Posted: sexta-feira, 26 de outubro de 2012 by Rupert A. F. Storm in
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1º de Outubro de 2017

- Que horas são? – Penny perguntou apreensiva.
- Faltam 5 minutos ainda – respondi consultando o relógio – Onde está o Hector?
- Thomas, onde está seu companheiro de quarto? – Lena olhou atravessado para Thomas, que deu de ombros – Se ele aprontar alguma e nosso direito de ir para casa for revogado, eu mato ele!
- Ele não vai fazer nada, também está louco para sair um pouco – James respondeu nos tranqüilizando.
- Pessoal, por favor, silencio ou vou expulsar vocês do nosso quarto – Kaley chamou nossa atenção. Ela estava com um iPad na mão e esperava Zach se conectar de Boston para falar com ela.
- Kay? Está aqui? – ouvimos a voz de Zach e ela saltou da cama. Todo mundo correu para se amontoar atrás dela.
- Oi Zach! – Julian falou animado – Como estão as coisas ai em Harvard?
- Oi pessoal! – Zach respondeu com a mesma empolgação – Está tudo ótimo aqui, esse lugar parece Hogwarts.
- Hogwarts? – Kaley riu – Como estão as aulas?
- É, o prédio é bem antigo, mas é só essa a semelhança mesmo. As aulas estão indo bem. São um pouco puxadas, mas ainda não decidi em que vou me formar, então vou fazer um monte de curso aleatório enquanto não decido.
- Já está jogando futebol? – James perguntou. Todos sabiam do fanatismo de Zach por futebol americano.
- Ainda não, calouros não podem se inscrever, mas no próximo semestre estarei lá! Penny, você ainda tem aquele seu caderno onde anotava nossas previsões para o futuro?
- Claro, quer fazer uma profecia para ele?
- Sim, anote ai: daqui a alguns anos, Zachary Walker vai ser um quarterback famoso e estará jogando pelos Patriots.
- Ok, quarterback, anotado. Vou cobrar essa!
- Galera, 9h! – Julian anunciou erguendo os braços – Vamos embora!

Todo mundo se despediu de Zach e fiquei para trás terminando de juntar minhas coisas. Kaley ia ficar para terminar de conversar com ele e depois ia passar o fim de semana na casa de Connor, então nos despedimos e segui para a casa dos meus pais. Foi uma visita rápida. Tomamos café juntos, contei como estavam indo as aulas e depois sai para encontrar Rupert no loft.

Eu estava exausta. Desde que as aulas haviam começado não me lembro de ter tido uma noite de sono sequer que chegasse a cinco horas. Os exercícios eram cansativos, as aulas extremamente puxadas e a marcação cerrada que os Sargentos faziam, especialmente o Sargento Sanders, nos deixavam em constante estado de alerta.  Aquele era o primeiro dia que tínhamos permissão de sair, depois de um mês de confinamento no quartel, e tudo que eu queria era dormir. Quando Rupert abriu a porta e estendeu os braços, é possível que tenha cochilado por alguns segundos quando o abracei.

- Ei, tudo bem? – ele perguntou preocupado, mas já estava me recuperando.
- Sim, só estou cansada, acho que relaxei demais e apaguei.
- Você passou dois meses na Califórnia e quando finalmente voltou, teve que passar mais um mês presa no quartel. Nós nos víamos mais quando éramos só amigos.
- Não é justo mesmo, mas já estou liberada. Se ficar presa em algum fim de semana, é provavelmente culpa de um dos garotos.
- Bom, melhor assim do que voltar a ser só seu amigo – ele me abraçou mais apertado e beijou meu pescoço – O quão cansada você está?
- Bem, não estou tão cansada assim – respondi em seu ouvido – Justin está em casa?
- Esperava manter isso só entre nós dois – ele respondeu e ri – Está de plantão.
- Ótimo. E MJ?
- Só chega às 19h da Academia.
- Então vamos parar de gastar energia falando, não me resta muita disposição.
- Você é quem manda.

Soltei-me dos braços dele e agarrei sua mão, o puxando escada acima. Eu podia descansar depois.

°°°°°°°°°°

Amber estava deitada ao meu lado na cama, a cabeça enterrada no travesseiro e os cabelos uma bagunça por cima do rosto. Seu corpo estava relaxado e a respiração cada vez mais leve, mas ela ainda não estava dormindo. Eu estava sentado do lado dela com o laptop no colo encarando a tela em branco. Tinha até segunda-feira para entregar os cinco primeiros capítulos da Câmara Secreta para a editora, mas só tinha escrito dois até o momento. Precisava começar o 3º, mas estava difícil me concentrar com ela deitada ao meu lado.

- Você parece um psicopata me olhando assim – ouvi sua voz abafada pelo travesseiro.
- Você está deitada na minha cama só de camiseta e calcinha, para onde quer que eu olhe? – respondi enquanto inclinava o corpo para beijar seu rosto.
- O que está fazendo?
- Tentando escrever, mas não consigo me concentrar.
- Eu sou uma distração? – ela perguntou com um sorriso malicioso.
- Uma distração boa.
- Quantos capítulos faltam?
- Três, mas tenho o domingo inteiro ainda, dá tempo. Não consegue dormir?
- Não... Acho que quanto mais cansada, mais difícil é dormir.
- Conte mais um pouco dos treinamentos que em um instante você apaga.
- Acho que já narrei cada tortura que sofremos – ela fez uma careta e ri – Ah, eu já tinha contado que vamos mandar nossas fichas para o estágio dos Bruxos de Elite?
- Isso é ótimo! Quem vai se inscrever? O estágio é no Departamento para Aplicação das Leis da Magia, não é?
- Lá mesmo, por enquanto sei que Kaley e James também vão se inscrever, mas não sei dos outros. Vai ser difícil, nosso treinamento vai ser diferente a partir da metade do ano que vem, vamos ter mais aulas, mas eu quero muito isso.
- Você é durona, babe – disse apoiando a mão em suas costas e a beijando – Vai se sair bem.
- Continue fazendo isso – disse quando comecei a fazer movimentos circulares em suas costas e se ajeitou na cama, me abraçando e enterrando o rosto em minha costela – E não me chame de babe.

Continuei alisando suas costas e em menos de cinco minutos ela apagou. Voltei à atenção ao laptop no meu colo e minha cabeça estava fervendo de ideias. Logo estava digitando sem parar, mas nada do que aparecia na tela tinha a ver com a história que deveria estar escrevendo. Sem perceber o que fazia, comecei a digitar tudo que Amber havia me contado sobre o treinamento de auror, as aulas práticas e teóricas, a rigorosidade dos oficiais e o companheirismo que surgia entre os alunos na hora das punições.

Horas mais tarde, ao invés de ter escrito sobre a primeira visita do tio Harry à Toca e seu encontro com Gilderoy Lockhart na Floreios e Borrões, tinha um capitulo inteiro pronto sobre a vida dos aurores nos primeiros meses de academia e quase dez páginas descrevendo vários personagens. Parei de escrever por um instante e olhei para Amber dormindo pesado ao meu lado. A narrativa era sob o ponto de vista dela, mas claro que usaria outro nome, e a história ia muito além do treinamento de um auror. Amber tem uma personalidade única e já passou por tanta coisa que eu teria material para uma série inteira. O que ela ia achar disso?  Será que ia gostar que eu escrevesse um livro sobre ela, para ela?

Qualquer que fosse sua opinião, não saberia tão cedo. Não podia pensar em outro livro agora, tinha um contrato para escrever mais seis e tinha que cumpri-lo antes de pensar em me dedicar a qualquer outra coisa. Salvei o arquivo e o fechei, abrindo o outro no qual deveria estar trabalhando. Não ia ser agora que eu ia contar a história dela, mas um dia todos saberiam o quão incrível Amber Beckett era. Era uma promessa.