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Agosto de 2017
Era um típico dia de verão em Londres, com a temperatura
bastante elevada. O café onde elas haviam combinado de se encontrar estava
movimentado, mas quando Alex e Yulli chegaram, Louise e Sam já ocupavam uma das
mesas. Cada uma tinha um copo grande de frappuccino nas mãos e conversavam
despreocupadas, de óculos escuros e sandálias rasteiras no pé. Não era uma
visão muito comum.
- Perdeu a aposta, Yul – Alex estendeu a mão para a amiga
lhe pagar – Eu disse que elas viriam.
- Vocês de pouca fé... – Louise levantou e abraçou as amigas
– É claro que viríamos, não foi isso que combinamos?
- Vocês nunca saem daquele hospital! Admitam que não é comum
ver as duas sentadas tão a vontade assim numa mesa na calçada.
- Certo, não é, mas estamos aprendendo a delegar tarefas –
Louise disse e Sam assentiu.
- Estamos evoluindo e desapegando um pouco do trabalho. Não
tiro um dia de folga há tanto tempo que nem sei o que fazer. Estou maravilhada
de ver como as pessoas andam tão despreocupadas na rua, essa gente não tem
conta pra pagar? – e as três começaram a rir da amiga.
- Ok, vamos tomar nosso café antes que Sam comece a falar
das maravilhas de usar um vestidinho de verão e sandálias sem salto – Yulli
disse empurrando as três de volta para a mesa.
- Sam estava precisando de uma folga de casa, ela anda
estressada – Louise comentou rindo e Sam bufou.
- O que houve? – Alex perguntou fazendo sinal para a
garçonete.
- Não consigo entender como seu filho
pode bancar o zumbi e trocar o dia pela noite. Queria tanto saber como é dormir
sem pensar se o seu cérebro vai estar no lugar quando você acordar!
- Resumindo: você precisa tirar seu filho de
casa – Yulli completou e ela assentiu – Entendo você, amiga. Estou
enlouquecendo com Keiko e Hiro brigando dentro de casa. E olha que eles já
estão em Londres desde o começo do mês, mas Julho foi o suficiente.
- E você quer colocar os dois morando juntos aqui, sozinhos?
– Louise perguntou surpresa – Quer fazer uma versão família de Jogos Vorazes?
- Contanto que eles não estejam brigando sob o meu teto, não
me importo.
- Mas isso já anda acontecendo em casa. Haley quase
escalpelou o índio e na hora que fizeram as pazes? Nunca vi u exame de
amígdalas tão intenso – Alex revirou os olhos e elas riram – Ah e já ia me
esquecendo, Julian e Lena terminaram. Parece que ele resolveu curtir a vida já
que ela quer focar na carreira. Ele é muito meu neto pra aceitar ficar em
segundo plano.
- É, as crianças cresceram. Namoram, se
separam, focam na carreira, saem de casa... – Yulli comentou e todas
assentiram.
- Bom, não todos, não é? – Sam disse
respirando fundo – Não vejo muito animo em JJ sobre sair de casa. E com Keiko
vindo morar aqui, ele vai fazer a minha casa de lavanderia e se enfiar debaixo
do teto dela o dia inteiro.
- Quando nos formamos, a primeira coisa que
fizemos foi sair de casa. Essas crianças estão muito moles, temos que nos
intrometer – Louise disse inconformada – Clara também não dá indícios de que
vai a lugar algum, vai viver como JJ se eu não fizer alguma coisa.
- Acho que temos que agir
como as mães águias – Alex falou e Sam olhou animada.
- Devorar os filhotes?
Não sou contrária à ideia.
- Tentador, mas não –
Alex riu – Se eles não saem do ninho por livre vontade, nós os jogamos de lá.
Garanto que vão bater as asas rapidinho.
- Expulsá-los de casa? –
Sam soou preocupada – JJ me enlouquece, mas não quero que meu filho more na rua
e vire mendigo. Não sou tão extrema assim.
- Que tal seguirem meu
exemplo e arrumarem um lugar para eles ficarem? – Yulli sugeriu – Resolveria um
problema meu também, na verdade. Clara e Haley podem dividir um apartamento com
Keiko e procuramos outro para JJ e Hiro morarem. Tiramos nossos filhos de casa
e os meus não se matam dividindo o mesmo teto.
- Compramos o
apartamento, e dividindo entre nós quatro não vai sair tão caro, e eles se
viram para pagar as contas – Louise se animou – É, gosto da ideia.
- E isso vai ajudar a
manter os nossos maridos com a ilusão de que nossas meninas são tranquilas, não
beijam seus namorados. Logan ainda pensa que Justin é o esperto. Coitado, não
sabe a filha que tem.
- É, eu confio muito mais
no Hiro do que na Clara – Louise completou e Yulli riu – Mas deixa Remo pensar
que a preocupação maior é ele.
- E então? Vamos dar início
à operação “voa filhotinho”?
As quatro terminaram de
tomar café e munidas de um jornal e o carro de Louise, começaram as buscas de
um novo lar para os filhos. Encontrar apartamentos para alugar em Londres com
preço razoável era uma tarefa complicada e apartamentos a venda pareciam quase
impossíveis. Os bairros eram caros demais ou tão baratos que tornavam o local
perigoso. À medida que o dia ia se aproximava do fim, já começavam a achar que
não encontrariam nada. Sam estava pronta para desistir e deixar que JJ usasse
sua casa como lavanderia quando Yulli, determinada a tirar os dois filhos de
casa e mantê-los vivos, encontrou um anuncio que chamou sua atenção.
- Vamos olhar só mais um,
estou sentindo que 13 é nosso numero da sorte! – disse entregando o jornal para
Alex colocar o endereço no GPS.
- Apartamento de três
quartos, uma suíte, um banheiro, cozinha, sala espaçosa, lavanderia no
prédio... – ela ia lendo em voz alta – Holborn, não é nesse bairro que o Nick
mora?
- É sim, é um bairro
excelente e os preços não são tão caros – Louise respondeu começando a se
animar – Como não vimos esse antes?
- Porque estávamos
procurando prédios com elevador e esse não tem – Yulli respondeu – Eles não
precisam de elevador, são só seis andares. E tem dois apartamentos à venda no
4º andar, podemos matar dois diabretes com um feitiço só.
O corretor de imóveis que
falou com Yulli no telefone enquanto elas estavam a caminho do prédio já estava
esperando por elas quando chegaram. Estava ansioso para mostrar os
apartamentos, que ficavam um de frente para o outro. Aparentemente o fato de
não ter elevador não estava ajudando nas vendas, mas eram apartamentos
excelentes. Espaçosos e bem divididos, grandes até demais para cinco
adolescentes que acabaram de sair da escola e nunca trabalharam na vida, mas se
queriam eles criando asas, teriam que dar aquele empurrão.
Era a situação perfeita:
um corretor desesperado para vender dois apartamentos encalhados e quatro mães
desesperadas para tirar seus filhos de casa. Yulli, que é empresária, ficou
responsável pela negociação com o corretor e em menos de duas horas já estavam
acertando valores e marcando uma reunião para o dia seguinte com os proprietários
para assinar os contratos e os cheques. Os filhotes iam aprender a voar, agora
só precisavam ser informados sobre isso. E depois de um dia exaustivo, nada
melhor do que encerrá-lo em um pub para relaxar. Louise pediu quatro rodadas de
Bloody Mary e o garçom colocou os copos na mesa.
- Merlin, Bloody Mary.
Acho que não sei mais que gosto tem isso – Sam disse com os olhos brilhando.
- Vai Sam, bebe, você merece
– Alex falou, mas ela já estava com metade do copo vazio – Ela vai atender alguém
amanha?
- Sim, vai. Boa sorte ao
paciente – Louise respondeu rindo.
- Dois dias seguidos de
folga só pedindo ao Papai Noel – Sam respondeu virando o restinho do copo, mas
Yulli impediu que ela virasse tudo.
- Calma, nem brindamos
ainda! – e ela ergueu o copo no centro da mesa.
- Um brinde ao voo das
novas águias e à nossa sanidade! – Alex disse erguendo o seu e todas fizeram o
mesmo.
-Amém! – Sam completou e
virou o resto do drink – Garçom, outro!
Todas viraram seus drinks
depressa para acompanhar Sam e em pouco tempo a mesa já era um cemitério de
copos e as gargalhadas ficavam cada vez mais altas. As pessoas crescem, casam,
tem filhos e seguem em frente, mas certas coisas nunca mudam.