Posted: terça-feira, 28 de agosto de 2012 by Autor convidado in
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Agosto de 2017


Era um típico dia de verão em Londres, com a temperatura bastante elevada. O café onde elas haviam combinado de se encontrar estava movimentado, mas quando Alex e Yulli chegaram, Louise e Sam já ocupavam uma das mesas. Cada uma tinha um copo grande de frappuccino nas mãos e conversavam despreocupadas, de óculos escuros e sandálias rasteiras no pé. Não era uma visão muito comum.

- Perdeu a aposta, Yul – Alex estendeu a mão para a amiga lhe pagar – Eu disse que elas viriam.
- Vocês de pouca fé... – Louise levantou e abraçou as amigas – É claro que viríamos, não foi isso que combinamos?
- Vocês nunca saem daquele hospital! Admitam que não é comum ver as duas sentadas tão a vontade assim numa mesa na calçada.
- Certo, não é, mas estamos aprendendo a delegar tarefas – Louise disse e Sam assentiu.
- Estamos evoluindo e desapegando um pouco do trabalho. Não tiro um dia de folga há tanto tempo que nem sei o que fazer. Estou maravilhada de ver como as pessoas andam tão despreocupadas na rua, essa gente não tem conta pra pagar? – e as três começaram a rir da amiga.
- Ok, vamos tomar nosso café antes que Sam comece a falar das maravilhas de usar um vestidinho de verão e sandálias sem salto – Yulli disse empurrando as três de volta para a mesa.
- Sam estava precisando de uma folga de casa, ela anda estressada – Louise comentou rindo e Sam bufou.
- O que houve? – Alex perguntou fazendo sinal para a garçonete.
- Não consigo entender como seu filho pode bancar o zumbi e trocar o dia pela noite. Queria tanto saber como é dormir sem pensar se o seu cérebro vai estar no lugar quando você acordar!
- Resumindo: você precisa tirar seu filho de casa – Yulli completou e ela assentiu – Entendo você, amiga. Estou enlouquecendo com Keiko e Hiro brigando dentro de casa. E olha que eles já estão em Londres desde o começo do mês, mas Julho foi o suficiente.
- E você quer colocar os dois morando juntos aqui, sozinhos? – Louise perguntou surpresa – Quer fazer uma versão família de Jogos Vorazes?
- Contanto que eles não estejam brigando sob o meu teto, não me importo.
- Mas isso já anda acontecendo em casa. Haley quase escalpelou o índio e na hora que fizeram as pazes? Nunca vi u exame de amígdalas tão intenso – Alex revirou os olhos e elas riram – Ah e já ia me esquecendo, Julian e Lena terminaram. Parece que ele resolveu curtir a vida já que ela quer focar na carreira. Ele é muito meu neto pra aceitar ficar em segundo plano.
- É, as crianças cresceram. Namoram, se separam, focam na carreira, saem de casa... – Yulli comentou e todas assentiram.
- Bom, não todos, não é? – Sam disse respirando fundo – Não vejo muito animo em JJ sobre sair de casa. E com Keiko vindo morar aqui, ele vai fazer a minha casa de lavanderia e se enfiar debaixo do teto dela o dia inteiro.
- Quando nos formamos, a primeira coisa que fizemos foi sair de casa. Essas crianças estão muito moles, temos que nos intrometer – Louise disse inconformada – Clara também não dá indícios de que vai a lugar algum, vai viver como JJ se eu não fizer alguma coisa.
- Acho que temos que agir como as mães águias – Alex falou e Sam olhou animada.
- Devorar os filhotes? Não sou contrária à ideia.
- Tentador, mas não – Alex riu – Se eles não saem do ninho por livre vontade, nós os jogamos de lá. Garanto que vão bater as asas rapidinho.
- Expulsá-los de casa? – Sam soou preocupada – JJ me enlouquece, mas não quero que meu filho more na rua e vire mendigo. Não sou tão extrema assim.
- Que tal seguirem meu exemplo e arrumarem um lugar para eles ficarem? – Yulli sugeriu – Resolveria um problema meu também, na verdade. Clara e Haley podem dividir um apartamento com Keiko e procuramos outro para JJ e Hiro morarem. Tiramos nossos filhos de casa e os meus não se matam dividindo o mesmo teto.
- Compramos o apartamento, e dividindo entre nós quatro não vai sair tão caro, e eles se viram para pagar as contas – Louise se animou – É, gosto da ideia.
- E isso vai ajudar a manter os nossos maridos com a ilusão de que nossas meninas são tranquilas, não beijam seus namorados. Logan ainda pensa que Justin é o esperto. Coitado, não sabe a filha que tem.
- É, eu confio muito mais no Hiro do que na Clara – Louise completou e Yulli riu – Mas deixa Remo pensar que a preocupação maior é ele.
- E então? Vamos dar início à operação “voa filhotinho”?

As quatro terminaram de tomar café e munidas de um jornal e o carro de Louise, começaram as buscas de um novo lar para os filhos. Encontrar apartamentos para alugar em Londres com preço razoável era uma tarefa complicada e apartamentos a venda pareciam quase impossíveis. Os bairros eram caros demais ou tão baratos que tornavam o local perigoso. À medida que o dia ia se aproximava do fim, já começavam a achar que não encontrariam nada. Sam estava pronta para desistir e deixar que JJ usasse sua casa como lavanderia quando Yulli, determinada a tirar os dois filhos de casa e mantê-los vivos, encontrou um anuncio que chamou sua atenção.

- Vamos olhar só mais um, estou sentindo que 13 é nosso numero da sorte! – disse entregando o jornal para Alex colocar o endereço no GPS.
- Apartamento de três quartos, uma suíte, um banheiro, cozinha, sala espaçosa, lavanderia no prédio... – ela ia lendo em voz alta – Holborn, não é nesse bairro que o Nick mora?
- É sim, é um bairro excelente e os preços não são tão caros – Louise respondeu começando a se animar – Como não vimos esse antes?
- Porque estávamos procurando prédios com elevador e esse não tem – Yulli respondeu – Eles não precisam de elevador, são só seis andares. E tem dois apartamentos à venda no 4º andar, podemos matar dois diabretes com um feitiço só.

O corretor de imóveis que falou com Yulli no telefone enquanto elas estavam a caminho do prédio já estava esperando por elas quando chegaram. Estava ansioso para mostrar os apartamentos, que ficavam um de frente para o outro. Aparentemente o fato de não ter elevador não estava ajudando nas vendas, mas eram apartamentos excelentes. Espaçosos e bem divididos, grandes até demais para cinco adolescentes que acabaram de sair da escola e nunca trabalharam na vida, mas se queriam eles criando asas, teriam que dar aquele empurrão.

Era a situação perfeita: um corretor desesperado para vender dois apartamentos encalhados e quatro mães desesperadas para tirar seus filhos de casa. Yulli, que é empresária, ficou responsável pela negociação com o corretor e em menos de duas horas já estavam acertando valores e marcando uma reunião para o dia seguinte com os proprietários para assinar os contratos e os cheques. Os filhotes iam aprender a voar, agora só precisavam ser informados sobre isso. E depois de um dia exaustivo, nada melhor do que encerrá-lo em um pub para relaxar. Louise pediu quatro rodadas de Bloody Mary e o garçom colocou os copos na mesa.

- Merlin, Bloody Mary. Acho que não sei mais que gosto tem isso – Sam disse com os olhos brilhando.
- Vai Sam, bebe, você merece – Alex falou, mas ela já estava com metade do copo vazio – Ela vai atender alguém amanha?
- Sim, vai. Boa sorte ao paciente – Louise respondeu rindo.
- Dois dias seguidos de folga só pedindo ao Papai Noel – Sam respondeu virando o restinho do copo, mas Yulli impediu que ela virasse tudo.
- Calma, nem brindamos ainda! – e ela ergueu o copo no centro da mesa.
- Um brinde ao voo das novas águias e à nossa sanidade! – Alex disse erguendo o seu e todas fizeram o mesmo.
-Amém! – Sam completou e virou o resto do drink – Garçom, outro!

Todas viraram seus drinks depressa para acompanhar Sam e em pouco tempo a mesa já era um cemitério de copos e as gargalhadas ficavam cada vez mais altas. As pessoas crescem, casam, tem filhos e seguem em frente, mas certas coisas nunca mudam.