Posted: quarta-feira, 31 de julho de 2013 by Rupert A. F. Storm in
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Já haviam se passado cinco dias desde a morte de Otter e eu me sentia mais perdido do que nunca. Não conseguia focar no trabalho, ficar dentro de casa encarando a tela do laptop era enlouquecedor, eu não sabia o que fazer para me distrair e parar de pensar no que havia acontecido. E não queria pedir ajuda à família, estavam todos tão ou mais abalados que eu, não seria justo. Quando minha mãe morreu eu era criança, era normal apenas chorar, mas agora eu não sabia como reagir. Estava entre a depressão e o estado de choque.

Foi Jamal quem me tirou de dentro de casa. Vendo meu desespero em me afastar ao menos um pouco do que me cercava, me arrastou de dentro do loft para seu apartamento, apenas alguns quarteirões de distancia. Não que tivéssemos muito que fazer, estávamos deprimidos demais para bater papo, mas só de sair de casa senti-me um pouco melhor.

Jamal havia se tornado meu melhor amigo desde que nos formamos. Quando ele começou com essa história, ainda de brincadeira enquanto tentava me dar algumas dicas de como me soltar mais, não imaginava que ele ia mesmo se tornar a pessoa que estava sempre ali para o que fosse preciso. Foi ele quem me ajudou a me adaptar a morar sozinho e quem estava do meu lado quando Amber foi embora. E fui eu quem o convenceu a voltar ao plano de estudar direito. Um ano depois de formados e ele já estava de volta no trilho, para o alivio do tio Quim, e agora estagiava com Gabriel. Estava trabalhando como seu assistente.

- Preciso sair daqui – disse de repente, atirado em um dos sofás da casa dele.
- Quer ir pra onde? – ele respondeu atirado do outro.
- Sei lá. Queria poder sumir.
- Sumir não seria uma má idéia. Tem um papel caindo do seu bolso – ele falou e peguei, mas deixei um suspiro desanimado escapar quando vi o que era – O que é isso?
- Uma Bucket List – ele riu – Eu sei, é idiota. Fiz porque o Dr. Pace pediu, na época que estava fazendo terapia ainda na escola.
- Posso ver? – estiquei a mão e ele pegou o papel – Wow, tem muita coisa.
- A maioria é besteira – ri também – Poucas coisas são sérias.
- Ficar com ela? – ele leu o penúltimo item e dei de ombros – Ela é...
- Sim. Eu disse que a maioria era besteira. Esse ai já era.
- A vida é uma caixinha de surpresas, cara. Nunca se sabe o dia de amanhã.
- Onde leu isso? Na caixa de cereal? – e ele riu.
- Pra que você quer aprender Mandarim?
- Sei lá, talvez pelo mesmo motivo que quero dar um soco em um tubarão? – respondi e ele riu olhando para a lista.
- Ah, Nº 14. Esse talvez seja o último item que consiga realizar, então é melhor focar nos outros primeiro.
- Não se preocupe, não pretendo cumprir nada. Pode jogar fora depois de ler.
- Como assim? Mas você ainda não cortou nenhum item! – ele sentou no sofá – Ok, temos que consertar isso. Acho que aprendemos da maneira mais dura essa semana que a vida é curta. E se você tem 40 itens nessa lista, é melhor começar a riscar alguns.
- Jamal, sério, não estou no clima. Essa lista é idiota.
- Não é não. Você escreveu um monte de bobagens, realmente, mas algumas coisas são legais. Escrever uma peça, ter um dos seus livros transformado em um filme, ter filhos, viajar por um ano com seu melhor amigo. Quer saber? Como eu sou seu melhor amigo e quero viajar por um ano com você, não vou deixá-lo desistir da lista. Vamos riscar algo daqui agora mesmo. Que tal o Nº 10? – e me devolveu ao papel, levantando do sofá.
- Beber uma garrafa de tequila em 10 minutos? – li e balancei a cabeça – Jam, isso é uma péssima idéia.
- Cenoura, você precisa parar de pensar demais – ele voltou do bar com duas garrafas na mão – E não tem uma hora melhor para beber do que essa. Uma pra cada!

No começo resisti, mas Jamal tinha razão. Que melhor hora para encher a cara do quando se está deprimido? Ele abriu as garrafas, dispensamos os copos e dentro dos 10 minutos estipulados na minha Bucket List terminamos as tequilas. E é claro que ficamos completamente bêbados, o que nos animou um bocado e resultou em uma vontade súbita de ir para a rua.

Já era tarde da noite e caminhamos sem rumo pelas ruas, sem perceber que íamos em direção ao Hyde Park. Nós andamos muito. O parque estava vazio quando chegamos exceto por alguns guardas da policia montada que conversavam distraídos na esquina. Os cavalos estavam amarrados na grade, relativamente afastados dos policiais. Foi Jamal quem teve a idéia.

- Vamos roubar aqueles cavalos!
- O que? – mesmo bêbado sabia que aquilo era loucura – Ficou louco?
- Mas está na lista! – ele argumentou – Nº 15: Roubar um cavalo da Policia Montada.
- Ah sim, então tudo bem! – aparentemente, minha sanidade era temporária.

E nós fomos. Desamarramos dois cavalos, montamos, cavalgamos por cerca de um quarteirão e fomos apanhados pelos policiais que não tiveram a montaria seqüestrada. É claro que fomos presos e acabei riscando o terceiro item da minha lista. Nº 18: Ser preso por algo maneiro.

Jamal e eu não parávamos de rir enquanto éramos levados pela viatura que eles chamaram até a delegacia mais próxima. Fomos colocados em uma cela com um homem que roncava alto no banco e ainda assim não conseguíamos parar de rir. Estávamos bêbados, ora, o que mais esperar?

Gabriel foi nos tirar de lá não muito tempo depois. Em meio às risadas, lembro-me do olhar furioso dele enquanto nos arrastava para fora da delegacia pela porta dos fundos e nos levava de volta ao meu loft. Minha última lembrança da noite foi dele me atirando na cama de sapato e tudo e batendo a porta.

°°°°°°°°

Acordei com uma dor de cabeça de outro mundo na manhã seguinte e, infelizmente, lembrava de tudo que havia feito. Gabriel ainda estava no loft e continuava enfezado quando apareci na sala. E para minha surpresa, Becky estava com ele. Ótimo, eles iam se juntar para fazer uma intervenção?

- Está feliz? – ele perguntou irritado e piorou quando dei de ombros – Eu vou bater nele.
- Calma, Biel! – Becky falou menos irritada, mas também não estava alegre – Rup, você tem idéia do que fez ontem?
- Sim, eu roubei um cavalo da guarda montada. Não estou orgulhoso disso.  Não, na verdade, estou orgulhoso sim – e ri, o que só fez Gabriel ficar ainda mais louco.
- Você está rindo? – ele basicamente gritou e me assustei um pouco – Rupert, você não é mais o adolescente anônimo que deixava McGonagall enlouquecida com o resto da turma porque aprontava. Você agora é uma pessoa publica! Você foi preso!
- Desculpa! Estávamos bêbados, não pensamos.
- Esse é o problema, você precisa pensar antes de fazer as coisas!
- Mas eu sempre penso, Jamal disse que eu precisava parar de pensar!
- Jamal é outro desmiolado e você não tem que dar ouvidos a ele!
- Você o contratou como seu assistente. Por que fez isso se acha ele um desmiolado?
- Por que sei que tem potencial, mas não quando está bêbado!
- Parem de gritar vocês dois! – Becky gritou também.
- Olha Gabriel, eu sinto muito, isso não vai mais se repetir. Foi estupidez, eu sei, mas está tudo bem.
- Ele não faz idéia, Biel. Explique com calma, por favor – Becky pediu e Gabriel suspirou, sentando no sofá.
- Ontem quando fui buscar vocês na delegacia, enquanto pagava fiança encontrei um repórter de tablóide. Ele sabia que você estava lá, alguém contou, mas precisava de uma foto para provar. Precisei da colaboração do policial responsável, que por sua sorte é muito fã dos seus livros, para não divulgar nada. E ele nos deixou sair pelos fundos, então ele não nos viu.
- Maninho, se ele tivesse tirado uma foto sua saindo da delegacia, você tem idéia do impacto que isso teria na sua imagem? Você é uma espécie de modelo para crianças.
- Mas eu nunca pedi isso, não quero ser modelo de ninguém!
- Mas você é, então é melhor se acostumar e começar a tomar decisões melhores.
- Não agüento mais isso! Vocês me pressionando, a editora me pressionando, eu não consigo me concentrar! Amber foi embora, Otter morreu e vocês querem que eu sirva de exemplo pra crianças? Meu primo morreu! Ele explodiu! Não tinha nem um corpo inteiro para enterrar! Eu não preciso de ninguém me amolando agora!
- Otter também era nosso primo, nós entendemos, mas isso não é motivo pra jogar fora todo o trabalho que fez até agora!
- Não, vocês não entendem, ninguém entende!

Voltei para o quarto furioso e abri o armário, pegando uma mala e começando a atirar peças de roupa dentro. Os dois entraram logo depois, mas os ignorei e continuei a encher a mala de roupas.

- O que está fazendo?
- Juntando tudo que preciso para passar um tempo fora.
- Quanto tempo? Para onde vai?
- Não sei, parem de fazer perguntas! Só quero desaparecer daqui!
- Pare com isso agora, você não vai a lugar algum! – Gabriel disse autoritário e o encarei.
- Você é meu assessor, não o meu dono. Não pode me dizer o que fazer!
- Posso se isso vai afetar o seu futuro!
- Parem com isso! – Becky disse histérica – Parem de brigar, por favor! Rup, se acalme, você não precisa ir embora.
- Preciso sim, eu não quero mais ficar aqui. Só quero um tempo longe, só isso – olhei para Gabriel cansado – Não vou quebrar o contrato, sei que tenho um compromisso com a editora e vou terminar os livros, quero terminar eles. Só o que estou pedindo é um tempo para esfriar a cabeça. E quero fazer isso longe daqui.
- Quanto tempo quer ficar longe? – ele perguntou mais calmo.
- Um ano – arrisquei, embora achasse que ele fosse vetar de cara.

Gabriel não disse nada, mas vi que ele estava considerando. Ele entendia o que eu estava pedindo. Ele também, quando era mais novo, precisou de um tempo longe de tudo que era familiar. Ele também saiu pelo mundo sem rumo, justamente para encontrar um. Ele fez algumas ligações, conferiu outras coisas no celular e enfim me encarou, já sem o semblante irritado de antes.

- Ok, não vou impedir que viaje, mas vou precisar impor algumas condições.
- Tudo bem, peça o que quiser – não acreditei quando ele topou.
- Só um minuto, preciso de mais uma coisa antes de explicar – e saiu do quarto.
- Vai mesmo embora? – Becky sentou na cama com um olhar triste.
- Não estou indo de vez, só quero ficar um pouco longe. Encontrar meu caminho.
- Então tem algo que preciso lhe contar que ninguém sabe ainda, nem mesmo Connor – ela pegou minha mão e a levou até sua barriga – Você vai ser titio.
- Você está grávida? – perguntei abrindo um sorriso enorme, o primeiro em dias, e a abracei – Ah Becky, que noticia maravilhosa!
- Descobri ontem, mas não consegui encontrar um meio de contar a ninguém, com todos tão deprimidos.
- Mas é por isso mesmo que você precisa contar. Estão todos sem esperança de nada, a notícia de que está esperando um bebê é a injeção de animo que a família precisa.
- Tem razão, vou contar ao Connor hoje e depois aos outros. Papai vai ficar louco.
- Merlin, ele vai ser vovô. Vai se sentir velho.
- Ai maninho, vou sentir saudades – ela me abraçou com os olhos cheios de lagrima – Um ano é muito tempo.
- Passa rápido. E prometo manter contato sempre, quero acompanhar você ficando gigante mesmo de longe – e ela me deu um soco no braço.
- Promete que vai estar aqui para o primeiro natal do bebê?
- Eu volto a tempo, não se preocupe.

Gabriel voltou ao quarto e vinha arrastando um Jamal com a cara toda amassada de quem tinha acabado de ser arrancado da cama. Não consegui impedir a risada vendo ele olhar para a mala aberta na cama e minhas roupas espalhadas, atordoado.

- O que está acontecendo aqui? Está de mudança?
- Rupert vai viajar. Vai passar um ano viajando pelo mundo e você vai com ele.
- O que? – dissemos ao mesmo tempo.
- Jamal está sendo promovido, ele agora é seu assessor particular. Durante esse seu ano fora, vou agendar alguns eventos que você precisa comparecer. Já era hora de organizar uma turnê mundial e o lançamento do Prisioneiro de Azkaban é a desculpa perfeita. Não me importa o roteiro que pretende fazer, desde que esteja nas cidades agendadas na data certa.
- Ok, sem problemas. Vai ser divertido.
- E você precisa encontrar tempo para escrever o quarto livro – assenti e ele olhou para Jamal – E o seu trabalho é manter ele na linha. Fazer com que não perca nenhum dos eventos programados, escreva e fique longe de confusão, entendeu?
- Mas eu estou fazendo faculdade! Papai não vai gostar disso.
- Você vai trancar a faculdade por um ano. Sei pai sabe que está no caminho certo agora, não vai se preocupar porque sabe que quando voltar, vai se formar.
- Eu não posso nem opinar e dizer se quero ir ou não?
- Não, você vai. E vai receber um salário para isso, então é bom fazer o trabalho direito. Se ele se meter em encrenca, você é quem leva a culpa. Quero a imagem dele intacta, e se possível ainda melhor quando voltarem.
- Ah Jam, vai ser divertido! Você e eu soltos pelo mundo. Nº 17 na minha Bucket List.
- Isso eu sei, mas é que acabei de acordar de ressaca e sou informado que estou partindo em uma viagem ao redor do mundo com meu melhor amigo e vou ser pago para isso. Desculpe se ainda estou um pouco confuso – dessa vez todo mundo riu.
- Bom, tudo acertado então. Vocês não vão hoje, é claro, ainda precisam de vistos e vacinas e eu preciso de um tempo para organizar uma agenda, então pare de atirar roupas na mala.
- Quanto tempo?
- Me dê duas semanas, ok? Se programem para partir em quinze dias.

Assenti animado e Gabriel saiu do quarto já com o celular na orelha. Becky me abraçou outra vez e Jamal ainda parecia perdido, mas eu estava mais do que ligado. Em duas semanas partira em uma viagem sem rumo ao redor do mundo e só voltaria um ano depois. Eu não ia conseguir dormir pelos próximos quinze dias.

°°°°°°°°

Jamal e eu viajamos por toda a Ásia, América do Sul, África e Oceania durante esse ano fora, e também alguns países da Europa. Cumpri toda a agenda imposta por Gabriel, terminei de escrever O Cálice de Fogo e comecei um novo livro – esse em parceria com Jamal – contando a nossa aventura pelo mundo. Visitei lugares incríveis que sequer sabia que existiam e conheci pessoas mais incríveis ainda dos quais nunca vou esquecer. Dormi em estações de trem, usei meios de transportes que deixariam apavorado qualquer pessoa com um pouco mais de juízo e perdi as contas de quantas vezes passei mal por comer algo suspeito. Ajudei a construir casas por uma ONG na África do Sul, ensinei inglês para refugiados tibetanos e comecei minha própria instituição de caridade. Em um ano me transformei em outra pessoa.

Foi uma experiência inesquecível. Não foi o Rupert que voltou para Londres em dezembro de 2020, foi alguém completamente novo. E quando desembarquei, Becky estava me esperando no aeroporto com Henry Liam, meu sobrinho de oito meses, no colo. Parti quando a família perdeu um membro e voltei quando ela ganhou um novo. Aquele era um novo começo.

Posted: segunda-feira, 22 de julho de 2013 by Clara Storm Lupin in
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"Às vezes o mais difícil não é esquecer, mas, em vez disso, aprender a recomeçar".

Nicole Sobon.


“Obrigado a todos por estarem aqui. Não vou demorar muito para que possamos começar a festa, mas a quem estou querendo enganar, alguns de vocês já estão bêbados, Brian. Eu sou o homem mais feliz vivo. Não tenho apenas bons amigos, eu tenho ótimos amigos. Becky, Brie, obrigado por me ajudarem com a playlist dessa pequena comemoração, mas tenho que confessar que quando vocês não estavam olhando eu coloquei a Do The Hippogriff de volta na lista. Ethan, Connor, Nick... Vocês sabem que são meus irmãos de coração. Só posso esperar que eu seja ao menos metade do que vocês se tornaram, porque vocês são meus exemplos. Nigel, o irmão de verdade e meu padrinho, não tenho palavras o suficiente para você. Eu confio em você com a minha vida porque sei que aconteça o que acontecer, você sempre vai estar lá para me proteger. Eu te amo, cara. E para a minha bela esposa Emma... você não é apenas parte da minha vida, você é a minha vida. E até o dia em que eu morrer você sempre vai ter a chave do meu coração.”


O discurso de Otter para o casamento, lido por Emma na reunião que fizemos no Scavo’s em homenagem a ele, foi como um soco no estomago. Se já estávamos todos tristes, ouvir aquela última mensagem dele levou todos ao estado de depressão. Houve brindes em seu nome, alguns contaram história engraçadas – a maioria dela envolvendo cerveja e maconha – e até demos risadas, mas o clima era o pior possível. Estávamos todos com uma sensação de derrota e eu não conseguia enxergar uma luz no fim do túnel, uma maneira de superar aquilo.

Voltar à rotina depois do enterro não foi nada fácil. Eu agora estava na Obstetrícia por 21 dias cuidando de grávidas e bebês sendo supervisionada por minha mãe, mas nem a perspectiva de passar 21 dias de pânico sob o comando dela ajudou a me deixar focada. Eu simplesmente havia perdido a vontade de fazer qualquer coisa. E isso estava ficando cada vez mais claro no trabalho que eu vinha fazendo.

Cinco dias depois de voltar ao hospital, uma paciente com pré-eclampsia na 20ª semana foi internada no andar. Fiz o exame inicial, prescrevi a dosagem do remédio no prontuário, entreguei a enfermeira e sai do quarto. Cinco minutos depois minha mãe me abordou com a enfermeira a tiracolo.

- Dra. Lupin, foi você quem prescreveu essa medicação? – perguntou com o prontuário da paciente do quarto 6 na mão.
- Sim, por quê?
- 100mg de Sulfato de Magnésio? Está tentando matar minha paciente?
- O que? – puxei o prontuário da mão dela – Era pra ser 10mg.
- Preste mais atenção ao prescrever qualquer coisa – ela puxou o prontuário de volta e se virou para a enfermeira – E você, da próxima vez que pegá-la ministrando um remédio receitado por um aluno sem que tenha sido aprovado por um atendente antes, está demitida.
- Sim senhora, desculpe – ela disse tremula e saiu apressada.
- Você, minha sala.

Mamãe saiu andando na frente e a segui sem empolgação. Ela fechou a porta quando passei e quando me encarou, achei que fosse me desintegrar.

- Onde estava com a cabeça quando prescreveu uma dosagem daquela, Clara?
- Desculpa, estava distraída. Não ando conseguindo focar em nada.
- Então encontre um jeito de achar o foco. Se eu não entro no quarto a tempo e vejo o tamanho da ampola na mão da enfermeira, ela teria injetado e a Sra. Watson teria morrido na hora!
- Eu vi o Otter explodir na minha frente, mãe! – quase gritei – Como pode me pedir concentração?
- Por que a vida de outras pessoas depende do nosso trabalho! Você escolheu ser médica, então comece a honrar o juramento que fará em três anos quando se formar! Você perdeu um primo e eu perdi um sobrinho. Estou devastada, mas preciso continuar o meu trabalho! – ela falava já com os olhos marejados – Brendan é como um irmão pra mim e eu não consigo sequer imaginar a dor que ele está sentindo, nenhum pai jamais deveria saber o que é perder um filho, e nós trabalhamos para impedir que outros pais passem por isso. Portanto se não está conseguindo se concentrar é melhor repensar se é esse mesmo o caminho que quer seguir.
- Não preciso repensar nada, é isso que eu quero.
- Não é o que está parecendo e não é de hoje que percebo que não leva isso totalmente a sério. Se realmente quer isso, vai ter que se esforçar mais para me provar.
- Não estou brincando, mãe. Eu quero ser médica.
- Então cresça encontre uma maneira de lidar com isso, porque ainda vai se deparar com muitas mortes que vão lhe abalar tanto quanto essa. E se está assim por algo que não teve culpa, não quero nem pensar em como vai ficar quando um paciente inevitavelmente morrer em suas mãos. E está dispensada por hoje, vá para casa antes que mate alguém mais cedo do que o esperado.

Mamãe saiu da sala sem dizer mais nada e continuei parada no mesmo lugar por alguns segundos, sem saber direito o que fazer. Ela achava que eu não estava levando aquilo a sério, quando tudo que mais queria era ser como ela.

Acabei não indo para casa, não teria ninguém lá e não queria ficar sozinha. E sabia que papai estava de férias do Ministério, então fui atrás dele. Naquele momento, só queria um pouco de colo da pessoa que sempre, não importa a situação, me faz sentir bem. Papai nunca decepcionava quando o assunto era me consolar.

- Deixe-me adivinhar – ele disse quando abriu a porta e me viu com cara de choro – Brigou com a sua mãe?
- Ela me mandou pra casa – respondi já o abraçando – Eu fiz besteira.
- O que você fez?
- Prescrevi a dosagem errada para uma paciente que podia tê-la matado. Tenha andado distraída.
- Então sua mãe fez bem em repreendê-la. Você não pode se distrair.
- Eu sei, ela disse que já tem tempo que ando assim, não é só agora depois do que aconteceu.
- E você acha que ela está certa?
- Não sei, acho que sim. Não percebi nada, mas esse é o meu jeito. Pareço não levar as coisas a sério, mas eu não escolhi medicina sem pensar.
- Sei disso, minha querida. E sua mãe sabe também, mas desde que contou a ela que queria seguir seus passos, ela criou expectativas. Talvez até demais, é verdade, mas elas existem.
- Nunca vou conseguir ser como ela, por mais que eu queira. Mamãe é como a Mulher Maravilha. Ela faz tudo ao mesmo tempo e nunca erra.
- Sua mãe também erra, ela não é uma super-heroína e também não espera que seja exatamente como ela.
- Então o que ela quer?
- Que você seja alguém que um dia as pessoas respeitarão, da mesma forma que ela é respeitada. Ela quer que você seja bem sucedida.
- Ela me acha uma piada, papai. Mamãe nunca vai me levar a sério.
- Então mostre a ela que você cresceu. Pegue seu tio Brendan como exemplo.
- Por quê?
- Brendan era uma criança problemática e um adolescente ainda pior. Ele sempre diz que o que o consertou foi o colégio militar, que sem ele nada teria dado certo.
- Todo mundo respeita o tio Brendan, mesmo ele sendo um palhaço.
- Exatamente. Ele se esforçou, encontrou seu caminho e provou para todo mundo que não era uma causa perdida.
- Eu sou uma causa perdida?
- Não, meu amor, você não é uma causa perdida – papai riu e beijou minha testa – Mas você ainda precisa encontrar o seu caminho.

Passei o resto do dia com papai. Saímos para almoçar em um restaurante no bairro e depois afundamos no sofá com um pote de sorvete para assistir filmes a tarde inteira. Quando fui embora, já quase anoitecendo, estava com a cabeça feita. Era uma mudança muito brusca, mas sabia que podia dar conta. Hiro foi a única pessoa com quem conversei antes de realmente tomar uma atitude. De inicio ele não ficou muito empolgado, tentou me convencer a desistir, mas estava tão determinada e certa de que aquele era o caminho que ele acabou me apoiando.

No fim de semana seguinte ele me acompanhou até a base da Marinha Real Britânica, onde me alistei. Eles agora assumiriam os custos dos meus estudos em Oxford e quando me formasse, eu assumiria a patente de Segundo Tenente e o cargo de médica da Marinha Real Britânica, estando totalmente à disposição deles para o caso de uma possível convocação para a guerra.

E eles me convocaram. Foi no final de 2025, depois que já havia terminado minha residência em cirurgia pediátrica. Fui enviada para passar um ano trabalhando no hospital militar da base de Kandahar, no Afeganistão.

Foi um ano difícil, mas essencial para determinar o rumo que minha vida levaria quando voltasse para casa. Muita coisa mudou, ela deu uma guinada de 360º, mas isso é longa história que contou outra hora.


N.A.: Discurso retirado do episódio 3.10 de Rookie Blue, com algumas alterações. 

...

Posted: terça-feira, 2 de julho de 2013 by Clara Storm Lupin in
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Outubro de 2019

O barulho do bipe alto e insistente me acordou e derrubei tudo que tinha na mesa de cabeceira na tentativa de pegá-lo. Minha cabeça doía horrores e o movimento brusco que fiz para me sentar e ver o que tinha no visor dele fez todo o quarto girar. Maldita despedida de solteiro de Emma, havia perdido a hora e estava atrasada para o plantão. Dra. Torres ia me matar.

Não tive tempo de tomar banho, vesti a primeira roupa que encontrei no armário, peguei meu jaleco pendurado na cadeira e aparatei em um beco próximo ao John Radcliffe, não teria tempo de usar o metro hoje. Olhei no relógio enquanto corria desesperada para o hospital e vi que já estava mais de uma hora atrasada. Ela realmente ia me matar, mas não seria a única. Assim que pus os pés no saguão, esbarrei em minha mãe. Droga! O que ela estava fazendo na emergência?

- Você está chegando agora ao hospital?
- Eu perdi a hora, ontem foi a despedida de solteiro da Emma e-
- Artemis também estava na festa e está aqui desde as 7h – ela me cortou – Ela trabalha o dobro de você, tendo também o estágio no Ministério e os deveres com o Clã e nunca se atrasa. E eu, que passei pela faculdade grávida do seu irmão e depois tendo um bebê em casa, nunca cheguei atrasada a um plantão.
- Desculpa mãe, isso não vai mais se repetir.
- É melhor que não.

Ela saiu andando pelo corredor sem falar mais nada e fiquei parada sem saber se socava uma parede ou procurava a Dra. Torres. Optei por procurar minha Atendente, visto que já estava encrencada o bastante. Encontrei JJ e Arte parados do lado de fora na saída da emergência e só então lembrei que hoje deveria ser o dia que começava minha rotação com os paramédicos.

- Clara, o que houve? – Arte perguntou preocupada quando me aproximei.
- Não ouvi o relógio despertar, o que eu perdi?
- Torres está furiosa, Justin teve que ir em seu lugar com os paramédicos porque eles não podiam esperar você chegar.
- Droga! E agora? Vou ficar mais 21 dias na emergência?
- Fique feliz se sobreviver a Dra. Torres hoje – JJ falou – Você está com uma cara péssima.
- Obrigada. Nunca mais bebo margaritas.
- LUPIN, o plantão começou às 7h! Onde diabos você estava? – Dra. Torres gritou do meio do corredor e me lançou um olhar tão furioso que se fosse feito de laser eu estaria morta. – Não responda, não me interessa. Fará plantão dobrado hoje.
- Dra. Torres, eu perdi o começo da rotação com os paramédicos, o que devo fazer? Começo amanha?
- Não, Silverhorn fará a rotação esse mês. Amanhã você começa na Obstetrícia.
- O que? Mas eu nem me inscrevi pra ela ainda!
- Sua mãe acabou de solicitar seu traseiro sob o comando dela a partir de amanhã e eu gosto muito da Dra. Storm, não podia negar um pedido desses – ela me olhou com um sorriso sarcástico no rosto, quase maldoso, antes de continuar – E se você acha que eu sou ruim, espere até amanhã .
- E quanto a nós, Dra. Torres? – JJ perguntou receoso.
- Hoje vocês estão comigo, amanhã você começa a rotação na Pediatria e Chronos começa na Psiquiatria.

Ia reclamar, queria protestar por ser jogada para uma rotação que ainda não queria mesmo que isso levasse a outro esporro, mas o barulho de uma ambulância entrando no pátio me interrompeu. O que foi bom, porque Arte já estava me olhando com cara de pavor, implorando sem usar palavras para que eu calasse a boca. As portas da ambulância abriram e Justin saltou de dentro dela puxando uma maca. Nela tinha um homem desacordado e a outra paramédica vinha ao lado, seu braço quase pela metade dentro da barriga do homem. Nós três arregalamos os olhos e o grito da Dra. Torres nos chamando nos trouxe de volta a realidade.

- Cohen, quero todo o histórico médico desse homem na minha mão em um minuto! – gritou com JJ e ele assentiu, saindo correndo até a mulher que berrava enlouquecida no fundo da ambulância – Chronos, reserve uma sala no centro cirúrgico imediatamente! – e Arte correu em disparada hospital adentro.
- O que eu faço, Dra. Torres? – perguntei atordoada, o braço daquela mulher dentro do homem estava tirando minha concentração.
- Você me acompanha – respondeu ríspida e olhou para Justin – Silverhorn, por que essa paramédica está com a mão dentro do meu paciente?
- Eu a aconselhei a não fazer isso, Dra. Torres – Justin se defendeu.
- Ficha?
- James Carlson, 46 anos, o encontramos inconsciente e sangrando. Os mecanismos do ferimento são desconhecidos, mas ele tem um ferimento de sucção grande no peito e uma esposa com pulmões muito saudáveis.
- Sinais vitais?
- Taquicardia nos 140s. Pressão sanguínea estável nos 90s.
- Minha mão foi a única coisa que parou o sangramento – a paramédica se defendeu – Posso tirar agora?
- Você está com seu dedo em um grande sangramento e o Sr. Carlson está ficando sem tempo. A única coisa que pode fazer agora é uma viagem para a sala de cirurgia. Dra. Lupin, prepare-se para transportá-lo até o Centro Cirúrgico.
- O que você quer que eu faça, Dra. Torres? Já que não vamos voltar à ronda agora.
- Ajude Cohen a fazer aquela mulher parar de gritar e nos dizer o que diabo aconteceu!

Justin assentiu e correu para longe do caminho para onde JJ estava tentando, em vão, se comunicar com a esposa do Sr. Carlson. Os gritos dela podiam ser ouvidos em toda a emergência e fiquei feliz por entrar no elevador.

Arte já havia reservado a sala no Centro Cirúrgico e nos esperava com a equipe para começar a operação quando chegamos. Nos lavamos na sala de preparação e já estávamos prontas para começar quando a porta da sala se abriu com violência e um Justin pálido entrou, chamando a Dra. Torres. Eles conversaram em voz baixa por alguns segundos e logo o semblante no rosto da Dra. Torres mudou. Ela se virou para a equipe e se dirigiu à paramédica com a mão dentro do homem com uma calma que eu ainda não havia testemunhado.

- Você, como se chama?
- Susan. Por quê?
- Susan, o ferimento em James Carlson entrou-e-saiu?
- Não, só foi de entrada. Sem saída. Por quê?
- Susan, quero que me diga o que você sente dentro do Sr. Carlson. O que a sua mão está tocando?
-O que você quer dizer?
- A sua mão está tocando alguma coisa dura? Como metal.
- Eu... Não sei – ela ameaçou mexer a mão e vi a Dra. Torres perder a cor.
- Não mexa a sua mão. Só me diga o que você sente.
- Dra. Torres, o que está acontecendo? – perguntei já pressentindo que algo muito ruim.
- Susan? – ela me ignorou.
- A ponta do meu dedo está tocando alguma coisa meio dura.
- Oh, meu Deus – Arte exclamou e tapou a boca com as mãos.
-O que? O que está errado? – Susan começou a entrar em pânico.
- Susan, eu quero que você fique imóvel.  Não mexa nem a mão, nem o seu corpo, nem um centímetro.
- Você deveria saber que está começando a me assustar.
- Não fique assustada .Tudo vai ficar bem.
- Dra. Chronos, você poderia vir até aqui? – ela chamou Arte na porta da sala – Eu quero que você saia dessa sala - ande, não corra – e vá dizer a enfermeira encarregada que nós temos um Code Black. Diga a ele que eu tenho certeza, e também para chamar o esquadrão anti-bombas.

Artemis assentiu e saiu depressa da sala, mas por mais que eles tenham falado baixo, todos havíamos ouvido a parte do esquadrão anti-bombas. Houve um pânico inicial na sala, mas a Dra. Torres manteve a calma e pediu que todos se retirassem, lentamente, ficando apenas ela e Susan, que estava assustada, mas mantinha a mão imóvel. Só que eu fiquei. Não sei explicar o motivo, mas não conseguia me mover. A garota era só um pouco mais velha que eu e estava aterrorizada, sentia que precisava ficar ao lado dela.

E meu instinto se provou certo. Pouco antes do esquadrão anti-bombas chegar Susan entrou em pânico. Começou a dizer que ia tirar a mão, que era jovem demais para morrer, e Justin, JJ e Arte entraram correndo na sala para me ajudar a acalmá-la. Ela ficava cada vez mais descontrolada e chorava copiosamente, e então tudo aconteceu rápido demais. Até hoje digo que foi meu instinto de lobo que nos salvou. Susan puxou a mão de dentro do corpo do Sr. Carlson, correndo sala afora, e todos se atiraram no chão, mas nada aconteceu. Quando olhei para baixo, estava com a mão dentro dele, segurando a bomba.

O pânico era visível no rosto de todos eles, mas não havia nada que pudéssemos fazer. O esquadrão anti-bombas finalmente chegou e Otter era o líder da equipe. Era bom ter alguém em quem confiava no comando daquela situação. Ele colocou todos para fora, deixando apenas a Dra. Torres e eu na sala. Ela, para ventilar o Sr. Carlson que precisou ser desligado da máquina por causa do fluxo de oxigênio, e eu por motivos óbvios. Depois trouxe o aparelho móvel de Raio-X para que pudéssemos saber com o que estávamos lidando. Mamãe apareceu no corredor em pânico, mas ele a acalmou e ela não teve alternativa senão se afastar. Ótimo. Se eu explodisse, minha ultima conversa com ela teria sido uma briga.

- Então... Eu estou tocando agora em uma munição que não explodiu? – perguntei depois que ele explicou brevemente a situação.
- Eu receio que sim.
- Não é o melhor sentimento do mundo.
- Eu acho que não. O dispositivo é feito a mão, o que significa que é instável e muito difícil de confiar. Pode ser uma bomba falhada, mas não temos como saber.
- Quem constrói uma bazuca e atira no outro? – perguntei tentando descontrair
- As pessoas não param de nos surpreender com a sua estupidez. Como isso que você fez. Você tem noção o quão estúpido foi isso?
- Incrivelmente estúpido – Dra. Torres completou.
- Certo, já entendi – disse impaciente – Então você tem um plano, certo? Você realmente vai me tirar dessa, não é?
- Sim, prima, não se preocupe. Eu sou o cara.

Otter abriu um sorriso, aquele sorriso carismático que não combinava nem um pouco com o cargo que ele ocupava como líder do esquadrão anti-bombas e que conquistava qualquer um, e calmamente me explicou qual era o tipo de bomba que eu estava segurando e todo o procedimento para que ela fosse retirada com segurança. Depois explicou para a Dra. Torres que ela poderia operá-lo assim que a bomba estivesse em suas mãos.

- Certo. Vamos revisar de novo.
- O dispositivo tem o formato de um foguete. Tem aproximadamente 20 cm de comprimento – repeti o que ele havia dito.
- E a minha equipe estará a postos. Então eu vou segura o dispositivo com firmeza e puxe-o para fora lentamente.
- Mantendo-o no mesmo nível – completei e ele assentiu.

Otter saiu da sala alguns minutos e podia ver que estava falando no rádio com o resto de sua equipe. Só ele estava próximo da sala, os outros membros estavam no afastados no final do corredor. Vi ele assentindo algumas vezes e então voltou.

- Nós estamos prontos.
- Clara? – Dra. Torres me chamou – Eu vou abrir o ferimento. Quando eu cortar, o sangramento vai fica intenso. Se nós vamos salvar o Sr. Carlson, Você tem que tirar a munição imediatamente.
- Mas lembre-se, remova-o mantendo-o no mesmo nível possível – Otter lembrou e assenti – Com calma e devagar, sem movimentos rápidos.
- Certo, no nível.
- Você está pronta?
- Eu tenho alguma escolha?
- Você tem que estar pronta.
- Eu acho que estou pronta.
- Certo, vamos lá. Coloque a sua mão ao redor do nariz do cone.
- Hiro, ele acha que nunca vou me casar com ele – disse de repente.
- Clara?
- Não é verdade, eu adoraria me casar com ele, mas não agora nem tão cedo. Não estou pronta. Pode dizer isso a ele?
- Clara, você vai ficar bem, pode dizer você mesma.
- Não, você tem que me garantir que vai dizer isso a ele! – minha voz estava saindo do controle, eu estava em pânico.
- Ok, tudo bem, eu digo a ele.
- Eu-eu não posso. Não. Eu não posso. Isso é loucura. Dra. Torres, você precisa ir embora. Vocês dois devem ir. Você vai se casar essa semana.
- Ninguém vai morrer hoje, Lupin.
- Clara, eu quero que você olhe pra mim. Eu sei que é ruim. Isso é um saco, mas você não vai morrer. Mas você precisa me ouvir.
- Estou com medo
- Eu sei. Mas você pode fazer isso. Vai acabar em um segundo.
- Tudo bem.
- Certo. Então vamos lá. Devagar – Otter se aproximou mais e comecei a mover a mão lentamente – Isso, muito bem, só mais um pouco.

Puxei a mão toda para fora e fazendo um esforço enorme para não tremer, entreguei a bomba na mão dele. “Você se saiu bem” foi a última coisa que ele disse antes de sair da sala, ainda com aquele sorriso contagiante no rosto me encorajando. Assim que ele saiu a Dra. Torres começou a operar o Sr. Carlson e meu corpo inteiro começou a tremer, nem que ela tivesse solicitado minha ajuda eu seria capaz de fazer alguma coisa. Graças a Merlin nos minutos finais Otter tinha autorizado a entrada da chefe das enfermeiras e do anestesista.

Ainda tremendo, caminhei até a porta da sala para ver meu primo caminhando com a bomba pelo corredor, mas assim que pus os pés do lado de fora e vi Otter de costas, uma explosão ensurdecedora fez todo o andar tremer e me lançou para trás. Minha cabeça bateu no chão com a força do impacto e apaguei.


N.A.: Trechos de diálogos retirados de Grey’s Anatomy, “It’s the end of the world” e “As we know it”.