Tudo começou com uma sensação
repentina. Um brilho de esperança. Do nada aquela sensação surgiu e lembrarei
pra sempre a forma como nasceram lágrimas nos meus olhos e um largo sorriso...
E da mesma forma que surgiu...
Ela desapareceu.
2024
- Nós viemos
assim que soubemos! - Keiko falou se jogando nos meus braços. Tuor havia aberto
a porta da nossa casa, mas ela simplesmente o ignorou e correu até mim.
Nossa casa
estava lotada com todos os nossos amigos e eles se levantaram para ir falar com
Hiro e Keiko, os últimos a chegar.
Enquanto
Tuor e Hiro se cumprimentavam, Keiko dava pulinhos ao meu redor e eu estava tão
feliz que fui contaminada pela alegria dela e pulava junto, enquanto ríamos e
chorávamos ao mesmo tempo. Assim que ela começou a dar os pulinhos de alegria,
todas as outras garotas, que estavam sentadas ao meu redor, começaram a dar
pulinhos animados também.
Só depois de
algum tempo que nós nos acalmamos e Keiko me deu um último abraço forte e
deixou Hiro falar comigo, enquanto ia cumprimentar Tuor.
Hiro também
me abraçou com força e me deus os parabéns, sorrindo alegremente. Percebi então
que ele tinha deixado uma caixa de madeira branca com Tuor e agora Keiko a
tirava dele, com pressa, como se não quisesse que ele visse algo.
- O que vocês
estão aprontando? - Eu perguntei, curiosa e eles sorriram, sendo Hiro a
responder.
- Assim que
recebemos a sua mensagem nas nossas penas, queríamos vir logo pra cá, mas antes
queríamos ter um presente em mãos. - Ele falou após dar um beijo em Clara.
- Por sorte,
eu já tinha tido essa idéia antes e sabíamos onde procurar. - Keiko completou.
- Por isso nos atrasamos. Fomos buscar seu presente! - Ela falou toda alegre e
estendeu a caixa a frente.
- E como
você é uma garota muito sem graça, precisamos enfeitiçar a caixa para impedir
de você perceber o que era antes da hora! - Hiro falou rindo, quando peguei a
caixa. Ela era pesada, talvez uns 2 ou 3 quilos e eu estava morta de
curiosidade.
- Vocês
sabem como sou curiosa! O que tem aqui?
Eu mal
terminei de perguntar e senti um movimento na caixa e um latido baixo. Tuor,
também curioso, veio pro meu lado e segurou a caixa enquanto eu a abria. Quando
deixei a tampa cair no chão, dei de cara com um lindo filhote de Akita.
Ele era
lindo! Completamente branco, todo peludinho e fofo, tinha um olhar brilhante,
sério e divertido ao mesmo tempo. Senti uma empatia enorme por ele e coloquei
minha mão dentro da caixa para pegá-lo. Ele pulou alegre para o meu colo e
começou a lamber meu rosto, enquanto eu abria um sorriso enorme.
- Ele é
lindo! - Eu falei, agora ficando com lágrimas nos olhos. O filhote olhou ao
redor curioso, abanando o rabo e se aconchegando no meu colo.
- É ela. É
uma fêmea! - Keiko falou. - Que nome vai dar?
- Amaterasu!
- Eu nem precisei pensar. No primeiro momento que a vi eu percebi que daria
esse nome. As garotas fizeram uma cara de que não gostaram do nome, mas Clara
riu, juntamente com os garotos.
- Combina
realmente! É o nome daquele lobo branco do jogo Okami, não é? - Rupert
perguntou e eu assenti.
- É também a
deusa do Sol japonesa. - Hiro completou.
- Mas o
apelido dela vai ser Amy! - Eu falei e deixei Tuor pegar Amy no
colo. Ela o cheirou e o lambeu, mas pouco depois já queria voltar para o meu
colo.
- Os Akitas
são os samurais caninos e dizem que escolhem um dono só. - Hiro falou,
enquanto Amy me lambia de novo.
- Já sabemos
quem ela escolheu então! - Clara falou rindo.
- Ih, Tuor,
então é a Arte que manda na casa hein? - Jamal brincou e todos riram.
- Achamos
que seria um presente maravilhoso! Ela vai poder crescer junto do seu filho, ou
filha! - Keiko falou, acariciando minha barriga.
Eu me
emocionei e fiquei com lágrimas nos olhos, abraçando-a junto de Hiro, enquanto
ainda mantinha Amy no colo.
Todos
queriam brincar com Amy e ela logo corria pela casa, alegre e cheia
de energia. Eu ainda me sentia um pouco emocionada ao vê-la correr de um lado
para o outro e, acariciando minha barriga e abraçada a Tuor, fiquei imaginando
que dentro de 7 meses haveria uma criança para correr com ela.
2 meses depois
Deviam ser
umas 6 da manhã e eu já estava de pé e banho tomado, pronta para sair de casa.
Quando sai do banho ouvi Amy latindo e assim que terminei de me arrumar olhei
pela janela do meu quarto, achando isso estranho. Ela latia na direção da casa
e quando me viu na janela soltou um latido feliz, animada por me ver.
Meus dias
eram extremamente corridos, com muitas coisas para fazer e eu me desdobrava
para fazer tudo. Geralmente acordava bem cedo e ia correr no parque que ficava
próximo da minha casa, antes de ir para Avalon cuidar dos meus dragões, por
volta das 7 da manhã. Ficava em Avalon até por volta de meio dia, quando ia
para o Ministério ou onde quer que Hermione me mandasse ir trabalhar. Depois disso
passava a tarde inteira trabalhando como auror, para no final da tarde voltar a
Avalon para dar uma última conferida antes de ir pra casa.
Nossa casa,
um presente de meus pais e meus sogros, ficava em Kensington, próxima ao Hyde
Park e ao Kensington Gardens, o que era maravilhoso. Quando decidimos morar em
uma casa, queríamos um lugar calmo e de preferência próximo a algum parque,
para que eu pudesse manter minha atividade física sem problemas. A casa,
encontrada por mamãe sem querer, era mediana, mas o seu terreno era enorme, com
um gramado na entrada e um jardim aos fundos. Ela ficava próxima o suficiente
do metrô para que eu e Tuor o usássemos para ir trabalhar e a vizinhança era
bem tranquila, o que nos permitia aparatar se desejássemos. Tuor estudava em
Londres para ser professor de Transfiguração, mas às vezes ia a Hogwarts para
reuniões com Tio Ben ou para assistir alguma aula.
A casa era
de dois andares, em um estilo antigo, porém simples. Ela já viera decorada,
tanto de móveis dos antigos donos, quanto de alguns presentes de nossos pais e
parentes, mas já havíamos dado o nosso toque pessoal a ela. No andar de baixo,
ela tinha uma sala bem espaçosa, uma cozinha com saída para os fundos e uma
suíte que transformamos em um escritório, além de um banheiro. No andar de cima
ficavam os quartos propriamente ditos: havia a nossa suíte e mais dois quartos,
assim como mais um banheiro. Não queríamos cair naquela pretensão dos pais de
que os filhos nunca iam crescer e por isso queríamos que ele ou ela tivesse seu
próprio espaço. Um dos quartos já estava sendo decorado para um quarto de
criança, com tons neutros, já que ainda não sabíamos qual era o sexo do bebê.
Havia brinquedos espalhados por todos os cantos e tínhamos acabado de terminar
um painel pintado na parede com árvores e lagos, inspirado na praça central de
Avalon. O outro estava sendo usado como biblioteca e sala de jogos, e estava cheio
de livros e outras coisas, além da minha coleção de flores encantadas.
Os fundos da
casa eram com certeza a maior parte do terreno. Havia grama em todo o terreno
de trás e um caminho de pedra que levava da porta da cozinha até algumas mesas
e cadeiras, com um pequeno lago artificial. Haviam algumas flores plantadas
perto da porta da cozinha e uma pequena horta no canto direito. Porém, era o
fundo do terreno que era mais bonito e minha parte favorita. Ele era dividido
em duas partes: à esquerda havia um círculo de pedras que eu erguera com pedras
e areia de Avalon. O círculo era conectado à rede de círculos que havia na Grã-Bretanha
e Avalon, permitindo que qualquer pessoa com a minha autorização pudesse ir da
minha casa para a Ilha e vice-versa, já que havíamos colocado proteções contra
aparatação na nossa casa. Além disso, o círculo me servia para me reestabelecer
e me manter ligada a Avalon. Na parte direita havia uma grande árvore de
cerejeira, uma surpresa de Tuor. A árvore era linda, principalmente quando
florescia ou quando as flores caiam e nosso quintal ficava cheio de pétalas de
rosas. Foi ali, envolta da árvore, que construímos uma casinha de madeira para
Amy e um cercado de metal. Nos primeiros dias que Amy ficou conosco, ela dormiu
na cozinha, mas logo depois construímos esse pequeno espaço para ela e ela
adorava brincar aos pés da cerejeira.
Durante o
dia, ela ficava com o quintal todo para ela (e várias vezes quando chegávamos
em casa, ela havia devorado alguma planta), mas a noite nós a prendíamos no
cercado. Sempre que eu acordava, por mais cedo que fosse, Amy estava acordada
me esperando e aquilo se tornou tão importante pra mim quanto meus exercícios
diários. Após Amy tomar todas suas vacinas, comecei a levá-la para correr
comigo no parque de manhã. Amy era tão calma e séria que ela andava comigo sem
coleira e podia correr livremente ao meu lado. Ela era cheia de energia e
alegria, mas fora de casa se comportava bem e nunca precisei me preocupar de
andar sem coleira.
Depois da
corrida matinal, eu voltava pra casa e tomava um banho antes de sair,
deixando-a solta no quintal. Quando Tuor acordasse, ele iria brincar um pouco
mais com ela antes de sair. Amy então ficaria sozinha até o almoço, pois eu e
Tuor tínhamos cultivado o hábito de almoçarmos juntos, fosse em casa ou algum
restaurante e sempre íamos visitá-la um pouco. Quando nenhum de nós dois podia
ir ficar com ela na parte da tarde, uma das minhas sobrinhas ia visitá-la ou
então eu deixava uma chave com Flonne e ela ia cuidar de Amy, juntamente de
Diana, minha afilhada.
Assim que
abri a porta dos fundos da minha casa, vi que Amy já me olhava ansiosa.
- Ei, Amy,
bom dia! – Eu falei alegre, me aproximando dela. – Hoje não vamos poder correr,
porque tenho uma reunião cedo, mas amanhã prometo que a gente compensa!
Amy havia
crescido bastante em 2 meses e quando ficava em pé em duas patas, já batia na
minha cintura. Ela latiu brevemente e se apoiou no cercado, abanando o rabo. Eu
a soltei e ela se aproximou com cuidado de mim. Às vezes eu a achava quase
humana, pois eu tinha certeza que ela sabia que eu estava grávida e que não
podia pular em cima de mim. Ela geralmente ficava em pé e levantava minha
camisa para lamber minha barriga, fazendo cócegas que eu adorava.
Por falar em
gravidez, eu estava em meu quarto mês, extremamente feliz. A barriga começava a
crescer e já estava um pouco grande. Graças aos deuses os enjoos pararam e eu
começava a me sentir menos irritadiça. Estava muito animada, pois tinha uma
consulta com minha ginecologista, minha mãe, para a semana seguinte. Mamãe
tinha nos dito que nessa consulta provavelmente conseguiríamos ver o bebê em um
ultrassom, inclusive saber seu sexo. Eu ainda não tinha decidido se queria
saber o sexo do bebê, mas estava ansiosa para poder ouvir o bater de seu
coração e vê-lo. Eu conseguia perceber muito bem o bebê se formando dentro de
mim, principalmente quando eu meditava, mas poder ver uma imagem dele, isso era
algo que eu esperava ansiosamente.
Eu estava
colocando comida para Amy quando percebi que ela ficou tensa. Olhei para ela
preocupada e ela estava me olhando fixamente. Tenho certeza que seus olhos
estavam cheios de preocupação e logo em seguida, ela correu para o meu lado,
cabisbaixa. Ela começou a chorar baixinho e eu me sentei no chão, preocupada
com ela.
Ela logo
subiu no meu colo e se aconchegou com a cabeça em minha barriga. Comecei a
fazer carinho nela, e comecei a usar meus poderes para examiná-la. Ela parecia
não ter nada de mais, mas estava preocupada, pois ela não parava de chorar
baixinho e nunca foi de fazer isso.
Fui até a
cozinha com ela no colo e deixei um bilhete para Tuor, pedindo que a levasse em
um veterinário. Eu mesma queria levar, mas Hermione marcara uma reunião muito
importante hoje de manhã e como chefe da sua segurança pessoal, eu não podia
faltar.
Voltei para
o quintal ainda preocupada e com ela no colo e olhei em volta, querendo ver se
tinha algo errado. Tudo estava normal.
Coloquei Amy
no chão e fiz carinho até ela se acalmar um pouco. Com dó no coração eu fui na
direção da cozinha novamente. Amy ficou parada onde eu a deixei, me olhando com
seus olhos negros e profundos. Só quando eu passei pela porta da cozinha que
ela se mexeu e correu até a porta, latindo baixo.
Decidi
acordar Tuor e contei pra ele o que estava acontecendo. Ele se levantou
imediatamente e foi vê-la, enquanto eu ia embora. Ele prometeu me mandar alguma
notícia assim que fosse a um veterinário. Não conhecíamos nenhum que estivesse
aberto a essa hora da manhã, mas ele disse que procuraria alguém.
Horas depois
A reunião
com os aurores e Hermione foi tranquila, como esperava que fosse. Revemos
alguns planos e redividimos o nosso pessoal. Isso havia sido uma idéia minha
que Hermione logo aceitou: passamos a revezar os aurores, para que todos
desenvolvessem habilidades diversas, desde investigação à vigília.
As penas que
eu dera para meus amigos em Hogwarts ainda funcionavam e muitas vezes nos
comunicávamos por elas. Assim, Tuor me mandou uma mensagem por volta das 8 e
meia dizendo que Amy estava bem e que estavam em um veterinário. Ela ainda
estava cabisbaixa, mas sua saúde estava bem. Estranhamente, muito por sinal,
recebi uma mensagem de um dos tratadores de dragões de Avalon informando que
Fidelus estava inquieto e ansioso desde cedo. Eu fiquei preocupada na mesma
hora, não era normal Fidelus e Amy sentirem-se estranhos assim. Os dois se
davam muito bem, desde a primeira vez que eu os havia apresentado. Amy adorava
brincar com Fidelus e meu dragão sabia como lidar com um filhote muito mais
fraco e frágil que ele.
Comecei
então a ficar preocupada de algo estar para acontecer comigo ou com algum amigo
meu. Ao final da reunião, devia ser umas 10 da manhã, eu pedi que me deixassem
um pouco sozinha e me sentei em minha sala, para meditar e usar meus poderes.
Eu não
gostava de fazer isso, pois saber o futuro nem sempre é bom. Você perde um
pouco do fator decisão, uma vez que o que você vê é apenas um futuro possível.
Mas agora que você o viu, suas tentativas de mudá-lo, apenas aumentam a chance
dele acontecer. E inconscientemente você começa a tomar decisões que vão te
levar a ele.
Mesmo assim
estava preocupada e decidi fazê-lo. Chronos falava mentalmente comigo de que
também não sentia nada, mas concordou que era melhor não arriscar.
Fechei meus
olhos e comecei a me concentrar em Tuor... Não senti nada de estranho para ele
no futuro próximo. Ia começar a fazê-lo para mim, quando senti uma presença.
Ela era
frágil e pequena, como uma consciência que acabasse de surgir. Num minuto eu
não sentia nada, mas no seguinte, podia senti-la claramente. Abri os olhos
surpresa e alerta, procurando algo de estranho na minha sala. Havia anos que
não tínhamos problemas com vampiros ou outras entidades, mas eu continuava
alerta. Então, percebi que a presença vinha de dentro de mim.
Toquei ao
mesmo tempo minha barriga com uma das mãos e com a outra tapei minha boca,
enquanto um largo sorriso surgia em meus lábios e lágrimas começaram a descer
de meus olhos. Senti o coração bater mais forte, o meu e o dela. Pois era ela!
Era uma menina! Era a minha filha!
Eu podia sentir sua presença, podia senti-la tomando consciência das coisas ao
seu redor, de mim e de si mesma. Pude senti-la se mexendo lentamente em meu
ventre, aconchegando-se a mim. Percebi que ela sabia quem eu era, podia sentir
sua consciência tratando-me por “mãe”... Concentrei-me em Tuor, queria passar
essa memória para ele, passar essa sensação! Era o momento mais feliz da minha
vida!
E então
senti uma nova presença, diferente, misturada a essa.
E veio a
dor.
Até hoje não
sei se o grito de dor foi meu ou da minha filha. Mas gritei a plenos pulmões, de
dor, de medo e de tristeza. Com dificuldade me apoiei na mesa e não cai no
chão, sentindo sangue descendo pelas minhas pernas, e a dor crescia cada vez
mais. Eu sabia o que isso significava, queria não saber, mas eu sabia.
A porta da
minha sala se abriu imediatamente e os aurores entraram correndo de varinha em
punho. Hermione vinha na frente e vi seus olhos arregalados em mim.
- Mione.
Salve o meu bebê. – Foi a última coisa que eu lembro de ter dito, antes de cair
na escuridão completa.
Uma semana depois – Visão de Tuor Mithrandir
A casa parecia ter absorvido o nosso clima. Ela estava silenciosa,
escura, e parecia tão vazia. O único barulho era o de Amy latindo.
Entrei abraçado a Artemis. Ela se apoiava em mim e tinha o olhar vazio,
sem perceber nada. Ela havia pedido para ficar sozinha e eu também preferia
ficar sozinho, por isso nenhum de nossos amigos ou familiares estavam conosco.
Eu a sentei no sofá da sala e me ajoelhei diante dela, apertando suas mãos
entre as minhas com força, beijando-as em seguida. Ela me olhou e mantemos
nosso olhar, ela tentou sorrir e aquilo quase me fez chorar. Mas eu tinha que
ser o mais forte possível, ela precisava da minha ajuda.
Arte sempre foi a garota mais forte que eu conheci, e acho que foi essa
força que me fez me apaixonar por ela. Agora, iniciando sua vida como mulher
adulta, ela estava ainda mais forte e radiante. As responsabilidades e correria
pareciam lhe dar mais energia e deixá-la ainda mais bonita.
Mas agora ela estava melancólica como nunca esteve antes. Parecia não
ter mais energia para nada.
- Vou lá em cima pegar umas coisas e depois vou fazer um chá pra você.
Já volto. – Eu falei, beijando-a carinhosamente na testa.
Subi as escadas rapidamente para pegar sua coleção de flores para tentar
animá-la, enquanto me lembrava da horrível conversa que tivemos ontem com
Mirian.
No Dia Anterior
- Eu preciso ter
uma conversa séria com vocês. – Mirian falou, fechando a porta do quarto onde
Artemis estava internada. Arte estava acordada, mas muito cabisbaixa, e eu
estava sentado na beirada de sua cama, apertando sua mão. Havíamos perdido
nossa filha, ela havia falecido sem nem ter a chance de viver. O aborto fora
espontâneo e quando Hermione conseguiu levar Arte para o Hospital, por mais
rápido que tenha sido, nossa filha já estava morta.
O que nos dava
força para continuar em frente era pensar que ainda poderíamos ter outros
filhos.
- Eu estava em uma
reunião com outros médicos, mas eu queria falar com vocês pessoalmente, afinal
é da minha filha que estou falando. – Mirian falou e vi como ainda estava
triste.
- Fale logo, mãe.
– Arte pediu e Mirian assentiu.
- Não tem como
falar isso de forma bonita ou boa, e prefiro ir direto ao ponto. – Mirian
falou, sentando-se na outra beirada da cama. Ela então apertou a mão de Arte
com força e vi que segurava as lágrimas. – Você ficou estéril, minha filha, não
poderá mais ter filhos.
Foi como se Arte
entrasse em choque. Ela abriu a boca para tentar falar, mas nenhum som saia de
seus lábios. Naquele momento eu percebi que Arte já sabia disso, mas vinha
mentindo para si mesma de que tudo ia ficar bem, de alguma forma milagrosa.
Ser mãe era um dos
maiores sonhos de Arte e agora estava destruído. Ela começou a chorar e me
puxou para me abraçar. Nos abraçamos forte, enquanto os soluços e lágrimas dos
dois se misturavam. Mirian afagou nossas cabeças com carinho e nos deixou a
sós.
Naquela noite,
quando Arte finalmente dormiu, exausta, eu procurei Mirian e ela me levou para
ver alguns exames, me explicando com detalhes o que tinha acontecido.
Nossa filha fora
morta pelo organismo de Artemis, não tem outra forma de explicar. Ela era
meio-vampira e o sangue de Artemis a matou.
Mirian estava
arrasada, não apenas por ter perdido a neta de forma tão horrível, mas por não
ter pensado nisso antes e não ter podido ajudar sua filha. Ela foi uma das
responsáveis pela pesquisa de gestações vampíricas e tratou da gestação de
Luna. Mais ainda, foi Mirian quem fez as pesquisas mostrando que o sangue dos
Chronos realmente se comportava como metal goblin, absorvendo qualquer
característica que o tornasse mais forte. E ela nunca imaginou que um filho de
Artemis poderia ser meio-vampiro. E que o organismo de Artemis, tão puro devido
a enorme quantidade de água sagrada e sangue de dragão que ela consumiu nos
últimos anos, iria danificar de forma tão intensa um feto meio-vampiro.
E ninguém sabia
exatamente como se comporta um feto vampiro, ou mesmo meio-vampiro. Só houve três
casos de mulheres grávidas de vampiros até hoje: a própria Mirian, Luna e Megan
Langston, e nos três casos sabiam desde o início da gestação que era possível
nascer um filho vampiro, por isso todos os cuidados haviam sido tomados. Mas no
caso de Arte, não havia nenhuma preocupação com isso e em dado momento, nossa
filha não resistiu ao corpo da própria mãe.
Mas era pior do
que isso.
A situação fora
tão intensa que os ovários e o útero de Arte foram completamente destruídos no
processo. Durante a operação para tentar salvar a criança, os ovários de
Artemis foram retirados. O útero fora mantido, mas não tinha como ser curado.
Mas ainda tinha algo pior. Com horror Mirian me contou que nada restou de nossa
filha, apenas cinzas...
Eu balancei a cabeça, tentando esquecer mais uma vez daquela conversa,
mas era impossível fugir daquele pesadelo. Senti lágrimas nos meus olhos e fui
até o quarto que tínhamos separado para nosso filho. Senti uma dor no coração e
entrei lentamente. Peguei um pequeno travesseiro e o apertei contra meu peito.
Sai dali e tranquei a porta. Arte não estava preparada para entrar naquele
quarto. Antes de descer, tentei me acalmar e forçar o melhor sorriso que eu
podia. Enquanto descia a escada, tive uma idéia.
- Por que não tiramos umas férias, Arte? Podemos ir para a Croácia, você
sempre quis conhecer... – Parei de falar quando vi que Arte não estava sentada
no sofá e fiquei preocupado.
A porta da frente continuava trancada e corri para a cozinha preocupado, ainda
mais quando vi a porta aberta e passei correndo por ela.
Então a vi.
Arte estava sentada no chão, encostada no tronco da nossa árvore de
cerejeira. Amy estava parada em frente a ela, enquanto Arte a abraçava com
força e soluçava. Amy estava quieta e tranquila como se a consolasse e pudesse
saber o tipo de coisa que Arte estava sentindo. Eu fui andando lentamente até
elas e quando cheguei perto, as duas me olharam e pareciam ter o mesmo olhar,
mas diferentes.
Arte tinha o olhar da tristeza, falta de esperança e desespero, enquanto
os olhos de Amy me transmitiam serenidade e sabedoria, como se me dissesse que
tudo ia ficar bem. Sentei-me ao lado de Arte e nos abraçamos, com Amy no meio
de nós. Nos entregamos a tristeza e choramos as lágrimas que vínhamos
segurando, enquanto Amy nos apoiava silenciosamente, mas de uma forma de puro
carinho e amor.
Let my eyes take in,
the beauty that's here
That's left on this earth, my ears long to hear
A melody... Give me sight...
Nothing will be
forever gone
Memories will stay and find their way
What goes around will come around
Don't deny your fears
So let them go and fade into light
Give up the fight here
N.A.: Chasing the Dragon, Epica.