Posted: quarta-feira, 12 de setembro de 2012 by Clara Storm Lupin in
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Deixar Hogwarts não foi fácil, mas tinha que admitir que as semanas que seguiram a nossa formatura não foram nada desagradáveis. De volta a Londres, e com a expectativa de começar o estágio no St. Mungus que acabaria com a minha já pouca vida social, pela primeira vez aproveitei de verdade os dois meses de férias.

Julho foi o mês da farra. Com meus amigos em suas respectivas casas, a maioria longe de Londres, minhas companhias constantes eram Jamal e JJ. Saíamos todas as noites e em algumas delas Rupert nos acompanhava. Papai disse que me transformei em um zumbi, porque troquei o dia pela noite.

Agosto já teve um ritmo mais calmo. Hiro estava na cidade, então passávamos mais tempo dentro de casa namorando ou em passeios durante o dia que deixei de ser um zumbi e voltei ao convívio normal com a família. Agosto também foi um mês de surpresas e a primeira delas foi quando mamãe chegou em casa do plantão no St. Mungus dizendo que havia recebido uma carta de recomendação para mim, uma para Justin e outra para JJ, da diretora McGonagall. Ela não sabia o que havia surpreendido mais, as cartas em si ou o fato de que elas estavam recheadas de elogios.

A outra surpresa ficou para o fim do mês. A ansiedade de começar o estágio no St. Mungus estava a mil e estava ficando difícil relaxar. Era um domingo à tarde. Estava deitada no chão do quarto ouvindo música quando mamãe entrou e jogou uma caixa de papelão vazia do meu lado. Levei um susto com o baque e arranquei o fone do ouvido, olhando para ela sem entender o que estava acontecendo.

- Pra que essa caixa? – perguntei sentando no tapete.
- Para você juntar suas coisas nela.
- Vamos nos mudar?
- Nós não, você. – ela respondeu com uma expressão que eu não conseguia decifrar e olhei para meu pai, mas ele tinha o mesmo olhar.
- Estão me expulsando de casa?
- Encare isso como um empurrão – papai respondeu rindo da minha reação – Estamos ajudando você a crescer.
- E onde exatamente eu devo crescer? Na calçada?
- Sim, Clara, estamos expulsando você de casa sem nenhuma assistência, você vai virar mendiga! – mamãe respondeu exasperada e acabei rindo. Lógico que ela não ia fazer isso.
- Sua mãe, Yulli e Alex compraram um apartamento em Holborn, você vai morar com Keiko e Haley – papai respondeu e minha cara de espanto fez os dois rirem.
- Compramos o apartamento, mas as despesas dele é responsabilidade de vocês – mamãe completou – Todas têm um emprego garantido a partir de semana que vem, podem pagar suas próprias contas. Sam e Yulli também compraram o apartamento em frente para Hiro e JJ morarem, então vocês cinco estarão juntos.
- Isso é sério? – ainda estava incrédula.
- Sim, sério como um ataque cardíaco. Os apartamentos já estavam mobiliados, o dono se mudou para a Itália e largou tudo pra trás, tudo que vocês têm que fazer é arrumar as malas e mudar.
- Vocês são os melhores pais do mundo, sabia? – abracei os dois com tanta força que quase caímos no chão.
- Não faça com que me arrependa de ter concordado em deixar você morar a uma porta de distancia do seu namorado, ok? – papai beijou minha testa e mamãe riu. Aquilo claramente tinha sido um impasse.
- Agora comece a arrumar suas coisas – mamãe me soltou do abraço sorrindo – Haley chega à Londres essa semana, vamos ajudá-las a se instalar assim que ela desembarcar.

Os dois saíram do quarto e me deixaram sozinha com uma pilha de caixas vazias. Não sabia nem por onde começar, então a primeira coisa que fiz foi ligar para as meninas para gritarmos um pouco no telefone. Íamos morar juntas, as caixas podiam esperar.

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O dia da mudança pode ser resumido em uma única palavra: caos. Quando mamãe disse que o apartamento já estava todo mobiliado, o adicional bom gosto não estava incluso. A decoração do antigo morador era um horror, até mesmo eu que sou completamente desapegada para essas coisas sabia disso. Keiko então, quase teve um ataque cardíaco quando atravessou a porta arrastando suas três malas cor de rosa. Em uma partida de Pedra, Papel e Tesoura, ela ganhou o direito de ficar com a única suíte e Haley e eu ficaríamos com os dois outros quartos e dividiríamos o banheiro do corredor.

Gastamos um dia inteiro desfazendo malas e arrumando as roupas nos armários, limpando o apartamento e reorganizando toda aquela decoração cafona, só eu, as meninas e nossas mães. Os meninos só mudariam dois dias depois, Hiro ainda estava no Japão empacotando suas coisas e JJ estava com ele ajudando a atrasar as coisas, então nossos pais estavam 100% dedicados aos pequenos consertos que precisavam ser feitos em alguns lugares do nosso apartamento. À noite, tio Sergei pediu cinco caixas de pizza – que ele, tio Logan e papai comeram três – e cerveja para matarmos a fome, já que ninguém tinha forças para andar até um restaurante.

Depois daquele trabalho todo, minha ideia era ficar naquele apartamento até morrer. Nunca mais quero me mudar outra vez.

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O dia da mudança dos meninos estava bem menos caótico que o nosso. Sem ligar muito se a decoração era cafona ou não, eles simplesmente descarregaram as malas nos quartos e começaram a faxina geral. Nenhum dos dois havia se acomodado na suíte e imaginei que tivessem optado por deixar ela vazia para possíveis visitas, mas o mistério foi solucionado no começo da tarde. Já estávamos terminando de limpar a sala quando bateram três vezes na porta e virei para dar de cara com Sheldon em pé no corredor, duas malas enormes ao seu lado.

- Surpresa – Hiro falou no meu ouvido, rindo.
- Sheldon vai morar com vocês? – acho que o choque na minha voz, talvez o pânico também, foi bem visível, porque o próprio Sheldon respondeu.
- Eu sei, eu sei, você esperava se ver livre de mim agora que não estamos mais em Hogwarts – disse entrando arrastando as malas – Mas minha presença aqui é meramente simbólica. Tenho uma bolsa em física teórica e matemática aplicada em Oxford e nenhum tempo a perder tendo uma vida social, vocês sequer notarão minha presença.
- Isso eu duvido... – Keiko revirou os olhos e rimos.
- Se vai estudar em Oxford, porque não mora no alojamento da faculdade? É tão longe de Londres! – Haley comentou e Keiko concordou depressa.
- Eu morando em um alojamento? – Sheldon deu uma de suas risadas esquisitas e Hiro prendeu uma gargalhada – Não, não. Passei no teste de aparatação para poder morar onde quiser. Hiro me ofereceu o quarto vago e não pensei duas vezes.
- Vai sair mais barato dividir a conta por três... – ele se justificou.
- Lembre-me de agradecer você por isso mais tarde – disse baixo no ouvido de Hiro e ele me beijou, ainda rindo.
- Então, qual é o meu quarto?
- Por aqui, Sheldon – JJ pegou uma das malas dele e saiu puxando pelo corredor – Você vai ficar com a suíte.
- Ah, que gentil.
- É pelo bem de todos – JJ respondeu, mas Sheldon não notou o sarcasmo, óbvio.
- A proposito, Hiro, vou precisar de um rolo de pergaminho e pena – disse parando no meio do caminho – Tenho que escrever nosso contrato de boa convivência.

Hiro resmungou qualquer coisa que não consegui compreender, mas fez sinal de positivo para Sheldon antes de me olhar com uma cara de desespero. Lancei meu melhor olhar de “bem feito” e fui ajudar as meninas a terminar de arrumar a cozinha. Fomos vizinhas de quarto de Sheldon por sete anos e os meninos dividiam o quarto com ele, mas isso era completamente diferente. Estávamos por conta própria e fazendo as próprias regras. Morar com ele certamente seria a causa da morte dos meninos, mas pelo menos teriam a vaga no céu garantida. E de alguma forma eu sabia que essa convivência, embora penosa, seria muito divertida.