Comments
Setembro de 2014
- Ethan! Precisamos de você agora!- e o som de uma porta batendo
fizeram com que eu pulasse da cadeira do refeitório, aonde eu estava tomando
uma xícara enorme de café. Eu era o médico encarregado do plantão noturno e já
estava trabalhando há quase vinte horas e o pronto socorro do hospital estava
agitado.
- O que temos aqui?- quis saber enquanto colocava as luvas e
entrava na área de atendimento, onde Brian já estava tentando entubar o que
parecia ser um homem, e sua aparência não era das melhores. Estava todo
disforme, com membros e rosto esmagados e os enfermeiros andavam agitados,
verificando sinais vitais, estancando sangramentos, e conectando bolsas de soro
e sangue, e eu assumia a minha função.
- O cara foi bancar o
herói, salvando um cachorro do atropelamento de um ônibus. Adivinha quem levou
a melhor? - respondeu Carol, a chefe das enfermeiras, enquanto ajudava Brian
com a entubação.
- Precisamos estabiliza-lo antes de leva-lo para a cirurgia.Alguém
sabe o nome deste cara?- quis saber Brian e ouviamos murmúrios negativos em
resposta.
- Quero um kit de sutura 8, e mais luz em cima do paciente.-
disse enquanto me aproximava do que parecia ser a perna do homem e via um
esguicho de sangue.Quando comecei a trabalhar no paciente, ouvi um gemido vindo
da mesa e quis saber:
- Porque o John Doe não está sedado Mack? E que cheiro é
este?- perguntei para o anestesista de plantão enquanto desviava de jato de sangue
que ia cair em meus tênis.- Mandem mais uma bolsa de O negativo e abram mais o
soro, temos uma perfuração de intestino aqui, rápido pessoal.- disse enquanto
trabalhava na parte inferior do paciente e ouvi Mack dizendo, enquanto analisava
os monitores:
- Já dei o máximo que podia, Ethan, este cara deve usar
alguma bomba, por isso não apaga totalmente, preciso dele na sala de cirurgia
para fazer mais alguma coisa.- nesta hora outra enfermeira entrou rápido e
disse com a voz tensa:
- Pessoal, o John Doe
é o Jeff Cheiroso.- ela mal terminou de falar e os aparelhos começaram a
apitar, congelamos por alguns segundos tentando reconhecer naquela massa
disforme o sem teto que sempre aparecia no hospital para conseguir algum
remédio, refeições quentes e algumas vezes sabíamos que era só para fugir da polícia,
mas não ligávamos, sempre o atendíamos. Brian gritou:
- Nada disso, Jeff. Carreguem em 200. Afastem-se!- o corpo
do paciente pulou na mesa, mas não reagiu. Brian ainda tentou mais duas vezes, epinefrina,
fizemos massagem cardíaca mas infelizmente, Jeff não deu sinais de reação. Brian olhou para
mim, querendo saber o que fazer, e após eu constatar que já haviam passado 10
minutos, olhei para o relógio e disse sentindo um nó na garganta:
- Paciente Jefferson Kern: hora da morte 05:30 da manhã! –
ficamos ainda alguns segundos olhando para o corpo dele em cima da maca, quando
lembrei que a única família que ele poderia contar seria a do hospital disse:
- Carol, peça a Brianna, para cuidar do funeral, é por
minha...- mas Carol interrompeu:
- Será por nossa
conta, Ethan. Jeff...O senhor Kern sempre deixava minhas novatas treinarem os acessos
nele. Precisamos nos despedir apropriadamente.
– assenti e após olhar ao redor pensei em falar que todos fizeram o
possível por Jeff Cheiroso e ele teria ficado agradecido, quando nossos bips
soaram estridentes. Olhei a mensagem, respirei fundo e disse:
- Pacientes chegando em três minutos.
o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-
Os dias em que eu tinha folga do hospital, eu procurava me
dedicar ao abrigo, que estava sendo considerado um dos melhores e mais seguros
então sempre havia alguém precisando de nós. Além da parte burocrática ser cuidada pela
McGregors e Associados, contávamos com uma psicóloga, e uma recreadora que
organizava atividades paras as crianças, aliviando um pouco o trauma de estar
em um ambiente estranho, também tínhamos os voluntários não só os da minha
enorme família como os amigos. Otter e Nigel, uma vez ao mês promoviam a noite
italiana e era muito bom ver o sorriso das pessoas quando aqueles dois malucos
chegavam com as caixas de pizzas quentinhas e algumas vezes, Nick, Becky,
Connor conseguiam estar conosco e era muito bom.
Como era uma casa
antiga, sempre tinha algum conserto a ser feito, ou alguma pessoa sob nossos
cuidados, precisando de acompanhamento médico, ou apenas eu ia até lá só para
acompanhar as coisas e para conversar com Gwen, que com a ajuda de Brianna,
estava fazendo o curso de assistente social à distância. John havia atuado como
o advogado dela no divórcio e havia conseguido até mesmo ordens de restrição
contra o ex marido valentão, e assim ela se sentia segura e seus filhos estavam
felizes, levando uma vida normal. E tio Caleb e tia Megan, os pais de Edward,
por morarem próximos, haviam oferecido a sua proteção no turno da noite, já que
durante o dia sempre havia muitas pessoas por ali e os abrigados cuidavam uns
dos outros.
- Então quando vai pedi-la em casamento?- quis saber Edward
enquanto me ajudava a pintar as paredes do sótão, onde iriamos instalar uma sala
de música para as aulas que Connor e Nick iriam dar para as crianças.
- Estamos juntos e felizes, e é isso o que me importa. E
fale baixo, ela está lá embaixo com Gwen e eu não quero irrita-la, isso
estragaria o meu fim de semana. - respondi concentrado em arrematar um canto de
parede.
- Concordo! Mas privacidade é importante, ainda mais depois
de todos ficarem sabendo que vocês dois gostam de jogar strip poker quando estão
sozinhos.- zombou.
- Brian vai morrer quando chegar em casa. Fofoqueiro. –
respondi ranzinza e ele riu:
- Mas ele só retribuiu a gentileza, afinal você estragou o
encontro dele com a dermatologista...
- Foi sem querer, eu não percebi que ele estava acompanhado,
quando puxei aqueles malditos lençóis da cama dele. Iriamos chegar atrasados ao
trabalho. Aquela garota fica vermelha
até hoje quando me vê pelo hospital. Acho que é porque elogiei a tatuagem dela
na...- e ele comentou rindo:
- Tatuar ‘coragem’ em chinês na nádega,que maluca.- e eu
respondi:
- O problema é que não estava escrito isso, tatuaram ‘sopa’,
por isso prestei tanta atenção.- rimos com gosto enquanto voltavamos ao
trabalho. Mas Eddie tinha razão, privacidade é importante e já era hora de eu
voltar a falar a sério com Brianna.
o-o-o-o-o-o-o
Algumas semanas depois
- Não sabia que você tinha um paciente por estes lados, Ethan.-
comentou Brianna olhando distraída pela janela do carro, enquanto eu dirigia
até Little Whinging, Surrey, num domingo pela manhã. O tempo estava mudado com
chegada do Outono e as pessoas já saiam às ruas com roupas mais fechadas para
correr ou passear com o cachorro.
Entrei numa rua calma e bem arborizada, com várias casas não
muito próximas umas das outras, com cercas vivas dando-lhes privacidade, mas
não isoladas a ponto de não se ter contato com os vizinhos. Parei quase no
final da rua, na frente de uma casa branca, com vários vasos cheios de plantas,
um sino de vento e um caminho de pedras amarelas. Brianna me olhou cética:
- Sério isso? Vamos andar num caminho de tijolos amarelos??-
assenti e ela riu dizendo:
- Pelo menos a casa é adorável, e não deve haver uma bruxa
do Oeste ai dentro.- sorri e estiquei a mão para ela e caminhamos de mãos dadas
até a casa. Quando entramos na sala, que estava vazia, ela disse:
- Você tem certeza que iria encontrar alguém aqui hoje? A
casa parece abandonada...Olha tem uma cesta aqui.- ela andou até o meio da sala,
onde havia uma cesta de vime e quando ela olhou dentro havia um cachorrinho
dormindo. Era um dos filhotes que haviam nascido no rancho, e junto dele havia
um bilhete. Ela o pegou, e vi que suas mãos tremiam enquanto ela o abria e o
lia com a voz embargada:
- ‘Uma vez eu disse a você que queria o pacote completo:
casa, cachorro e uma vida inteira com você. Quer se casar comigo? – ela
levantou os olhos marejados e sorria feliz:
- Sim! Ethan, eu vou me casar com você.
-o-o-o-o-o-o-o-o
Dezembro de 2014
Por Brianna
Os preparativos do nosso casamento foram insanos. Não há
outra palavra para descrever a loucura que tomou conta das nossas mães, quando
Ethan e eu comunicamos que iriamos nos casar durante as férias de final de ano,
para que as crianças pudessem estar presente. Minha mãe dizia que não daria
tempo para organizar um casamento com tão pouco tempo, mas tia Alex como uma
festeira nata, dise que bastava convocar a familia que tudo daria certo, e
nossos pais riam do desespero delas. Claro que não teriamos tempo de cuidar de
tudo, então deixamos que elas organizassem a festa, e como elas nos conheciam
bem demais, organizariam uma festa linda no rancho, pois devido ao clima do
Texas, não haveria neve e isso deixaria a festa muito mais confortável para os
nossos convidados, afinal iríamos nos casar em pleno inverno.
Na véspera mal vi Ethan
que praticamente foi sequestrado por Ty e os rapazes e eu fui para minha
despedida de solteira organizada por minhas primas junto com Becky e Lizzie. Houve
muita bebedeira, muitas risadas e a última coisa de que me lembro daquela noite,
foi do bartender sem camisa despejando tequila direto em minha boca. Graças a
Merlim, meu sogro é o melhor preparador de poções que eu conheço e
generosamente deixou em meu quarto algumas poções anti ressaca que me salvaram,
ou eu não conseguiria colocar um pé na frente do outro desde o momento em que
abri os olhos, sem sentir marteladas na minha cabeça e uma vontade enorme de
morrer. Não, isso seria um luxo e ele não fazia parte do dia da noiva.
Do momento que me levantei, até a hora em que fiquei pronta,
o tempo pareceu voar. Quando me olhei no espelho após colocar o vestido de
noiva, minha mãe e minha avó que me ajudavam ficaram com os olhos cheios de
água e me abraçaram emocionadas, antes de irem tomar seus lugares no altar. Fiquei
sozinha e pude admirar o meu vestido que havia sido um presente de Isa
McCallister. Nunca em meus anos como modelo, havia usado um vestido tão
perfeito. Ouvi batidas na porta e meu pai entrou todo falante mas parou:
- Está pronta querida? Já está na hora.- percebi sua emoção
e corri para ele em um abraço apertado, foi dificil segurar as lágrimas para
não borrar a maquiagem.
Descemos as escadas e fomos em direção ao jardim onde
geralmente eram realizadas as festas do rancho, e quando a música começou e as portas
foram abertas, meu queixo caiu ao ver a transformação: havia muitos salgueiros
com seus galhos caidos em branco formando uma cúpula, onde as cadeiras dos
convidados também brancas, era ladeadas por vasos com flores do campo permeadas
de flores brancas, e onde normalmente haveria um tapete vermelho para a minha
entrada, este havia sido substituído por um caminho todo de pétalas brancas. No
local onde o sacerdote realizaria a cerimônia, foi montado um pequeno altar com
um arco de flores também brancas e em frente a ele, Ethan estava todo sério e lindo
em seu fraque. Olhei ao redor e vi os sorrisos de nossos amigos que estavam
felizes por nós. Respirei fundo e caminhei em direção aquele que já era meu
companheiro em meu coração mas se tornaria o meu marido perante as leis dos
homens.
A festa também não me decepcionou com ótima comida, bebida e
além do DJ contratado, havia um pequeno palco onde Edward, Nick, Connor, Otter
e Nigel se posicionaram e nos surpreenderam, pois não haviam nos dito nada
sobre alguma apresentação especial. Eddie tomou a palavra:
- Atenção senhoras e senhores, claro que sendo músicos e
amigos destes dois e acompanhando sua jornada, resolvemos nos juntar e tocar
uma música feita especialmente para eles. Ethan e Brie, amamos vocês. – e ele
começou a cantar e tocar o violão sendo acompanhando pelos outros, e enquanto tocavam
eu dançava envolvida pelos braços de Ethan, e sentia que a nossa vida seria
cheia de momentos lindos como esse.
Well I
know there's a reason
And I know there's a rhyme
We were meant to be together
That's why
We can roll with the punches
We can stroll hand in hand
And when I say it's forever
You understand
I could have turned a different corner
I could have gone another place
Then I'd of never had this feeling
That I feel today, yeah...
And I know there's a rhyme
We were meant to be together
That's why
We can roll with the punches
We can stroll hand in hand
And when I say it's forever
You understand
I could have turned a different corner
I could have gone another place
Then I'd of never had this feeling
That I feel today, yeah...
That
you're always in my heart,
You're always on my mind
But when it all becomes too much,
You're never far behind
And there's no one that comes close to you
Could ever take your place
Cause only you can love me this way
You're always on my mind
But when it all becomes too much,
You're never far behind
And there's no one that comes close to you
Could ever take your place
Cause only you can love me this way
Ooooh...
Only you can love me this way.
Only you can love me this way.
N.autora: Trechos da música: Only you can love me this way, Keith Urban