente com os garotos.
- Combina realmente! É o nome daquele lobo branco do jogo Okami, não é? - Rupert perguntou e eu assenti.
- É também a deusa do Sol japonesa. - Hiro completou.
- Mas o apelido dela vai ser Amy! - Eu falei e deixei Tuor pegar Amy no colo. Ela o cheirou e o lambeu, mas pouco depois já queria voltar para o meu colo.
- Os Akitas são os samurais caninos e dizem que escolhem um dono só. - Hiro falou, enquanto Amy me lambia de novo.
- Já sabemos quem ela escolheu então! - Clara falou rindo.
- Ih, Tuor, então é a Arte que manda na casa hein? - Jamal brincou e todos riram.
- Achamos que seria um presente maravilhoso! Ela vai poder crescer junto do seu filho, ou filha! - Keiko falou, acariciando minha barriga.
Eu me emocionei e fiquei com lágrimas nos olhos, abraçando-a junto de Hiro, enquanto ainda mantinha Amy no colo.
Todos queriam brincar com Amy e ela logo corria pela casa, alegre e cheia de energia. Eu ainda me sentia um pouco emocionada ao vê-la correr de um lado para o outro e, acariciando minha barriga e abraçada a Tuor, fiquei imaginando que dentro de 7 meses haveria uma criança para correr com ela.

2 meses depois

Deviam ser umas 6 da manhã e eu já estava de pé e banho tomado, pronta para sair de casa. Quando sai do banho ouvi Amy latindo e assim que terminei de me arrumar olhei pela janela do meu quarto, achando isso estranho. Ela latia na direção da casa e quando me viu na janela soltou um latido feliz, animada por me ver.
Meus dias eram extremamente corridos, com muitas coisas para fazer e eu me desdobrava para fazer tudo. Geralmente acordava bem cedo e ia correr no parque que ficava próximo da minha casa, antes de ir para Avalon cuidar dos meus dragões, por volta das 7 da manhã. Ficava em Avalon até por volta de meio dia, quando ia para o Ministério ou onde quer que Hermione me mandasse ir trabalhar. Depois disso passava a tarde inteira trabalhando como auror, para no final da tarde voltar a Avalon para dar uma última conferida antes de ir pra casa.
Nossa casa, um presente de meus pais e meus sogros, ficava em Kensington, próxima ao Hyde Park e ao Kensington Gardens, o que era maravilhoso. Quando decidimos morar em uma casa, queríamos um lugar calmo e de preferência próximo a algum parque, para que eu pudesse manter minha atividade física sem problemas. A casa, encontrada por mamãe sem querer, era mediana, mas o seu terreno era enorme, com um gramado na entrada e um jardim aos fundos. Ela ficava próxima o suficiente do metrô para que eu e Tuor o usássemos para ir trabalhar e a vizinhança era bem tranquila, o que nos permitia aparatar se desejássemos. Tuor estudava em Londres para ser professor de Transfiguração, mas às vezes ia a Hogwarts para reuniões com Tio Ben ou para assistir alguma aula.
A casa era de dois andares, em um estilo antigo, porém simples. Ela já viera decorada, tanto de móveis dos antigos donos, quanto de alguns presentes de nossos pais e parentes, mas já havíamos dado o nosso toque pessoal a ela. No andar de baixo, ela tinha uma sala bem espaçosa, uma cozinha com saída para os fundos e uma suíte que transformamos em um escritório, além de um banheiro. No andar de cima ficavam os quartos propriamente ditos: havia a nossa suíte e mais dois quartos, assim como mais um banheiro. Não queríamos cair naquela pretensão dos pais de que os filhos nunca iam crescer e por isso queríamos que ele ou ela tivesse seu próprio espaço. Um dos quartos já estava sendo decorado para um quarto de criança, com tons neutros, já que ainda não sabíamos qual era o sexo do bebê. Havia brinquedos espalhados por todos os cantos e tínhamos acabado de terminar um painel pintado na parede com árvores e lagos, inspirado na praça central de Avalon. O outro estava sendo usado como biblioteca e sala de jogos, e estava cheio de livros e outras coisas, além da minha coleção de flores encantadas.
Os fundos da casa eram com certeza a maior parte do terreno. Havia grama em todo o terreno de trás e um caminho de pedra que levava da porta da cozinha até algumas mesas e cadeiras, com um pequeno lago artificial. Haviam algumas flores plantadas perto da porta da cozinha e uma pequena horta no canto direito. Porém, era o fundo do terreno que era mais bonito e minha parte favorita. Ele era dividido em duas partes: à esquerda havia um círculo de pedras que eu erguera com pedras e areia de Avalon. O círculo era conectado à rede de círculos que havia na Grã-Bretanha e Avalon, permitindo que qualquer pessoa com a minha autorização pudesse ir da minha casa para a Ilha e vice-versa, já que havíamos colocado proteções contra aparatação na nossa casa. Além disso, o círculo me servia para me reestabelecer e me manter ligada a Avalon. Na parte direita havia uma grande árvore de cerejeira, uma surpresa de Tuor. A árvore era linda, principalmente quando florescia ou quando as flores caiam e nosso quintal ficava cheio de pétalas de rosas. Foi ali, envolta da árvore, que construímos uma casinha de madeira para Amy e um cercado de metal. Nos primeiros dias que Amy ficou conosco, ela dormiu na cozinha, mas logo depois construímos esse pequeno espaço para ela e ela adorava brincar aos pés da cerejeira.
Durante o dia, ela ficava com o quintal todo para ela (e várias vezes quando chegávamos em casa, ela havia devorado alguma planta), mas a noite nós a prendíamos no cercado. Sempre que eu acordava, por mais cedo que fosse, Amy estava acordada me esperando e aquilo se tornou tão importante pra mim quanto meus exercícios diários. Após Amy tomar todas suas vacinas, comecei a levá-la para correr comigo no parque de manhã. Amy era tão calma e séria que ela andava comigo sem coleira e podia correr livremente ao meu lado. Ela era cheia de energia e alegria, mas fora de casa se comportava bem e nunca precisei me preocupar de andar sem coleira.
Depois da corrida matinal, eu voltava pra casa e tomava um banho antes de sair, deixando-a solta no quintal. Quando Tuor acordasse, ele iria brincar um pouco mais com ela antes de sair. Amy então ficaria sozinha até o almoço, pois eu e Tuor tínhamos cultivado o hábito de almoçarmos juntos, fosse em casa ou algum restaurante e sempre íamos visitá-la um pouco. Quando nenhum de nós dois podia ir ficar com ela na parte da tarde, uma das minhas sobrinhas ia visitá-la ou então eu deixava uma chave com Flonne e ela ia cuidar de Amy, juntamente de Diana, minha afilhada.

Assim que abri a porta dos fundos da minha casa, vi que Amy já me olhava ansiosa.
- Ei, Amy, bom dia! – Eu falei alegre, me aproximando dela. – Hoje não vamos poder correr, porque tenho uma reunião cedo, mas amanhã prometo que a gente compensa!
Amy havia crescido bastante em 2 meses e quando ficava em pé em duas patas, já batia na minha cintura. Ela latiu brevemente e se apoiou no cercado, abanando o rabo. Eu a soltei e ela se aproximou com cuidado de mim. Às vezes eu a achava quase humana, pois eu tinha certeza que ela sabia que eu estava grávida e que não podia pular em cima de mim. Ela geralmente ficava em pé e levantava minha camisa para lamber minha barriga, fazendo cócegas que eu adorava.
Por falar em gravidez, eu estava em meu quarto mês, extremamente feliz. A barriga começava a crescer e já estava um pouco grande. Graças aos deuses os enjoos pararam e eu começava a me sentir menos irritadiça. Estava muito animada, pois tinha uma consulta com minha ginecologista, minha mãe, para a semana seguinte. Mamãe tinha nos dito que nessa consulta provavelmente conseguiríamos ver o bebê em um ultrassom, inclusive saber seu sexo. Eu ainda não tinha decidido se queria saber o sexo do bebê, mas estava ansiosa para poder ouvir o bater de seu coração e vê-lo. Eu conseguia perceber muito bem o bebê se formando dentro de mim, principalmente quando eu meditava, mas poder ver uma imagem dele, isso era algo que eu esperava ansiosamente.
Eu estava colocando comida para Amy quando percebi que ela ficou tensa. Olhei para ela preocupada e ela estava me olhando fixamente. Tenho certeza que seus olhos estavam cheios de preocupação e logo em seguida, ela correu para o meu lado, cabisbaixa. Ela começou a chorar baixinho e eu me sentei no chão, preocupada com ela.
Ela logo subiu no meu colo e se aconchegou com a cabeça em minha barriga. Comecei a fazer carinho nela, e comecei a usar meus poderes para examiná-la. Ela parecia não ter nada de mais, mas estava preocupada, pois ela não parava de chorar baixinho e nunca foi de fazer isso.
Fui até a cozinha com ela no colo e deixei um bilhete para Tuor, pedindo que a levasse em um veterinário. Eu mesma queria levar, mas Hermione marcara uma reunião muito importante hoje de manhã e como chefe da sua segurança pessoal, eu não podia faltar.
Voltei para o quintal ainda preocupada e com ela no colo e olhei em volta, querendo ver se tinha algo errado. Tudo estava normal.
Coloquei Amy no chão e fiz carinho até ela se acalmar um pouco. Com dó no coração eu fui na direção da cozinha novamente. Amy ficou parada onde eu a deixei, me olhando com seus olhos negros e profundos. Só quando eu passei pela porta da cozinha que ela se mexeu e correu até a porta, latindo baixo.
Decidi acordar Tuor e contei pra ele o que estava acontecendo. Ele se levantou imediatamente e foi vê-la, enquanto eu ia embora. Ele prometeu me mandar alguma notícia assim que fosse a um veterinário. Não conhecíamos nenhum que estivesse aberto a essa hora da manhã, mas ele disse que procuraria alguém.

Horas depois

A reunião com os aurores e Hermione foi tranquila, como esperava que fosse. Revemos alguns planos e redividimos o nosso pessoal. Isso havia sido uma idéia minha que Hermione logo aceitou: passamos a revezar os aurores, para que todos desenvolvessem habilidades diversas, desde investigação à vigília.
As penas que eu dera para meus amigos em Hogwarts ainda funcionavam e muitas vezes nos comunicávamos por elas. Assim, Tuor me mandou uma mensagem por volta das 8 e meia dizendo que Amy estava bem e que estavam em um veterinário. Ela ainda estava cabisbaixa, mas sua saúde estava bem. Estranhamente, muito por sinal, recebi uma mensagem de um dos tratadores de dragões de Avalon informando que Fidelus estava inquieto e ansioso desde cedo. Eu fiquei preocupada na mesma hora, não era normal Fidelus e Amy sentirem-se estranhos assim. Os dois se davam muito bem, desde a primeira vez que eu os havia apresentado. Amy adorava brincar com Fidelus e meu dragão sabia como lidar com um filhote muito mais fraco e frágil que ele.
Comecei então a ficar preocupada de algo estar para acontecer comigo ou com algum amigo meu. Ao final da reunião, devia ser umas 10 da manhã, eu pedi que me deixassem um pouco sozinha e me sentei em minha sala, para meditar e usar meus poderes.
Eu não gostava de fazer isso, pois saber o futuro nem sempre é bom. Você perde um pouco do fator decisão, uma vez que o que você vê é apenas um futuro possível. Mas agora que você o viu, suas tentativas de mudá-lo, apenas aumentam a chance dele acontecer. E inconscientemente você começa a tomar decisões que vão te levar a ele.
Mesmo assim estava preocupada e decidi fazê-lo. Chronos falava mentalmente comigo de que também não sentia nada, mas concordou que era melhor não arriscar.
Fechei meus olhos e comecei a me concentrar em Tuor... Não senti nada de estranho para ele no futuro próximo. Ia começar a fazê-lo para mim, quando senti uma presença.
Ela era frágil e pequena, como uma consciência que acabasse de surgir. Num minuto eu não sentia nada, mas no seguinte, podia senti-la claramente. Abri os olhos surpresa e alerta, procurando algo de estranho na minha sala. Havia anos que não tínhamos problemas com vampiros ou outras entidades, mas eu continuava alerta. Então, percebi que a presença vinha de dentro de mim.
Toquei ao mesmo tempo minha barriga com uma das mãos e com a outra tapei minha boca, enquanto um largo sorriso surgia em meus lábios e lágrimas começaram a descer de meus olhos. Senti o coração bater mais forte, o meu e o dela. Pois era ela! Era uma menina! Era a minha filha!
Eu podia sentir sua presença, podia senti-la tomando consciência das coisas ao seu redor, de mim e de si mesma. Pude senti-la se mexendo lentamente em meu ventre, aconchegando-se a mim. Percebi que ela sabia quem eu era, podia sentir sua consciência tratando-me por “mãe”... Concentrei-me em Tuor, queria passar essa memória para ele, passar essa sensação! Era o momento mais feliz da minha vida!
E então senti uma nova presença, diferente, misturada a essa.
E veio a dor.
Até hoje não sei se o grito de dor foi meu ou da minha filha. Mas gritei a plenos pulmões, de dor, de medo e de tristeza. Com dificuldade me apoiei na mesa e não cai no chão, sentindo sangue descendo pelas minhas pernas, e a dor crescia cada vez mais. Eu sabia o que isso significava, queria não saber, mas eu sabia.
A porta da minha sala se abriu imediatamente e os aurores entraram correndo de varinha em punho. Hermione vinha na frente e vi seus olhos arregalados em mim.
- Mione. Salve o meu bebê. – Foi a última coisa que eu lembro de ter dito, antes de cair na escuridão completa.

Uma semana depois – Visão de Tuor Mithrandir

A casa parecia ter absorvido o nosso clima. Ela estava silenciosa, escura, e parecia tão vazia. O único barulho era o de Amy latindo.
Entrei abraçado a Artemis. Ela se apoiava em mim e tinha o olhar vazio, sem perceber nada. Ela havia pedido para ficar sozinha e eu também preferia ficar sozinho, por isso nenhum de nossos amigos ou familiares estavam conosco.
Eu a sentei no sofá da sala e me ajoelhei diante dela, apertando suas mãos entre as minhas com força, beijando-as em seguida. Ela me olhou e mantemos nosso olhar, ela tentou sorrir e aquilo quase me fez chorar. Mas eu tinha que ser o mais forte possível, ela precisava da minha ajuda.
Arte sempre foi a garota mais forte que eu conheci, e acho que foi essa força que me fez me apaixonar por ela. Agora, iniciando sua vida como mulher adulta, ela estava ainda mais forte e radiante. As responsabilidades e correria pareciam lhe dar mais energia e deixá-la ainda mais bonita.
Mas agora ela estava melancólica como nunca esteve antes. Parecia não ter mais energia para nada.
- Vou lá em cima pegar umas coisas e depois vou fazer um chá pra você. Já volto. – Eu falei, beijando-a carinhosamente na testa.
Subi as escadas rapidamente para pegar sua coleção de flores para tentar animá-la, enquanto me lembrava da horrível conversa que tivemos ontem com Mirian.

No Dia Anterior
- Eu preciso ter uma conversa séria com vocês. – Mirian falou, fechando a porta do quarto onde Artemis estava internada. Arte estava acordada, mas muito cabisbaixa, e eu estava sentado na beirada de sua cama, apertando sua mão. Havíamos perdido nossa filha, ela havia falecido sem nem ter a chance de viver. O aborto fora espontâneo e quando Hermione conseguiu levar Arte para o Hospital, por mais rápido que tenha sido, nossa filha já estava morta.
O que nos dava força para continuar em frente era pensar que ainda poderíamos ter outros filhos.
- Eu estava em uma reunião com outros médicos, mas eu queria falar com vocês pessoalmente, afinal é da minha filha que estou falando. – Mirian falou e vi como ainda estava triste.
- Fale logo, mãe. – Arte pediu e Mirian assentiu.
- Não tem como falar isso de forma bonita ou boa, e prefiro ir direto ao ponto. – Mirian falou, sentando-se na outra beirada da cama. Ela então apertou a mão de Arte com força e vi que segurava as lágrimas. – Você ficou estéril, minha filha, não poderá mais ter filhos.
Foi como se Arte entrasse em choque. Ela abriu a boca para tentar falar, mas nenhum som saia de seus lábios. Naquele momento eu percebi que Arte já sabia disso, mas vinha mentindo para si mesma de que tudo ia ficar bem, de alguma forma milagrosa.
Ser mãe era um dos maiores sonhos de Arte e agora estava destruído. Ela começou a chorar e me puxou para me abraçar. Nos abraçamos forte, enquanto os soluços e lágrimas dos dois se misturavam. Mirian afagou nossas cabeças com carinho e nos deixou a sós.

Naquela noite, quando Arte finalmente dormiu, exausta, eu procurei Mirian e ela me levou para ver alguns exames, me explicando com detalhes o que tinha acontecido.
Nossa filha fora morta pelo organismo de Artemis, não tem outra forma de explicar. Ela era meio-vampira e o sangue de Artemis a matou.
Mirian estava arrasada, não apenas por ter perdido a neta de forma tão horrível, mas por não ter pensado nisso antes e não ter podido ajudar sua filha. Ela foi uma das responsáveis pela pesquisa de gestações vampíricas e tratou da gestação de Luna. Mais ainda, foi Mirian quem fez as pesquisas mostrando que o sangue dos Chronos realmente se comportava como metal goblin, absorvendo qualquer característica que o tornasse mais forte. E ela nunca imaginou que um filho de Artemis poderia ser meio-vampiro. E que o organismo de Artemis, tão puro devido a enorme quantidade de água sagrada e sangue de dragão que ela consumiu nos últimos anos, iria danificar de forma tão intensa um feto meio-vampiro.
E ninguém sabia exatamente como se comporta um feto vampiro, ou mesmo meio-vampiro. Só houve três casos de mulheres grávidas de vampiros até hoje: a própria Mirian, Luna e Megan Langston, e nos três casos sabiam desde o início da gestação que era possível nascer um filho vampiro, por isso todos os cuidados haviam sido tomados. Mas no caso de Arte, não havia nenhuma preocupação com isso e em dado momento, nossa filha não resistiu ao corpo da própria mãe.
Mas era pior do que isso.
A situação fora tão intensa que os ovários e o útero de Arte foram completamente destruídos no processo. Durante a operação para tentar salvar a criança, os ovários de Artemis foram retirados. O útero fora mantido, mas não tinha como ser curado. Mas ainda tinha algo pior. Com horror Mirian me contou que nada restou de nossa filha, apenas cinzas...

Eu balancei a cabeça, tentando esquecer mais uma vez daquela conversa, mas era impossível fugir daquele pesadelo. Senti lágrimas nos meus olhos e fui até o quarto que tínhamos separado para nosso filho. Senti uma dor no coração e entrei lentamente. Peguei um pequeno travesseiro e o apertei contra meu peito. Sai dali e tranquei a porta. Arte não estava preparada para entrar naquele quarto. Antes de descer, tentei me acalmar e forçar o melhor sorriso que eu podia. Enquanto descia a escada, tive uma idéia.
- Por que não tiramos umas férias, Arte? Podemos ir para a Croácia, você sempre quis conhecer... – Parei de falar quando vi que Arte não estava sentada no sofá e fiquei preocupado.
A porta da frente continuava trancada e corri para a cozinha preocupado, ainda mais quando vi a porta aberta e passei correndo por ela.
Então a vi.
Arte estava sentada no chão, encostada no tronco da nossa árvore de cerejeira. Amy estava parada em frente a ela, enquanto Arte a abraçava com força e soluçava. Amy estava quieta e tranquila como se a consolasse e pudesse saber o tipo de coisa que Arte estava sentindo. Eu fui andando lentamente até elas e quando cheguei perto, as duas me olharam e pareciam ter o mesmo olhar, mas diferentes.
Arte tinha o olhar da tristeza, falta de esperança e desespero, enquanto os olhos de Amy me transmitiam serenidade e sabedoria, como se me dissesse que tudo ia ficar bem. Sentei-me ao lado de Arte e nos abraçamos, com Amy no meio de nós. Nos entregamos a tristeza e choramos as lágrimas que vínhamos segurando, enquanto Amy nos apoiava silenciosamente, mas de uma forma de puro carinho e amor.

Let my eyes take in, the beauty that's here
That's left on this earth, my ears long to hear
A melody... Give me sight...

Nothing will be forever gone
Memories will stay and find their way
What goes around will come around
Don't deny your fears
So let them go and fade into light
Give up the fight here

N.A.: Chasing the Dragon, Epica.

Posted: quarta-feira, 31 de julho de 2013 by Rupert A. F. Storm in
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Já haviam se passado cinco dias desde a morte de Otter e eu me sentia mais perdido do que nunca. Não conseguia focar no trabalho, ficar dentro de casa encarando a tela do laptop era enlouquecedor, eu não sabia o que fazer para me distrair e parar de pensar no que havia acontecido. E não queria pedir ajuda à família, estavam todos tão ou mais abalados que eu, não seria justo. Quando minha mãe morreu eu era criança, era normal apenas chorar, mas agora eu não sabia como reagir. Estava entre a depressão e o estado de choque.

Foi Jamal quem me tirou de dentro de casa. Vendo meu desespero em me afastar ao menos um pouco do que me cercava, me arrastou de dentro do loft para seu apartamento, apenas alguns quarteirões de distancia. Não que tivéssemos muito que fazer, estávamos deprimidos demais para bater papo, mas só de sair de casa senti-me um pouco melhor.

Jamal havia se tornado meu melhor amigo desde que nos formamos. Quando ele começou com essa história, ainda de brincadeira enquanto tentava me dar algumas dicas de como me soltar mais, não imaginava que ele ia mesmo se tornar a pessoa que estava sempre ali para o que fosse preciso. Foi ele quem me ajudou a me adaptar a morar sozinho e quem estava do meu lado quando Amber foi embora. E fui eu quem o convenceu a voltar ao plano de estudar direito. Um ano depois de formados e ele já estava de volta no trilho, para o alivio do tio Quim, e agora estagiava com Gabriel. Estava trabalhando como seu assistente.

- Preciso sair daqui – disse de repente, atirado em um dos sofás da casa dele.
- Quer ir pra onde? – ele respondeu atirado do outro.
- Sei lá. Queria poder sumir.
- Sumir não seria uma má idéia. Tem um papel caindo do seu bolso – ele falou e peguei, mas deixei um suspiro desanimado escapar quando vi o que era – O que é isso?
- Uma Bucket List – ele riu – Eu sei, é idiota. Fiz porque o Dr. Pace pediu, na época que estava fazendo terapia ainda na escola.
- Posso ver? – estiquei a mão e ele pegou o papel – Wow, tem muita coisa.
- A maioria é besteira – ri também – Poucas coisas são sérias.
- Ficar com ela? – ele leu o penúltimo item e dei de ombros – Ela é...
- Sim. Eu disse que a maioria era besteira. Esse ai já era.
- A vida é uma caixinha de surpresas, cara. Nunca se sabe o dia de amanhã.
- Onde leu isso? Na caixa de cereal? – e ele riu.
- Pra que você quer aprender Mandarim?
- Sei lá, talvez pelo mesmo motivo que quero dar um soco em um tubarão? – respondi e ele riu olhando para a lista.
- Ah, Nº 14. Esse talvez seja o último item que consiga realizar, então é melhor focar nos outros primeiro.
- Não se preocupe, não pretendo cumprir nada. Pode jogar fora depois de ler.
- Como assim? Mas você ainda não cortou nenhum item! – ele sentou no sofá – Ok, temos que consertar isso. Acho que aprendemos da maneira mais dura essa semana que a vida é curta. E se você tem 40 itens nessa lista, é melhor começar a riscar alguns.
- Jamal, sério, não estou no clima. Essa lista é idiota.
- Não é não. Você escreveu um monte de bobagens, realmente, mas algumas coisas são legais. Escrever uma peça, ter um dos seus livros transformado em um filme, ter filhos, viajar por um ano com seu melhor amigo. Quer saber? Como eu sou seu melhor amigo e quero viajar por um ano com você, não vou deixá-lo desistir da lista. Vamos riscar algo daqui agora mesmo. Que tal o Nº 10? – e me devolveu ao papel, levantando do sofá.
- Beber uma garrafa de tequila em 10 minutos? – li e balancei a cabeça – Jam, isso é uma péssima idéia.
- Cenoura, você precisa parar de pensar demais – ele voltou do bar com duas garrafas na mão – E não tem uma hora melhor para beber do que essa. Uma pra cada!

No começo resisti, mas Jamal tinha razão. Que melhor hora para encher a cara do quando se está deprimido? Ele abriu as garrafas, dispensamos os copos e dentro dos 10 minutos estipulados na minha Bucket List terminamos as tequilas. E é claro que ficamos completamente bêbados, o que nos animou um bocado e resultou em uma vontade súbita de ir para a rua.

Já era tarde da noite e caminhamos sem rumo pelas ruas, sem perceber que íamos em direção ao Hyde Park. Nós andamos muito. O parque estava vazio quando chegamos exceto por alguns guardas da policia montada que conversavam distraídos na esquina. Os cavalos estavam amarrados na grade, relativamente afastados dos policiais. Foi Jamal quem teve a idéia.

- Vamos roubar aqueles cavalos!
- O que? – mesmo bêbado sabia que aquilo era loucura – Ficou louco?
- Mas está na lista! – ele argumentou – Nº 15: Roubar um cavalo da Policia Montada.
- Ah sim, então tudo bem! – aparentemente, minha sanidade era temporária.

E nós fomos. Desamarramos dois cavalos, montamos, cavalgamos por cerca de um quarteirão e fomos apanhados pelos policiais que não tiveram a montaria seqüestrada. É claro que fomos presos e acabei riscando o terceiro item da minha lista. Nº 18: Ser preso por algo maneiro.

Jamal e eu não parávamos de rir enquanto éramos levados pela viatura que eles chamaram até a delegacia mais próxima. Fomos colocados em uma cela com um homem que roncava alto no banco e ainda assim não conseguíamos parar de rir. Estávamos bêbados, ora, o que mais esperar?

Gabriel foi nos tirar de lá não muito tempo depois. Em meio às risadas, lembro-me do olhar furioso dele enquanto nos arrastava para fora da delegacia pela porta dos fundos e nos levava de volta ao meu loft. Minha última lembrança da noite foi dele me atirando na cama de sapato e tudo e batendo a porta.

°°°°°°°°

Acordei com uma dor de cabeça de outro mundo na manhã seguinte e, infelizmente, lembrava de tudo que havia feito. Gabriel ainda estava no loft e continuava enfezado quando apareci na sala. E para minha surpresa, Becky estava com ele. Ótimo, eles iam se juntar para fazer uma intervenção?

- Está feliz? – ele perguntou irritado e piorou quando dei de ombros – Eu vou bater nele.
- Calma, Biel! – Becky falou menos irritada, mas também não estava alegre – Rup, você tem idéia do que fez ontem?
- Sim, eu roubei um cavalo da guarda montada. Não estou orgulhoso disso.  Não, na verdade, estou orgulhoso sim – e ri, o que só fez Gabriel ficar ainda mais louco.
- Você está rindo? – ele basicamente gritou e me assustei um pouco – Rupert, você não é mais o adolescente anônimo que deixava McGonagall enlouquecida com o resto da turma porque aprontava. Você agora é uma pessoa publica! Você foi preso!
- Desculpa! Estávamos bêbados, não pensamos.
- Esse é o problema, você precisa pensar antes de fazer as coisas!
- Mas eu sempre penso, Jamal disse que eu precisava parar de pensar!
- Jamal é outro desmiolado e você não tem que dar ouvidos a ele!
- Você o contratou como seu assistente. Por que fez isso se acha ele um desmiolado?
- Por que sei que tem potencial, mas não quando está bêbado!
- Parem de gritar vocês dois! – Becky gritou também.
- Olha Gabriel, eu sinto muito, isso não vai mais se repetir. Foi estupidez, eu sei, mas está tudo bem.
- Ele não faz idéia, Biel. Explique com calma, por favor – Becky pediu e Gabriel suspirou, sentando no sofá.
- Ontem quando fui buscar vocês na delegacia, enquanto pagava fiança encontrei um repórter de tablóide. Ele sabia que você estava lá, alguém contou, mas precisava de uma foto para provar. Precisei da colaboração do policial responsável, que por sua sorte é muito fã dos seus livros, para não divulgar nada. E ele nos deixou sair pelos fundos, então ele não nos viu.
- Maninho, se ele tivesse tirado uma foto sua saindo da delegacia, você tem idéia do impacto que isso teria na sua imagem? Você é uma espécie de modelo para crianças.
- Mas eu nunca pedi isso, não quero ser modelo de ninguém!
- Mas você é, então é melhor se acostumar e começar a tomar decisões melhores.
- Não agüento mais isso! Vocês me pressionando, a editora me pressionando, eu não consigo me concentrar! Amber foi embora, Otter morreu e vocês querem que eu sirva de exemplo pra crianças? Meu primo morreu! Ele explodiu! Não tinha nem um corpo inteiro para enterrar! Eu não preciso de ninguém me amolando agora!
- Otter também era nosso primo, nós entendemos, mas isso não é motivo pra jogar fora todo o trabalho que fez até agora!
- Não, vocês não entendem, ninguém entende!

Voltei para o quarto furioso e abri o armário, pegando uma mala e começando a atirar peças de roupa dentro. Os dois entraram logo depois, mas os ignorei e continuei a encher a mala de roupas.

- O que está fazendo?
- Juntando tudo que preciso para passar um tempo fora.
- Quanto tempo? Para onde vai?
- Não sei, parem de fazer perguntas! Só quero desaparecer daqui!
- Pare com isso agora, você não vai a lugar algum! – Gabriel disse autoritário e o encarei.
- Você é meu assessor, não o meu dono. Não pode me dizer o que fazer!
- Posso se isso vai afetar o seu futuro!
- Parem com isso! – Becky disse histérica – Parem de brigar, por favor! Rup, se acalme, você não precisa ir embora.
- Preciso sim, eu não quero mais ficar aqui. Só quero um tempo longe, só isso – olhei para Gabriel cansado – Não vou quebrar o contrato, sei que tenho um compromisso com a editora e vou terminar os livros, quero terminar eles. Só o que estou pedindo é um tempo para esfriar a cabeça. E quero fazer isso longe daqui.
- Quanto tempo quer ficar longe? – ele perguntou mais calmo.
- Um ano – arrisquei, embora achasse que ele fosse vetar de cara.

Gabriel não disse nada, mas vi que ele estava considerando. Ele entendia o que eu estava pedindo. Ele também, quando era mais novo, precisou de um tempo longe de tudo que era familiar. Ele também saiu pelo mundo sem rumo, justamente para encontrar um. Ele fez algumas ligações, conferiu outras coisas no celular e enfim me encarou, já sem o semblante irritado de antes.

- Ok, não vou impedir que viaje, mas vou precisar impor algumas condições.
- Tudo bem, peça o que quiser – não acreditei quando ele topou.
- Só um minuto, preciso de mais uma coisa antes de explicar – e saiu do quarto.
- Vai mesmo embora? – Becky sentou na cama com um olhar triste.
- Não estou indo de vez, só quero ficar um pouco longe. Encontrar meu caminho.
- Então tem algo que preciso lhe contar que ninguém sabe ainda, nem mesmo Connor – ela pegou minha mão e a levou até sua barriga – Você vai ser titio.
- Você está grávida? – perguntei abrindo um sorriso enorme, o primeiro em dias, e a abracei – Ah Becky, que noticia maravilhosa!
- Descobri ontem, mas não consegui encontrar um meio de contar a ninguém, com todos tão deprimidos.
- Mas é por isso mesmo que você precisa contar. Estão todos sem esperança de nada, a notícia de que está esperando um bebê é a injeção de animo que a família precisa.
- Tem razão, vou contar ao Connor hoje e depois aos outros. Papai vai ficar louco.
- Merlin, ele vai ser vovô. Vai se sentir velho.
- Ai maninho, vou sentir saudades – ela me abraçou com os olhos cheios de lagrima – Um ano é muito tempo.
- Passa rápido. E prometo manter contato sempre, quero acompanhar você ficando gigante mesmo de longe – e ela me deu um soco no braço.
- Promete que vai estar aqui para o primeiro natal do bebê?
- Eu volto a tempo, não se preocupe.

Gabriel voltou ao quarto e vinha arrastando um Jamal com a cara toda amassada de quem tinha acabado de ser arrancado da cama. Não consegui impedir a risada vendo ele olhar para a mala aberta na cama e minhas roupas espalhadas, atordoado.

- O que está acontecendo aqui? Está de mudança?
- Rupert vai viajar. Vai passar um ano viajando pelo mundo e você vai com ele.
- O que? – dissemos ao mesmo tempo.
- Jamal está sendo promovido, ele agora é seu assessor particular. Durante esse seu ano fora, vou agendar alguns eventos que você precisa comparecer. Já era hora de organizar uma turnê mundial e o lançamento do Prisioneiro de Azkaban é a desculpa perfeita. Não me importa o roteiro que pretende fazer, desde que esteja nas cidades agendadas na data certa.
- Ok, sem problemas. Vai ser divertido.
- E você precisa encontrar tempo para escrever o quarto livro – assenti e ele olhou para Jamal – E o seu trabalho é manter ele na linha. Fazer com que não perca nenhum dos eventos programados, escreva e fique longe de confusão, entendeu?
- Mas eu estou fazendo faculdade! Papai não vai gostar disso.
- Você vai trancar a faculdade por um ano. Sei pai sabe que está no caminho certo agora, não vai se preocupar porque sabe que quando voltar, vai se formar.
- Eu não posso nem opinar e dizer se quero ir ou não?
- Não, você vai. E vai receber um salário para isso, então é bom fazer o trabalho direito. Se ele se meter em encrenca, você é quem leva a culpa. Quero a imagem dele intacta, e se possível ainda melhor quando voltarem.
- Ah Jam, vai ser divertido! Você e eu soltos pelo mundo. Nº 17 na minha Bucket List.
- Isso eu sei, mas é que acabei de acordar de ressaca e sou informado que estou partindo em uma viagem ao redor do mundo com meu melhor amigo e vou ser pago para isso. Desculpe se ainda estou um pouco confuso – dessa vez todo mundo riu.
- Bom, tudo acertado então. Vocês não vão hoje, é claro, ainda precisam de vistos e vacinas e eu preciso de um tempo para organizar uma agenda, então pare de atirar roupas na mala.
- Quanto tempo?
- Me dê duas semanas, ok? Se programem para partir em quinze dias.

Assenti animado e Gabriel saiu do quarto já com o celular na orelha. Becky me abraçou outra vez e Jamal ainda parecia perdido, mas eu estava mais do que ligado. Em duas semanas partira em uma viagem sem rumo ao redor do mundo e só voltaria um ano depois. Eu não ia conseguir dormir pelos próximos quinze dias.

°°°°°°°°

Jamal e eu viajamos por toda a Ásia, América do Sul, África e Oceania durante esse ano fora, e também alguns países da Europa. Cumpri toda a agenda imposta por Gabriel, terminei de escrever O Cálice de Fogo e comecei um novo livro – esse em parceria com Jamal – contando a nossa aventura pelo mundo. Visitei lugares incríveis que sequer sabia que existiam e conheci pessoas mais incríveis ainda dos quais nunca vou esquecer. Dormi em estações de trem, usei meios de transportes que deixariam apavorado qualquer pessoa com um pouco mais de juízo e perdi as contas de quantas vezes passei mal por comer algo suspeito. Ajudei a construir casas por uma ONG na África do Sul, ensinei inglês para refugiados tibetanos e comecei minha própria instituição de caridade. Em um ano me transformei em outra pessoa.

Foi uma experiência inesquecível. Não foi o Rupert que voltou para Londres em dezembro de 2020, foi alguém completamente novo. E quando desembarquei, Becky estava me esperando no aeroporto com Henry Liam, meu sobrinho de oito meses, no colo. Parti quando a família perdeu um membro e voltei quando ela ganhou um novo. Aquele era um novo começo.

Posted: segunda-feira, 22 de julho de 2013 by Clara Storm Lupin in
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"Às vezes o mais difícil não é esquecer, mas, em vez disso, aprender a recomeçar".

Nicole Sobon.


“Obrigado a todos por estarem aqui. Não vou demorar muito para que possamos começar a festa, mas a quem estou querendo enganar, alguns de vocês já estão bêbados, Brian. Eu sou o homem mais feliz vivo. Não tenho apenas bons amigos, eu tenho ótimos amigos. Becky, Brie, obrigado por me ajudarem com a playlist dessa pequena comemoração, mas tenho que confessar que quando vocês não estavam olhando eu coloquei a Do The Hippogriff de volta na lista. Ethan, Connor, Nick... Vocês sabem que são meus irmãos de coração. Só posso esperar que eu seja ao menos metade do que vocês se tornaram, porque vocês são meus exemplos. Nigel, o irmão de verdade e meu padrinho, não tenho palavras o suficiente para você. Eu confio em você com a minha vida porque sei que aconteça o que acontecer, você sempre vai estar lá para me proteger. Eu te amo, cara. E para a minha bela esposa Emma... você não é apenas parte da minha vida, você é a minha vida. E até o dia em que eu morrer você sempre vai ter a chave do meu coração.”


O discurso de Otter para o casamento, lido por Emma na reunião que fizemos no Scavo’s em homenagem a ele, foi como um soco no estomago. Se já estávamos todos tristes, ouvir aquela última mensagem dele levou todos ao estado de depressão. Houve brindes em seu nome, alguns contaram história engraçadas – a maioria dela envolvendo cerveja e maconha – e até demos risadas, mas o clima era o pior possível. Estávamos todos com uma sensação de derrota e eu não conseguia enxergar uma luz no fim do túnel, uma maneira de superar aquilo.

Voltar à rotina depois do enterro não foi nada fácil. Eu agora estava na Obstetrícia por 21 dias cuidando de grávidas e bebês sendo supervisionada por minha mãe, mas nem a perspectiva de passar 21 dias de pânico sob o comando dela ajudou a me deixar focada. Eu simplesmente havia perdido a vontade de fazer qualquer coisa. E isso estava ficando cada vez mais claro no trabalho que eu vinha fazendo.

Cinco dias depois de voltar ao hospital, uma paciente com pré-eclampsia na 20ª semana foi internada no andar. Fiz o exame inicial, prescrevi a dosagem do remédio no prontuário, entreguei a enfermeira e sai do quarto. Cinco minutos depois minha mãe me abordou com a enfermeira a tiracolo.

- Dra. Lupin, foi você quem prescreveu essa medicação? – perguntou com o prontuário da paciente do quarto 6 na mão.
- Sim, por quê?
- 100mg de Sulfato de Magnésio? Está tentando matar minha paciente?
- O que? – puxei o prontuário da mão dela – Era pra ser 10mg.
- Preste mais atenção ao prescrever qualquer coisa – ela puxou o prontuário de volta e se virou para a enfermeira – E você, da próxima vez que pegá-la ministrando um remédio receitado por um aluno sem que tenha sido aprovado por um atendente antes, está demitida.
- Sim senhora, desculpe – ela disse tremula e saiu apressada.
- Você, minha sala.

Mamãe saiu andando na frente e a segui sem empolgação. Ela fechou a porta quando passei e quando me encarou, achei que fosse me desintegrar.

- Onde estava com a cabeça quando prescreveu uma dosagem daquela, Clara?
- Desculpa, estava distraída. Não ando conseguindo focar em nada.
- Então encontre um jeito de achar o foco. Se eu não entro no quarto a tempo e vejo o tamanho da ampola na mão da enfermeira, ela teria injetado e a Sra. Watson teria morrido na hora!
- Eu vi o Otter explodir na minha frente, mãe! – quase gritei – Como pode me pedir concentração?
- Por que a vida de outras pessoas depende do nosso trabalho! Você escolheu ser médica, então comece a honrar o juramento que fará em três anos quando se formar! Você perdeu um primo e eu perdi um sobrinho. Estou devastada, mas preciso continuar o meu trabalho! – ela falava já com os olhos marejados – Brendan é como um irmão pra mim e eu não consigo sequer imaginar a dor que ele está sentindo, nenhum pai jamais deveria saber o que é perder um filho, e nós trabalhamos para impedir que outros pais passem por isso. Portanto se não está conseguindo se concentrar é melhor repensar se é esse mesmo o caminho que quer seguir.
- Não preciso repensar nada, é isso que eu quero.
- Não é o que está parecendo e não é de hoje que percebo que não leva isso totalmente a sério. Se realmente quer isso, vai ter que se esforçar mais para me provar.
- Não estou brincando, mãe. Eu quero ser médica.
- Então cresça encontre uma maneira de lidar com isso, porque ainda vai se deparar com muitas mortes que vão lhe abalar tanto quanto essa. E se está assim por algo que não teve culpa, não quero nem pensar em como vai ficar quando um paciente inevitavelmente morrer em suas mãos. E está dispensada por hoje, vá para casa antes que mate alguém mais cedo do que o esperado.

Mamãe saiu da sala sem dizer mais nada e continuei parada no mesmo lugar por alguns segundos, sem saber direito o que fazer. Ela achava que eu não estava levando aquilo a sério, quando tudo que mais queria era ser como ela.

Acabei não indo para casa, não teria ninguém lá e não queria ficar sozinha. E sabia que papai estava de férias do Ministério, então fui atrás dele. Naquele momento, só queria um pouco de colo da pessoa que sempre, não importa a situação, me faz sentir bem. Papai nunca decepcionava quando o assunto era me consolar.

- Deixe-me adivinhar – ele disse quando abriu a porta e me viu com cara de choro – Brigou com a sua mãe?
- Ela me mandou pra casa – respondi já o abraçando – Eu fiz besteira.
- O que você fez?
- Prescrevi a dosagem errada para uma paciente que podia tê-la matado. Tenha andado distraída.
- Então sua mãe fez bem em repreendê-la. Você não pode se distrair.
- Eu sei, ela disse que já tem tempo que ando assim, não é só agora depois do que aconteceu.
- E você acha que ela está certa?
- Não sei, acho que sim. Não percebi nada, mas esse é o meu jeito. Pareço não levar as coisas a sério, mas eu não escolhi medicina sem pensar.
- Sei disso, minha querida. E sua mãe sabe também, mas desde que contou a ela que queria seguir seus passos, ela criou expectativas. Talvez até demais, é verdade, mas elas existem.
- Nunca vou conseguir ser como ela, por mais que eu queira. Mamãe é como a Mulher Maravilha. Ela faz tudo ao mesmo tempo e nunca erra.
- Sua mãe também erra, ela não é uma super-heroína e também não espera que seja exatamente como ela.
- Então o que ela quer?
- Que você seja alguém que um dia as pessoas respeitarão, da mesma forma que ela é respeitada. Ela quer que você seja bem sucedida.
- Ela me acha uma piada, papai. Mamãe nunca vai me levar a sério.
- Então mostre a ela que você cresceu. Pegue seu tio Brendan como exemplo.
- Por quê?
- Brendan era uma criança problemática e um adolescente ainda pior. Ele sempre diz que o que o consertou foi o colégio militar, que sem ele nada teria dado certo.
- Todo mundo respeita o tio Brendan, mesmo ele sendo um palhaço.
- Exatamente. Ele se esforçou, encontrou seu caminho e provou para todo mundo que não era uma causa perdida.
- Eu sou uma causa perdida?
- Não, meu amor, você não é uma causa perdida – papai riu e beijou minha testa – Mas você ainda precisa encontrar o seu caminho.

Passei o resto do dia com papai. Saímos para almoçar em um restaurante no bairro e depois afundamos no sofá com um pote de sorvete para assistir filmes a tarde inteira. Quando fui embora, já quase anoitecendo, estava com a cabeça feita. Era uma mudança muito brusca, mas sabia que podia dar conta. Hiro foi a única pessoa com quem conversei antes de realmente tomar uma atitude. De inicio ele não ficou muito empolgado, tentou me convencer a desistir, mas estava tão determinada e certa de que aquele era o caminho que ele acabou me apoiando.

No fim de semana seguinte ele me acompanhou até a base da Marinha Real Britânica, onde me alistei. Eles agora assumiriam os custos dos meus estudos em Oxford e quando me formasse, eu assumiria a patente de Segundo Tenente e o cargo de médica da Marinha Real Britânica, estando totalmente à disposição deles para o caso de uma possível convocação para a guerra.

E eles me convocaram. Foi no final de 2025, depois que já havia terminado minha residência em cirurgia pediátrica. Fui enviada para passar um ano trabalhando no hospital militar da base de Kandahar, no Afeganistão.

Foi um ano difícil, mas essencial para determinar o rumo que minha vida levaria quando voltasse para casa. Muita coisa mudou, ela deu uma guinada de 360º, mas isso é longa história que contou outra hora.


N.A.: Discurso retirado do episódio 3.10 de Rookie Blue, com algumas alterações.