Posted: terça-feira, 21 de agosto de 2012 by Rupert A. F. Storm in
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Agosto de 2017

- Onde você e Connor vão morar depois que se casarem? – perguntei de repente e Becky abaixou o jornal que estava lendo.
- Ah... Não sei. Connor acabou de me pedir em casamento, não parei pra pensar nisso ainda.
- Você deveria ficar aqui.
- Não posso ficar aqui, essa é a casa do papai. E você mora aqui também, não vou expulsar ninguém de casa.
- Eu não moro aqui, Rebecca. Minha casa é em Hogwarts – papai apareceu na escada – Essa casa se tornou um abrigo para os feriados e férias de verão, apenas isso. Posso encontrar um apartamento pequeno que tenha a mesma utilidade. Rupert tem razão, vocês deveriam morar aqui.
- Ok, o senhor passa o ano inteiro fora, mas e você? – disse olhando para mim – Se eu me mudar pra cá, para onde vai?
- Posso encontrar um apartamento também, já faz uns dias que penso nisso. Mesmo que você não fique, eu vou sair.
- Por que quer se mudar? – papai perguntou sentando na poltrona de frente para a minha.
- Aqui tem muitas lembranças. Quando a mamãe morreu, algumas semanas depois eu estava em Hogwarts. Acostumei a só passar algumas semanas por ano aqui, e sempre com tantas coisas pra fazer não tinha tempo para pensar nela. Agora, à toa, não consigo pensar em outra coisa. Não quero esquecê-la, mas também não quero olhar para qualquer canto da casa e me lembrar dela.
- Se Rupert está decidido a se mudar... – ele olhou pra mim procurando uma confirmação e assenti – Então essa casa é o meu presente de casamento para vocês. Fique com a casa, construa sua família com Connor e criem seus filhos no quintal que você e seu irmão cresceram. É uma boa casa e uma excelente vizinhança. Nós fomos felizes aqui e vocês também serão.

Becky levantou do sofá e se atirou em cima do papai, o cobrindo de beijos, depois fez o mesmo comigo. Era diferente pra ela. Sabia o quanto minha irmã sentia falta da nossa mãe, mas ela já estava em Hogwarts quando ela faleceu. Eu era quem ficava sozinho em casa com ela todos os dias e quem sentiu mais o baque da perda. Papai tinha razão, nós fomos mesmo muito felizes aqui. E eu tinha certeza que minha irmã também seria.

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- Então? O que achou?

Jamal parou de braços abertos no meio da sala e me olhava ansioso. Estávamos no apartamento que ele havia herdado do avô, no Chelsea. Era um apartamento espaçoso, com duas suítes, uma cozinha razoavelmente grande, varanda e já estava parcialmente decorado. Seu avô paterno havia falecido dois anos antes, mas deixara em testamento aquele imóvel e uma boa quantia em dinheiro para seu único neto. Agora que Jamal estava formado, pôde receber a herança.

- Acho que seu avô não pensou em todas as conseqüências de deixar de herança pra você uma conta bancária recheada e um apartamento em um bairro chique como esse. – disse realmente preocupado e ele riu.
- Relaxa, Cenoura, está tudo sob controle – ele caminhou até onde eu estava e se apoiou em meu ombro – Hogwarts vai deixar saudades, mas essa nova fase das nossas vidas vai ser muito melhor.
- Estou contando com isso. Preciso começar a procurar um lugar pra morar, Becky vai ficar com a casa quando casar com Connor.
- Você pode cair aqui, se quiser – ele se animou – O quão maneiro seria se você fosse meu roommate?
- Não acho que essa é uma boa idéia. Prefiro ter meu próprio espaço.
- Ok, vizinho então. Aposto que tem algum apartamento aqui na rua pra vender.
- Esse é um bairro nobre, Jam. Não sei se posso bancar um imóvel aqui.
- Rup, seu livro vendeu feito água e ainda está vendendo. Seu rosto está estampado em tudo quanto é revista e todos os programas de TV querem uma entrevista. Você pode comprar o apartamento que quiser, aonde quiser. Você está rico, meu amigo.

Caminhamos até a varanda e fiquei admirando a vista da rua. Eu precisava de paz para escrever os livros e aquele era o lugar perfeito. Era uma rua tranqüila, arborizada e segura. E as vendas do primeiro livro estavam mesmo indo muito bem e o cheque que havia batido na minha conta alguns dias atrás era bem generoso. Jamal tinha razão, eu podia comprar o que quisesse. E eu queria morar ali.

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- Ei, cuidado! – gritei para os caras que estavam fazendo minha mudança – Isso é uma relíquia!
- O que tem na caixa? – Justin perguntou.
- Um fliperama com Pacman – ele me olhou rindo e dei de ombros – Não foi tão caro assim.

Era o dia da mudança. Depois de alguns dias a procura de um apartamento no Chelsea com a ajuda de Jamal, havia encontrado um flat de dois andares e quatro quartos na mesma rua que a dele, apenas alguns prédios de distancia. Era um lugar grande demais para morar sozinho e como Justin precisava de um abrigo pelos próximos três anos, convidei-o para morar comigo. Ainda era um flat imenso para duas pessoas, mas quando pus os pés nele senti que aquele lugar era para ser meu, então não pensei duas vezes antes de comprar.

Papai não gostou muito do impulso, mas era a primeira vez que fazia algo desse tipo e a sensação era ótima! Tudo bem que exagerei um pouco nas compras para a decoração, mas mais uma vez, nunca havia me dado ao luxo de agir por impulso (tampouco gastar sem nenhum tipo de moderação) e se não fosse ser sempre assim, que mal tinha? Três quartos ficavam no andar de cima e todos eram suítes. No andar de baixo tinha uma sala ampla, uma cozinha com uma ilha que se misturava a sala, uma área de serviço, um lavabo e outra suíte, que eu transformaria em uma biblioteca e sala de jogos. Teria feito um quarto só para meus videogames (agora tinha um de cada existente), mas Justin me trouxe de volta a Terra alertando que precisava ter um quarto de hóspedes, já que íamos receber Tuor nos finais de semana. MJ ocuparia o quaro vago no apartamento de Jamal quando estivesse fora da escola de música.

- Essa foi a última caixa – Jamal disse entrando no flat com Julian – Agora é com a gente para organizar.
- Cara, esse lugar é imenso... – Julian andou pela sala toda olhando para todos os lados – Vocês não vão nem se encontrar aqui.
- Ah, isso não vai ser problema – Justin riu – Rup comprou um par de rádios comunicadores de Star Trek, vamos usá-los.
- Maneiro! Posso ver? – Hiro perguntou animado.
- Seus nerds! – JJ balançou a cabeça – Quantas porcarias desse tipo você comprou?
- Muitas. Não desconfiou pela réplica do R2D2 no canto da sala?
- Ok, chega de papo, vamos começar a organizar isso – MJ cortou a conversa arregaçando a manga da camisa e Hiro o imitou.

Gastamos todo o dia colocando ordem no flat. Tuor apareceu no meio da tarde com suas poucas caixas e organizou tudo no quarto de hóspedes, vindo ajudar na arrumação da sala depois. Tio Scott foi o responsável por comprar o que eu precisava para a cozinha e tinham três caixas enormes com panelas, pratos, talheres e mais um monte de coisas que eu não fazia idéia do que eram, mas ficaram muito bonitas arrumadas na ilha. Ele havia prometido passar um dia comigo me ensinando a cozinhar o básico para sobreviver, então esperava que em breve eu soubesse ao menos o nome daquelas coisas.

Acabamos o dia esgotados, então pedi pizza e cerveja pra todo mundo e nos espalhamos pela sala para comer e bater papo. Jamal já havia feito seu open house e o assunto era quando faríamos o nosso. Justin dizia que dependia de mim, porque como ele não ia poder me ajudar em todas as despesas da casa, era só o faxineiro e não mandava em nada. Tuor também tirou o corpo fora dizendo que era apenas um hóspede de fim de semana.

- Semana que vem, ok? Deixem a Amber voltar da Califórnia pelo menos.
- Ela vai morar aqui com vocês também? – Julian perguntou e ri.
- Está louco? Se eu faço um convite desses, ela foge desesperada – agora eles riam também – Ela e Kaley vão morar no alojamento da Academia e depois provavelmente dividir algum apartamento.
- Bom, seria ótimo seu open house ser semana que vem mesmo, porque nosso verão acaba logo depois – JJ disse com a boca cheia de pizza – Quero beber todas e passar três dias de ressaca.
- Despedida da vida social? – Hiro perguntou e ele assentiu – É, Clara está com o mesmo pensamento.
- Vida de Curandeiro não é fácil, também estou contando com uma festa para extravasar. – Justin ergueu a latinha e JJ bateu a sua nela.
- Vocês falam como se fossem ser os únicos a serem soterrados com o estágio, mas a vida de aluno da Academia de Auror também não é um mar de rosas – Julian se defendeu – Ainda mais com o tio Seth de professor – ele olhou para Tuor com pena – Cara, ele vai ser seu cunhado. Boa sorte.
- Obrigado – Tuor soou preocupado e rimos – E você, Jamal? Vai mesmo estagiar no departamento de execução das leis da magia?
- Ah, não contei pra vocês? – ele respondeu despreocupado – Isso não vai mais acontecer.
- O que houve? – MJ perguntou – Pensei que quisesse ser advogado.
- Eu só queria ser advogado para poder apontar para o acusado no tribunal e gritar “You can’t handle the truth!” – todo mundo riu – É trabalho demais só pra isso, posso encontrar um dialogo onde isso se encaixe sem precisar decorar todas as leis chatas da magia.
- Podemos concluir que seu pai não ficou muito feliz com isso, não é? – Hiro comentou e Jamal riu.
- É, digamos que não foi a noticia mais feliz que recebeu, mas ele já superou o fato de que eu não quero ser Auror, vai superar esse também. E não é como se eu fosse ficar em casa o dia inteiro gastando o dinheiro do um avô, eu vou trabalhar. Vou estagiar no departamento de parques e recreação.
- Ei, eu também! – falei animado – Não queria ficar em casa o dia inteiro sozinho escrevendo e me inscrevi para a vaga.
- Maravilha! – ele ergueu a mão e fizemos um high-five – Esse é o melhor departamento, o expediente começa às 10h e termina às 16h. E fora que não tem muita coisa a ser feita por lá.
- Por isso me inscrevi. Vou ter tempo de ver gente, escrever meus livros e ainda chegar em casa cedo.
- Que inveja de vocês que tiveram um verão. Só pude respirar uma semana antes do tio Yoshi começar a me ensinar tudo que podia sobre a loja. Com ele de volta a Hogwarts em menos de duas semanas, vai ficar tudo por minha conta – Hiro parecia preocupado, mas sabíamos que ele ia se sair muito bem como sócio da loja de Poções.
- Um brinde à vida adulta – Justin ergueu sua latinha e imitamos o gesto – Vai ser uma droga, mas vamos adorar.

Trabalhar, pagar as próprias contas, ter responsabilidades de verdade. É, ser adulto não era fácil, mas por alguma razão eu sabia que nossas vidas seriam ainda melhores do que antes. Por que agora sim elas estavam começando.