Posted: terça-feira, 28 de agosto de 2012 by Autor convidado in
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Agosto de 2017


Era um típico dia de verão em Londres, com a temperatura bastante elevada. O café onde elas haviam combinado de se encontrar estava movimentado, mas quando Alex e Yulli chegaram, Louise e Sam já ocupavam uma das mesas. Cada uma tinha um copo grande de frappuccino nas mãos e conversavam despreocupadas, de óculos escuros e sandálias rasteiras no pé. Não era uma visão muito comum.

- Perdeu a aposta, Yul – Alex estendeu a mão para a amiga lhe pagar – Eu disse que elas viriam.
- Vocês de pouca fé... – Louise levantou e abraçou as amigas – É claro que viríamos, não foi isso que combinamos?
- Vocês nunca saem daquele hospital! Admitam que não é comum ver as duas sentadas tão a vontade assim numa mesa na calçada.
- Certo, não é, mas estamos aprendendo a delegar tarefas – Louise disse e Sam assentiu.
- Estamos evoluindo e desapegando um pouco do trabalho. Não tiro um dia de folga há tanto tempo que nem sei o que fazer. Estou maravilhada de ver como as pessoas andam tão despreocupadas na rua, essa gente não tem conta pra pagar? – e as três começaram a rir da amiga.
- Ok, vamos tomar nosso café antes que Sam comece a falar das maravilhas de usar um vestidinho de verão e sandálias sem salto – Yulli disse empurrando as três de volta para a mesa.
- Sam estava precisando de uma folga de casa, ela anda estressada – Louise comentou rindo e Sam bufou.
- O que houve? – Alex perguntou fazendo sinal para a garçonete.
- Não consigo entender como seu filho pode bancar o zumbi e trocar o dia pela noite. Queria tanto saber como é dormir sem pensar se o seu cérebro vai estar no lugar quando você acordar!
- Resumindo: você precisa tirar seu filho de casa – Yulli completou e ela assentiu – Entendo você, amiga. Estou enlouquecendo com Keiko e Hiro brigando dentro de casa. E olha que eles já estão em Londres desde o começo do mês, mas Julho foi o suficiente.
- E você quer colocar os dois morando juntos aqui, sozinhos? – Louise perguntou surpresa – Quer fazer uma versão família de Jogos Vorazes?
- Contanto que eles não estejam brigando sob o meu teto, não me importo.
- Mas isso já anda acontecendo em casa. Haley quase escalpelou o índio e na hora que fizeram as pazes? Nunca vi u exame de amígdalas tão intenso – Alex revirou os olhos e elas riram – Ah e já ia me esquecendo, Julian e Lena terminaram. Parece que ele resolveu curtir a vida já que ela quer focar na carreira. Ele é muito meu neto pra aceitar ficar em segundo plano.
- É, as crianças cresceram. Namoram, se separam, focam na carreira, saem de casa... – Yulli comentou e todas assentiram.
- Bom, não todos, não é? – Sam disse respirando fundo – Não vejo muito animo em JJ sobre sair de casa. E com Keiko vindo morar aqui, ele vai fazer a minha casa de lavanderia e se enfiar debaixo do teto dela o dia inteiro.
- Quando nos formamos, a primeira coisa que fizemos foi sair de casa. Essas crianças estão muito moles, temos que nos intrometer – Louise disse inconformada – Clara também não dá indícios de que vai a lugar algum, vai viver como JJ se eu não fizer alguma coisa.
- Acho que temos que agir como as mães águias – Alex falou e Sam olhou animada.
- Devorar os filhotes? Não sou contrária à ideia.
- Tentador, mas não – Alex riu – Se eles não saem do ninho por livre vontade, nós os jogamos de lá. Garanto que vão bater as asas rapidinho.
- Expulsá-los de casa? – Sam soou preocupada – JJ me enlouquece, mas não quero que meu filho more na rua e vire mendigo. Não sou tão extrema assim.
- Que tal seguirem meu exemplo e arrumarem um lugar para eles ficarem? – Yulli sugeriu – Resolveria um problema meu também, na verdade. Clara e Haley podem dividir um apartamento com Keiko e procuramos outro para JJ e Hiro morarem. Tiramos nossos filhos de casa e os meus não se matam dividindo o mesmo teto.
- Compramos o apartamento, e dividindo entre nós quatro não vai sair tão caro, e eles se viram para pagar as contas – Louise se animou – É, gosto da ideia.
- E isso vai ajudar a manter os nossos maridos com a ilusão de que nossas meninas são tranquilas, não beijam seus namorados. Logan ainda pensa que Justin é o esperto. Coitado, não sabe a filha que tem.
- É, eu confio muito mais no Hiro do que na Clara – Louise completou e Yulli riu – Mas deixa Remo pensar que a preocupação maior é ele.
- E então? Vamos dar início à operação “voa filhotinho”?

As quatro terminaram de tomar café e munidas de um jornal e o carro de Louise, começaram as buscas de um novo lar para os filhos. Encontrar apartamentos para alugar em Londres com preço razoável era uma tarefa complicada e apartamentos a venda pareciam quase impossíveis. Os bairros eram caros demais ou tão baratos que tornavam o local perigoso. À medida que o dia ia se aproximava do fim, já começavam a achar que não encontrariam nada. Sam estava pronta para desistir e deixar que JJ usasse sua casa como lavanderia quando Yulli, determinada a tirar os dois filhos de casa e mantê-los vivos, encontrou um anuncio que chamou sua atenção.

- Vamos olhar só mais um, estou sentindo que 13 é nosso numero da sorte! – disse entregando o jornal para Alex colocar o endereço no GPS.
- Apartamento de três quartos, uma suíte, um banheiro, cozinha, sala espaçosa, lavanderia no prédio... – ela ia lendo em voz alta – Holborn, não é nesse bairro que o Nick mora?
- É sim, é um bairro excelente e os preços não são tão caros – Louise respondeu começando a se animar – Como não vimos esse antes?
- Porque estávamos procurando prédios com elevador e esse não tem – Yulli respondeu – Eles não precisam de elevador, são só seis andares. E tem dois apartamentos à venda no 4º andar, podemos matar dois diabretes com um feitiço só.

O corretor de imóveis que falou com Yulli no telefone enquanto elas estavam a caminho do prédio já estava esperando por elas quando chegaram. Estava ansioso para mostrar os apartamentos, que ficavam um de frente para o outro. Aparentemente o fato de não ter elevador não estava ajudando nas vendas, mas eram apartamentos excelentes. Espaçosos e bem divididos, grandes até demais para cinco adolescentes que acabaram de sair da escola e nunca trabalharam na vida, mas se queriam eles criando asas, teriam que dar aquele empurrão.

Era a situação perfeita: um corretor desesperado para vender dois apartamentos encalhados e quatro mães desesperadas para tirar seus filhos de casa. Yulli, que é empresária, ficou responsável pela negociação com o corretor e em menos de duas horas já estavam acertando valores e marcando uma reunião para o dia seguinte com os proprietários para assinar os contratos e os cheques. Os filhotes iam aprender a voar, agora só precisavam ser informados sobre isso. E depois de um dia exaustivo, nada melhor do que encerrá-lo em um pub para relaxar. Louise pediu quatro rodadas de Bloody Mary e o garçom colocou os copos na mesa.

- Merlin, Bloody Mary. Acho que não sei mais que gosto tem isso – Sam disse com os olhos brilhando.
- Vai Sam, bebe, você merece – Alex falou, mas ela já estava com metade do copo vazio – Ela vai atender alguém amanha?
- Sim, vai. Boa sorte ao paciente – Louise respondeu rindo.
- Dois dias seguidos de folga só pedindo ao Papai Noel – Sam respondeu virando o restinho do copo, mas Yulli impediu que ela virasse tudo.
- Calma, nem brindamos ainda! – e ela ergueu o copo no centro da mesa.
- Um brinde ao voo das novas águias e à nossa sanidade! – Alex disse erguendo o seu e todas fizeram o mesmo.
-Amém! – Sam completou e virou o resto do drink – Garçom, outro!

Todas viraram seus drinks depressa para acompanhar Sam e em pouco tempo a mesa já era um cemitério de copos e as gargalhadas ficavam cada vez mais altas. As pessoas crescem, casam, tem filhos e seguem em frente, mas certas coisas nunca mudam. 

Posted: sábado, 25 de agosto de 2012 by Ethan M. Warrick in
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Setembro de 2014
- Ethan! Precisamos de você agora!- e o som de uma porta batendo fizeram com que eu pulasse da cadeira do refeitório, aonde eu estava tomando uma xícara enorme de café. Eu era o médico encarregado do plantão noturno e já estava trabalhando há quase vinte horas e o pronto socorro do hospital estava agitado.
- O que temos aqui?- quis saber enquanto colocava as luvas e entrava na área de atendimento, onde Brian já estava tentando entubar o que parecia ser um homem, e sua aparência não era das melhores. Estava todo disforme, com membros e rosto esmagados e os enfermeiros andavam agitados, verificando sinais vitais, estancando sangramentos, e conectando bolsas de soro e sangue, e eu assumia a minha função.
-  O cara foi bancar o herói, salvando um cachorro do atropelamento de um ônibus. Adivinha quem levou a melhor? - respondeu Carol, a chefe das enfermeiras, enquanto ajudava Brian com a entubação.
- Precisamos estabiliza-lo antes de leva-lo para a cirurgia.Alguém sabe o nome deste cara?- quis saber Brian e ouviamos murmúrios negativos em resposta.
- Quero um kit de sutura 8, e mais luz em cima do paciente.- disse enquanto me aproximava do que parecia ser a perna do homem e via um esguicho de sangue.Quando comecei a trabalhar no paciente, ouvi um gemido vindo da mesa e quis saber:
- Porque o John Doe não está sedado Mack? E que cheiro é este?- perguntei para o anestesista de plantão enquanto desviava de jato de sangue que ia cair em meus tênis.- Mandem mais uma bolsa de O negativo e abram mais o soro, temos uma perfuração de intestino aqui, rápido pessoal.- disse enquanto trabalhava na parte inferior do paciente e ouvi Mack dizendo, enquanto analisava os monitores:
- Já dei o máximo que podia, Ethan, este cara deve usar alguma bomba, por isso não apaga totalmente, preciso dele na sala de cirurgia para fazer mais alguma coisa.- nesta hora outra enfermeira entrou rápido e disse com a voz tensa:
- Pessoal, o John  Doe é o Jeff Cheiroso.- ela mal terminou de falar e os aparelhos começaram a apitar, congelamos por alguns segundos tentando reconhecer naquela massa disforme o sem teto que sempre aparecia no hospital para conseguir algum remédio, refeições quentes e algumas vezes sabíamos que era só para fugir da polícia, mas não ligávamos, sempre o atendíamos. Brian gritou:
- Nada disso, Jeff. Carreguem em 200. Afastem-se!- o corpo do paciente pulou na mesa, mas não reagiu. Brian ainda tentou mais duas vezes, epinefrina, fizemos massagem cardíaca mas  infelizmente, Jeff  não deu sinais de reação. Brian olhou para mim, querendo saber o que fazer, e após eu constatar que já haviam passado 10 minutos, olhei para o relógio e disse sentindo um nó na garganta:
- Paciente Jefferson Kern: hora da morte 05:30 da manhã! – ficamos ainda alguns segundos olhando para o corpo dele em cima da maca, quando lembrei que a única família que ele poderia contar seria a do hospital disse:
- Carol, peça a Brianna, para cuidar do funeral, é por minha...- mas Carol interrompeu:
-  Será por nossa conta, Ethan. Jeff...O senhor Kern sempre deixava minhas novatas treinarem os acessos nele. Precisamos nos despedir apropriadamente.  – assenti e após olhar ao redor pensei em falar que todos fizeram o possível por Jeff Cheiroso e ele teria ficado agradecido, quando nossos bips soaram estridentes. Olhei a mensagem, respirei fundo e disse:
- Pacientes chegando em três minutos.

o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-

Os dias em que eu tinha folga do hospital, eu procurava me dedicar ao abrigo, que estava sendo considerado um dos melhores e mais seguros então sempre havia alguém precisando de nós.  Além da parte burocrática ser cuidada pela McGregors e Associados, contávamos com uma psicóloga, e uma recreadora que organizava atividades paras as crianças, aliviando um pouco o trauma de estar em um ambiente estranho, também tínhamos os voluntários não só os da minha enorme família como os amigos. Otter e Nigel, uma vez ao mês promoviam a noite italiana e era muito bom ver o sorriso das pessoas quando aqueles dois malucos chegavam com as caixas de pizzas quentinhas e algumas vezes, Nick, Becky, Connor conseguiam estar conosco e era muito bom.
 Como era uma casa antiga, sempre tinha algum conserto a ser feito, ou alguma pessoa sob nossos cuidados, precisando de acompanhamento médico, ou apenas eu ia até lá só para acompanhar as coisas e para conversar com Gwen, que com a ajuda de Brianna, estava fazendo o curso de assistente social à distância. John havia atuado como o advogado dela no divórcio e havia conseguido até mesmo ordens de restrição contra o ex marido valentão, e assim ela se sentia segura e seus filhos estavam felizes, levando uma vida normal. E tio Caleb e tia Megan, os pais de Edward, por morarem próximos, haviam oferecido a sua proteção no turno da noite, já que durante o dia sempre havia muitas pessoas por ali e os abrigados cuidavam uns dos outros.
- Então quando vai pedi-la em casamento?- quis saber Edward enquanto me ajudava a pintar as paredes do sótão, onde iriamos instalar uma sala de música para as aulas que Connor e Nick iriam dar para as crianças.
- Estamos juntos e felizes, e é isso o que me importa. E fale baixo, ela está lá embaixo com Gwen e eu não quero irrita-la, isso estragaria o meu fim de semana. - respondi concentrado em arrematar um canto de parede.
- Concordo! Mas privacidade é importante, ainda mais depois de todos ficarem sabendo que vocês dois gostam de jogar strip poker quando estão sozinhos.- zombou.
- Brian vai morrer quando chegar em casa. Fofoqueiro. – respondi ranzinza e ele riu:
- Mas ele só retribuiu a gentileza, afinal você estragou o encontro dele com a dermatologista...
- Foi sem querer, eu não percebi que ele estava acompanhado, quando puxei aqueles malditos lençóis da cama dele. Iriamos chegar atrasados ao trabalho.  Aquela garota fica vermelha até hoje quando me vê pelo hospital. Acho que é porque elogiei a tatuagem dela na...- e ele comentou rindo:
- Tatuar ‘coragem’ em chinês na nádega,que maluca.- e eu respondi:
- O problema é que não estava escrito isso, tatuaram ‘sopa’, por isso prestei tanta atenção.- rimos com gosto enquanto voltavamos ao trabalho. Mas Eddie tinha razão, privacidade é importante e já era hora de eu voltar a falar a sério com Brianna.

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Algumas semanas depois

- Não sabia que você tinha um paciente por estes lados, Ethan.- comentou Brianna olhando distraída pela janela do carro, enquanto eu dirigia até Little Whinging, Surrey, num domingo pela manhã. O tempo estava mudado com chegada do Outono e as pessoas já saiam às ruas com roupas mais fechadas para correr ou passear com o cachorro.
Entrei numa rua calma e bem arborizada, com várias casas não muito próximas umas das outras, com cercas vivas dando-lhes privacidade, mas não isoladas a ponto de não se ter contato com os vizinhos. Parei quase no final da rua, na frente de uma casa branca, com vários vasos cheios de plantas, um sino de vento e um caminho de pedras amarelas. Brianna me olhou cética:
- Sério isso? Vamos andar num caminho de tijolos amarelos??- assenti e ela riu dizendo:
- Pelo menos a casa é adorável, e não deve haver uma bruxa do Oeste ai dentro.- sorri e estiquei a mão para ela e caminhamos de mãos dadas até a casa. Quando entramos na sala, que estava vazia, ela disse:
- Você tem certeza que iria encontrar alguém aqui hoje? A casa parece abandonada...Olha tem uma cesta aqui.- ela andou até o meio da sala, onde havia uma cesta de vime e quando ela olhou dentro havia um cachorrinho dormindo. Era um dos filhotes que haviam nascido no rancho, e junto dele havia um bilhete. Ela o pegou, e vi que suas mãos tremiam enquanto ela o abria e o lia com a voz embargada:
- ‘Uma vez eu disse a você que queria o pacote completo: casa, cachorro e uma vida inteira com você. Quer se casar comigo? – ela levantou os olhos marejados e sorria feliz:
- Sim! Ethan, eu vou me casar com você.

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Dezembro de 2014

Por Brianna

Os preparativos do nosso casamento foram insanos. Não há outra palavra para descrever a loucura que tomou conta das nossas mães, quando Ethan e eu comunicamos que iriamos nos casar durante as férias de final de ano, para que as crianças pudessem estar presente. Minha mãe dizia que não daria tempo para organizar um casamento com tão pouco tempo, mas tia Alex como uma festeira nata, dise que bastava convocar a familia que tudo daria certo, e nossos pais riam do desespero delas. Claro que não teriamos tempo de cuidar de tudo, então deixamos que elas organizassem a festa, e como elas nos conheciam bem demais, organizariam uma festa linda no rancho, pois devido ao clima do Texas, não haveria neve e isso deixaria a festa muito mais confortável para os nossos convidados, afinal iríamos nos casar em pleno inverno.
Na véspera mal vi Ethan  que praticamente foi sequestrado por Ty e os rapazes e eu fui para minha despedida de solteira organizada por minhas primas junto com Becky e Lizzie. Houve muita bebedeira, muitas risadas e a última coisa de que me lembro daquela noite, foi do bartender sem camisa despejando tequila direto em minha boca. Graças a Merlim, meu sogro é o melhor preparador de poções que eu conheço e generosamente deixou em meu quarto algumas poções anti ressaca que me salvaram, ou eu não conseguiria colocar um pé na frente do outro desde o momento em que abri os olhos, sem sentir marteladas na minha cabeça e uma vontade enorme de morrer. Não, isso seria um luxo e ele não fazia parte do dia da noiva.  
Do momento que me levantei, até a hora em que fiquei pronta, o tempo pareceu voar. Quando me olhei no espelho após colocar o vestido de noiva, minha mãe e minha avó que me ajudavam ficaram com os olhos cheios de água e me abraçaram emocionadas, antes de irem tomar seus lugares no altar. Fiquei sozinha e pude admirar o meu vestido que havia sido um presente de Isa McCallister. Nunca em meus anos como modelo, havia usado um vestido tão perfeito. Ouvi batidas na porta e meu pai entrou todo falante mas parou:
- Está pronta querida? Já está na hora.- percebi sua emoção e corri para ele em um abraço apertado, foi dificil segurar as lágrimas para não borrar a maquiagem.
Descemos as escadas e fomos em direção ao jardim onde geralmente eram realizadas as festas do rancho, e quando a música começou e as portas foram abertas, meu queixo caiu ao ver a transformação: havia muitos salgueiros com seus galhos caidos em branco formando uma cúpula, onde as cadeiras dos convidados também brancas, era ladeadas por vasos com flores do campo permeadas de flores brancas, e onde normalmente haveria um tapete vermelho para a minha entrada, este havia sido substituído por um caminho todo de pétalas brancas. No local onde o sacerdote realizaria a cerimônia, foi montado um pequeno altar com um arco de flores também brancas e em frente a ele, Ethan estava todo sério e lindo em seu fraque. Olhei ao redor e vi os sorrisos de nossos amigos que estavam felizes por nós. Respirei fundo e caminhei em direção aquele que já era meu companheiro em meu coração mas se tornaria o meu marido perante as leis dos homens.
A festa também não me decepcionou com ótima comida, bebida e além do DJ contratado, havia um pequeno palco onde Edward, Nick, Connor, Otter e Nigel se posicionaram e nos surpreenderam, pois não haviam nos dito nada sobre alguma apresentação especial. Eddie tomou a palavra:
- Atenção senhoras e senhores, claro que sendo músicos e amigos destes dois e acompanhando sua jornada, resolvemos nos juntar e tocar uma música feita especialmente para eles. Ethan e Brie, amamos vocês. – e ele começou a cantar e tocar o violão sendo acompanhando pelos outros, e enquanto tocavam eu dançava envolvida pelos braços de Ethan, e sentia que a nossa vida seria cheia de momentos lindos como esse.

Well I know there's a reason
And I know there's a rhyme
We were meant to be together
That's why

We can roll with the punches
We can stroll hand in hand
And when I say it's forever
You understand

I could have turned a different corner
I could have gone another place
Then I'd of never had this feeling
That I feel today, yeah...

That you're always in my heart,
You're always on my mind
But when it all becomes too much,
You're never far behind
And there's no one that comes close to you
Could ever take your place
Cause only you can love me this way
Ooooh...
Only you can love me this way.

N.autora: Trechos da música: Only you can love me this way, Keith Urban

Posted: terça-feira, 21 de agosto de 2012 by Rupert A. F. Storm in
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Agosto de 2017

- Onde você e Connor vão morar depois que se casarem? – perguntei de repente e Becky abaixou o jornal que estava lendo.
- Ah... Não sei. Connor acabou de me pedir em casamento, não parei pra pensar nisso ainda.
- Você deveria ficar aqui.
- Não posso ficar aqui, essa é a casa do papai. E você mora aqui também, não vou expulsar ninguém de casa.
- Eu não moro aqui, Rebecca. Minha casa é em Hogwarts – papai apareceu na escada – Essa casa se tornou um abrigo para os feriados e férias de verão, apenas isso. Posso encontrar um apartamento pequeno que tenha a mesma utilidade. Rupert tem razão, vocês deveriam morar aqui.
- Ok, o senhor passa o ano inteiro fora, mas e você? – disse olhando para mim – Se eu me mudar pra cá, para onde vai?
- Posso encontrar um apartamento também, já faz uns dias que penso nisso. Mesmo que você não fique, eu vou sair.
- Por que quer se mudar? – papai perguntou sentando na poltrona de frente para a minha.
- Aqui tem muitas lembranças. Quando a mamãe morreu, algumas semanas depois eu estava em Hogwarts. Acostumei a só passar algumas semanas por ano aqui, e sempre com tantas coisas pra fazer não tinha tempo para pensar nela. Agora, à toa, não consigo pensar em outra coisa. Não quero esquecê-la, mas também não quero olhar para qualquer canto da casa e me lembrar dela.
- Se Rupert está decidido a se mudar... – ele olhou pra mim procurando uma confirmação e assenti – Então essa casa é o meu presente de casamento para vocês. Fique com a casa, construa sua família com Connor e criem seus filhos no quintal que você e seu irmão cresceram. É uma boa casa e uma excelente vizinhança. Nós fomos felizes aqui e vocês também serão.

Becky levantou do sofá e se atirou em cima do papai, o cobrindo de beijos, depois fez o mesmo comigo. Era diferente pra ela. Sabia o quanto minha irmã sentia falta da nossa mãe, mas ela já estava em Hogwarts quando ela faleceu. Eu era quem ficava sozinho em casa com ela todos os dias e quem sentiu mais o baque da perda. Papai tinha razão, nós fomos mesmo muito felizes aqui. E eu tinha certeza que minha irmã também seria.

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- Então? O que achou?

Jamal parou de braços abertos no meio da sala e me olhava ansioso. Estávamos no apartamento que ele havia herdado do avô, no Chelsea. Era um apartamento espaçoso, com duas suítes, uma cozinha razoavelmente grande, varanda e já estava parcialmente decorado. Seu avô paterno havia falecido dois anos antes, mas deixara em testamento aquele imóvel e uma boa quantia em dinheiro para seu único neto. Agora que Jamal estava formado, pôde receber a herança.

- Acho que seu avô não pensou em todas as conseqüências de deixar de herança pra você uma conta bancária recheada e um apartamento em um bairro chique como esse. – disse realmente preocupado e ele riu.
- Relaxa, Cenoura, está tudo sob controle – ele caminhou até onde eu estava e se apoiou em meu ombro – Hogwarts vai deixar saudades, mas essa nova fase das nossas vidas vai ser muito melhor.
- Estou contando com isso. Preciso começar a procurar um lugar pra morar, Becky vai ficar com a casa quando casar com Connor.
- Você pode cair aqui, se quiser – ele se animou – O quão maneiro seria se você fosse meu roommate?
- Não acho que essa é uma boa idéia. Prefiro ter meu próprio espaço.
- Ok, vizinho então. Aposto que tem algum apartamento aqui na rua pra vender.
- Esse é um bairro nobre, Jam. Não sei se posso bancar um imóvel aqui.
- Rup, seu livro vendeu feito água e ainda está vendendo. Seu rosto está estampado em tudo quanto é revista e todos os programas de TV querem uma entrevista. Você pode comprar o apartamento que quiser, aonde quiser. Você está rico, meu amigo.

Caminhamos até a varanda e fiquei admirando a vista da rua. Eu precisava de paz para escrever os livros e aquele era o lugar perfeito. Era uma rua tranqüila, arborizada e segura. E as vendas do primeiro livro estavam mesmo indo muito bem e o cheque que havia batido na minha conta alguns dias atrás era bem generoso. Jamal tinha razão, eu podia comprar o que quisesse. E eu queria morar ali.

°°°°°°°°°°

- Ei, cuidado! – gritei para os caras que estavam fazendo minha mudança – Isso é uma relíquia!
- O que tem na caixa? – Justin perguntou.
- Um fliperama com Pacman – ele me olhou rindo e dei de ombros – Não foi tão caro assim.

Era o dia da mudança. Depois de alguns dias a procura de um apartamento no Chelsea com a ajuda de Jamal, havia encontrado um flat de dois andares e quatro quartos na mesma rua que a dele, apenas alguns prédios de distancia. Era um lugar grande demais para morar sozinho e como Justin precisava de um abrigo pelos próximos três anos, convidei-o para morar comigo. Ainda era um flat imenso para duas pessoas, mas quando pus os pés nele senti que aquele lugar era para ser meu, então não pensei duas vezes antes de comprar.

Papai não gostou muito do impulso, mas era a primeira vez que fazia algo desse tipo e a sensação era ótima! Tudo bem que exagerei um pouco nas compras para a decoração, mas mais uma vez, nunca havia me dado ao luxo de agir por impulso (tampouco gastar sem nenhum tipo de moderação) e se não fosse ser sempre assim, que mal tinha? Três quartos ficavam no andar de cima e todos eram suítes. No andar de baixo tinha uma sala ampla, uma cozinha com uma ilha que se misturava a sala, uma área de serviço, um lavabo e outra suíte, que eu transformaria em uma biblioteca e sala de jogos. Teria feito um quarto só para meus videogames (agora tinha um de cada existente), mas Justin me trouxe de volta a Terra alertando que precisava ter um quarto de hóspedes, já que íamos receber Tuor nos finais de semana. MJ ocuparia o quaro vago no apartamento de Jamal quando estivesse fora da escola de música.

- Essa foi a última caixa – Jamal disse entrando no flat com Julian – Agora é com a gente para organizar.
- Cara, esse lugar é imenso... – Julian andou pela sala toda olhando para todos os lados – Vocês não vão nem se encontrar aqui.
- Ah, isso não vai ser problema – Justin riu – Rup comprou um par de rádios comunicadores de Star Trek, vamos usá-los.
- Maneiro! Posso ver? – Hiro perguntou animado.
- Seus nerds! – JJ balançou a cabeça – Quantas porcarias desse tipo você comprou?
- Muitas. Não desconfiou pela réplica do R2D2 no canto da sala?
- Ok, chega de papo, vamos começar a organizar isso – MJ cortou a conversa arregaçando a manga da camisa e Hiro o imitou.

Gastamos todo o dia colocando ordem no flat. Tuor apareceu no meio da tarde com suas poucas caixas e organizou tudo no quarto de hóspedes, vindo ajudar na arrumação da sala depois. Tio Scott foi o responsável por comprar o que eu precisava para a cozinha e tinham três caixas enormes com panelas, pratos, talheres e mais um monte de coisas que eu não fazia idéia do que eram, mas ficaram muito bonitas arrumadas na ilha. Ele havia prometido passar um dia comigo me ensinando a cozinhar o básico para sobreviver, então esperava que em breve eu soubesse ao menos o nome daquelas coisas.

Acabamos o dia esgotados, então pedi pizza e cerveja pra todo mundo e nos espalhamos pela sala para comer e bater papo. Jamal já havia feito seu open house e o assunto era quando faríamos o nosso. Justin dizia que dependia de mim, porque como ele não ia poder me ajudar em todas as despesas da casa, era só o faxineiro e não mandava em nada. Tuor também tirou o corpo fora dizendo que era apenas um hóspede de fim de semana.

- Semana que vem, ok? Deixem a Amber voltar da Califórnia pelo menos.
- Ela vai morar aqui com vocês também? – Julian perguntou e ri.
- Está louco? Se eu faço um convite desses, ela foge desesperada – agora eles riam também – Ela e Kaley vão morar no alojamento da Academia e depois provavelmente dividir algum apartamento.
- Bom, seria ótimo seu open house ser semana que vem mesmo, porque nosso verão acaba logo depois – JJ disse com a boca cheia de pizza – Quero beber todas e passar três dias de ressaca.
- Despedida da vida social? – Hiro perguntou e ele assentiu – É, Clara está com o mesmo pensamento.
- Vida de Curandeiro não é fácil, também estou contando com uma festa para extravasar. – Justin ergueu a latinha e JJ bateu a sua nela.
- Vocês falam como se fossem ser os únicos a serem soterrados com o estágio, mas a vida de aluno da Academia de Auror também não é um mar de rosas – Julian se defendeu – Ainda mais com o tio Seth de professor – ele olhou para Tuor com pena – Cara, ele vai ser seu cunhado. Boa sorte.
- Obrigado – Tuor soou preocupado e rimos – E você, Jamal? Vai mesmo estagiar no departamento de execução das leis da magia?
- Ah, não contei pra vocês? – ele respondeu despreocupado – Isso não vai mais acontecer.
- O que houve? – MJ perguntou – Pensei que quisesse ser advogado.
- Eu só queria ser advogado para poder apontar para o acusado no tribunal e gritar “You can’t handle the truth!” – todo mundo riu – É trabalho demais só pra isso, posso encontrar um dialogo onde isso se encaixe sem precisar decorar todas as leis chatas da magia.
- Podemos concluir que seu pai não ficou muito feliz com isso, não é? – Hiro comentou e Jamal riu.
- É, digamos que não foi a noticia mais feliz que recebeu, mas ele já superou o fato de que eu não quero ser Auror, vai superar esse também. E não é como se eu fosse ficar em casa o dia inteiro gastando o dinheiro do um avô, eu vou trabalhar. Vou estagiar no departamento de parques e recreação.
- Ei, eu também! – falei animado – Não queria ficar em casa o dia inteiro sozinho escrevendo e me inscrevi para a vaga.
- Maravilha! – ele ergueu a mão e fizemos um high-five – Esse é o melhor departamento, o expediente começa às 10h e termina às 16h. E fora que não tem muita coisa a ser feita por lá.
- Por isso me inscrevi. Vou ter tempo de ver gente, escrever meus livros e ainda chegar em casa cedo.
- Que inveja de vocês que tiveram um verão. Só pude respirar uma semana antes do tio Yoshi começar a me ensinar tudo que podia sobre a loja. Com ele de volta a Hogwarts em menos de duas semanas, vai ficar tudo por minha conta – Hiro parecia preocupado, mas sabíamos que ele ia se sair muito bem como sócio da loja de Poções.
- Um brinde à vida adulta – Justin ergueu sua latinha e imitamos o gesto – Vai ser uma droga, mas vamos adorar.

Trabalhar, pagar as próprias contas, ter responsabilidades de verdade. É, ser adulto não era fácil, mas por alguma razão eu sabia que nossas vidas seriam ainda melhores do que antes. Por que agora sim elas estavam começando. 

Posted: quarta-feira, 8 de agosto de 2012 by Nicholas O'Shea in
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Agosto de 2017


O The Roundhouse, uma das casas de show mais famosas de Londres, estava com sua lotação de 3.300 pessoas na capacidade máxima. Becky estava no palco com a gente, toda nossa família e amigos estavam nos camarotes e havíamos acabado de sermos interrompidos por meu pai, que entrou no palco para nos entregar nosso primeiro disco de prata por termos vendido 60 mil copias do nosso último CD. Aquele era o show das nossas vidas, mas Connor tinha planos para fazê-lo entrar para a galeria de shows memoráveis do Roundhouse.

Faltavam apenas cinco músicas para encerrarmos o show quando ele errou uma nota na guitarra. Normalmente essas coisas passam despercebidas pelo público e seguimos em frente, mas ele parou de tocar e ergueu as mãos, interrompendo a música. Olhei para Otter e Nigel procurando por algum sinal de explicação, mas eles deram de ombros também sem entender o que estava acontecendo.

- Gente, desculpa, estou um pouco distraído hoje – ele começou a falar com o público e cruzei os braços para ver onde aquilo ia dar – Tem uma coisa me incomodando que está comprometendo minha concentração. Não é bem incomodando, mas é algo que quero dizer tem um tempo já e sinto que esse é o momento – ele andou até Becky do outro lado do palco – Becky, você sabe que eu amo você, não é? – o público começou a se agitar e vi Becky congelar.
- Sim... O que está fazendo? – ela perguntou quase em um sussurro, seu rosto já da cor dos seus cabelos.
- Esses dois anos que estamos juntos foram os melhores da minha vida, sem exageros, e eu preciso fazer uma coisa para provar isso.
- Connor...

Becky entendeu o que ia acontecer um segundo antes da gente. Quando Connor ajoelhou e eu fiz cara de surpreso, ela já tinha uma expressão de pânico no rosto. As pessoas na plateia gritavam enlouquecidas enquanto Connor puxava uma caixinha do bolso e a abria diante de Becky, revelando um anel de brilhantes. Nosso produtor sacudia os braços dos bastidores querendo uma explicação, mas sinalizei dizendo que não tinha nada a ver com aquilo. Becky estava fazendo um tremendo esforço para não ceder ao leve tremor que tomava conta de suas pernas e disse sim ao pedido dele. Connor a tomou nos braços e a beijou com tanta vontade que os dois quase caíram, levando a platéia ao delírio. Soltamos os instrumentos para cumprimentá-los e depois de alguns minutos conseguimos retomar ao que restava do show. E ele definitivamente tinha entrado para a história do Roundhouse.

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Não lembro que horas a comemoração do noivado de Connor e Becky acabou, tampouco que horas cheguei em casa, mas pelo susto que levei quando meu celular tocou na cabeceira da cama, não havia dormido o suficiente. Por Merlin, hoje é domingo! O céu ainda escuro do lado de fora da janela me fez perceber que quem ligava era meu chefe antes mesmo de pegar o aparelho. Folga revogada.

O escritório do quartel general da Scotland Yard estava um caos quando cheguei ainda de óculos escuros. Casos de crianças desaparecidas eram sempre caóticos, mas quando passava da margem de 48h de sequestro, a situação beirava o desespero. Tinha uma torre de fichas me esperando em cima da mesa e me atirei na cadeira exausto, começando a ler uma por uma atrás de alguma pista que pudesse ajudar a localizar o menino. Nigel chegou logo depois, murmurou um bom dia mal humorado e sumiu atrás de suas próprias fichas.  

Já havia lido e relido todas as fichas sem encontrar nada de útil quando Brianna entrou no escritório. Tinha um semblante cansado como o meu, afinal ela também ficou até o fim da comemoração, mas também parecia preocupada. Parou ao lado da minha mesa e puxou uma cadeira, desabando nela, mas abriu seu habitual sorriso para me desejar bom dia.

- Está muito ocupado?
- Não, já fiz tudo que podia no momento, do que precisa?
- Emitir um alerta de um possível seqüestro – e me estendeu uma ficha – Jason North. Tinha uma visita minha marcada para às 9h hoje, mas não tinha ninguém em casa quando cheguei e ele não atende o celular.
- Condicional, guarda provisória dos filhos Austin e Molly North... – ia dizendo em voz alta conforme lia na ficha – Tráfico de drogas e assalto a mão armada? Como ele conseguiu uma condicional e a guarda dessas crianças?
- Bom comportamento, fez alguns cursos enquanto esteve preso, era um pai bem intencionado. Ele estava indo bem, essa seria minha quarta visita e estava inclinada a apoiá-lo no pedido de guarda definitiva. Até ver que ele desapareceu com as crianças.
- Calma, não vamos nos precipitar. Nigel, está ocupado? – ele ergueu a cabeça do papel que lia e levantou depressa, parecendo aliviado por fazer outra coisa – Pode checar esse numero? Quero saber onde esse celular está.
- É pra já! – ele pegou da minha mão e foi até seu computador, voltando um minuto depois – Está em uma lanchonete ao lado da estação de King’s Cross.
- King’s Cross? Ele é bruxo ou é uma coincidência? – perguntei e Brianna assentiu.
- A maioria dos casos que pego são de bruxos. Será que ele está pensando em fugir pela plataforma 9 ¾?
- Se está, é melhor chegarmos até eles antes que possam entrar no trem.

Expliquei a situação rapidamente ao diretor e ele nos autorizou a sair com Brianna. Nigel foi à frente e ela foi comigo na minha viatura. A calçada da lanchonete estava movimentada, o fluxo de pessoas entrando e saindo da estação era intenso. Se esse homem tivesse armado teríamos uma situação complicada. O computador da viatura de Nigel ainda indicava que o celular de Jason North estava dentro da lanchonete e entramos com cautela. Eles estavam sentados em uma mesa mais ao fundo, o homem rígido de frente para a porta e as crianças de costas, comendo panquecas despreocupadas. Vi sua mente trabalhar depressa procurando uma maneira de fugir quando avistou Brianna, mas a idéia morreu quando percebeu que ela não estava sozinha.

Jason sequer resistiu. Começou a chorar quando Brianna lhe perguntou por que faltou à visita marcada e admitiu a pretensão de fugir com os filhos para Ottery St. Catchpole. Nigel levou Jason em sua viatura com Brianna e as crianças voltaram para o quartel general comigo. O menino tinha cinco anos e a menina três. Ela era bem falante, mas ele foi calado o tempo inteiro, talvez por entender melhor o que estava acontecendo. Ainda tentei fazer com que ele participasse do animado papo puxado por sua irmã, mas desisti depois da quarta resposta monossilábica.

Nigel, desesperado para se livrar do caso do seqüestro do garoto que estávamos ajudando, acompanhou Brianna o dia inteiro. Prendeu Jason North na delegacia do 1º andar, ajudou ela com papelada e depoimento dele e das crianças e passou o dia indo do nosso prédio ao juizado de menores. Brianna já estava decidida a retirar a guarda provisória dele, mas ainda restava saber por que a decisão repentina de fugir e se isso o jogaria de volta à prisão. E nesse meio tempo, as crianças acabaram passando o dia inteiro na agencia sob a minha supervisão.

Foi difícil, mas aos poucos consegui quebrar o gelo com Austin. Molly deixou escapar que seu pai leu o livro de Rupert para eles e que Austin era fã nº 1 do meu primo, então bastou dizer que conhecia não só ele pessoalmente como o próprio Harry Potter para ver seus olhos brilharem. Ainda estava tímido, mas já participava da conversa. Falamos sobre a história do livro e não sei exatamente como isso aconteceu, mas acabei prometendo apresentá-lo a Rupert e tio Harry. Sequer sei se isso é possível, uma vez que eles provavelmente vão para um lar adotivo, mas a ansiedade no rosto daquele menino me fez perceber que eu teria que cumprir aquela promessa. Não seria eu o responsável por decepcioná-lo.

Brianna bateu na porta da sala onde estava com eles depois das 22h da noite. Cansados, ambos já estavam dormindo no sofá.

- E ai, o que vai acontecer com eles? O pai vai ser preso outra vez? – perguntei saindo da sala e fechando a porta.
- Ele estava em contato com um antigo companheiro de cela que estava sendo procurado pela policia. Isso ajudou a prendê-lo outra vez, mas também foi o suficiente para revogar a condicional de Jason. As crianças vão para um lar provisório. Passei o dia inteiro no telefone, mas consegui um casal disposto a receber os dois, não vamos separá-los.
- Bom, muito bom. E não tem mais volta para o pai?
- Ele pode tentar entrar com um novo pedido de condicional daqui a alguns meses, mas vai depender do juiz que pegar o caso. Vou levá-los agora, o casal está esperando.

Entramos na sala e acordamos as crianças. Brianna explicou o que havia acontecido e que eles não voltariam a morar com o pai, pelo menos não por enquanto. Molly perguntou se ia demorar muito para voltarem para casa e ameaçou chorar quando dissemos que podia demorar um tempo, mas acalmou quando Brianna garantiu que Austin e ela ficariam juntos. Aceitou que Brianna a pegasse no colo e deitou a cabeça em seu ombro, ainda um pouco chorosa. Ela estendeu a mão para que Austin a segurasse e pudessem sair da sala, mas ele não se moveu. Olhava de Brianna para mim com os olhos tentados a se encherem de lágrimas, mas as segurava com toda a força de vontade que seus cinco anos permitiam. Por fim me encarou e abaixei para ficar de seu tamanho.

- Temos que ficar com essas pessoas? – perguntou tímido – Não podemos ficar com você?
- Acredite, nada me deixaria mais feliz do que cuidar de você e sua irmã, mas eu não posso – vi Brianna olhar para ele com pena – Acontece que tenho um trabalho muito difícil. Dois, na verdade, e eles não deixam que eu tenha tempo para nada. Hoje é domingo e aqui estou eu, no trabalho até quase meia noite.
- Nós não vamos mais ver o Rupert Storm e o Harry Potter? – ele agora não conseguia mais controlar e seus olhos começavam a ficar marejados.
- Nós vamos. Eu prometi e vou cumprir. Brianna vai me ajudar e vou levar você para conhecê-los.
- Não quero ficar com eles.
- Vocês vão ficar bem, eles são boas pessoas e vão cuidar de você e Molly como eu não posso cuidar. E se você um dia precisar de alguma coisa, qualquer coisa, pode me procurar – e entreguei a ele um cartão com meus telefones – A hora que você precisar, eu vou até você.

Ele assentiu ainda contrariado, mas conformado. Estendi a mão para fazermos o cumprimento que tinha lhe ensinado naquela tarde e ele fez todos os movimentos com um sorriso tímido querendo aparecer em seu rosto. Brianna estendeu a mão novamente e ele fez menção de pegar, mas então voltou e se atirou em meus braços, me abraçando. Fiquei sem reação por alguns segundos antes de abraçá-lo de volta e quando ele me soltou, eram meus olhos que queriam desesperadamente encher de lágrimas.

Enquanto via Brianna levá-los embora da sala, percebi que por melhor que fosse a minha vida, algo estava faltando. E eu soube imediatamente o que faltava nela.