Posted: quinta-feira, 6 de dezembro de 2012 by Nicholas O'Shea in
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Londres, setembro de 2018


Já fazia algum tempo desde que havia confessado a Rupert minha vontade de permanecer apenas com uma carreira, mas embora já tenham se passado quase quatro meses nenhuma decisão havia sido tomada. Continuava vindo todas as manhãs para a delegacia e seguindo com os Orcs em turnê à noite, sem ter tempo para mais nada.

Parecia ser um turno típico. Depois de fechar o caso de uma menina desaparecida em menos de 24 horas, o que era sempre um alívio, preenchia meu relatório para entregar ao capitão sem perspectiva de entrar em nenhum outro caso pelo resto do dia quando Rupert entrou na delegacia. Cumprimentou Nigel em sua mesa e se dirigiu até a minha, puxando uma cadeira. Era engraçado ver como os outros detetives e policiais reconheciam Rupert e apontavam. Alguns até se aproximavam para pedir um autógrafo ou uma foto.

- Está perdido ou veio testar sua popularidade entre as autoridades de Londres? – perguntei quando o alvoroço terminou e ficamos sozinhos outra vez.
- Estava a caminho da minha consulta com o Dr. Pace e passei para pedir um favor – disse puxando um pedaço de papel do bolso e me entregando – Você ainda tem aquele amigo no Serviço Secreto?
- Marshall, sim, claro – olhei para o papel e vi que tinham dois nomes anotados – Do que precisa?
- Saber se esses nomes algum dia passaram pela CIA. Como agentes, procurados, qualquer coisa.
- Brennan. Esse não é o sobrenome da Amber?
- São os pais dela.
- Os pais dela tem alguma relação com a CIA? – perguntei surpreso.
- Não sei, podem ter. Ela está estudando o caso deles em uma aula na academia e nada faz sentido. Como duas pessoas podem simplesmente evaporar da face da Terra?
- Ah, a aula do Wes, minha favorita. Ele vai arrancar o couro dela quando souber que escolheu algo pessoal, mas se encontrarem alguma coisa... Talvez ele releve.
- Está difícil encontrar algo.
- Sua teoria da CIA é maluca, mas não é impossível. Ninguém evapora sem deixar rastros, a menos que seja treinado para isso. Vou pedir a Marshall para jogar o nome deles no banco de dados da CIA e aviso assim que tiver um retorno dele.
- Obrigado, Nick – ele levantou e estendeu a mão para mim – Tenho que ir ou vou me atrasar.

Liguei para Marshall assim que Rupert saiu e expliquei o pouco que sabia da história, mas ele ficou intrigado o suficiente para dar uma olhada nos nomes que passei. Voltei à atenção ao relatório que estava fazendo, mas ainda estava longe de terminar quando fui interrompido mais uma vez. Agora era meu celular tocando e vinha de um número restrito.

- O’Shea.
- Nick? – uma voz de criança falou e reconheci de imediato.
- Austin? É você?
- Sim, sou eu – a voz dele saia tremida e aquilo me alarmou.
- Austin, está tudo bem?
- Não. Você pode vir nos buscar?
- O que aconteceu? Onde você está? Sua irmã está com você?
- Molly está aqui. Papai nos levou embora. Eu não gosto daqui, Nick. Quero voltar para casa.
- Onde vocês estão? – estalei os dedos agitado na direção de Nigel e ele correu até minha mesa – Rastreie meu celular – disse a ele colocando a mão para Austin não ouvir.
- Não sei, desculpe. Estamos dentro de uma casa, mas não sei onde ela fica.
- Não tem problema, eu vou encontrá-lo. Você viu alguma coisa na rua quando entraram na casa?
- Uma loja de cupcakes. Molly queria comer um, mas papai não deixou.
- Tem alguma janela onde vocês estão? Você consegue ver a rua por ela?
- Tem uma janela sim, mas não consigo ver direito, estamos em um porão. Acho que tem uma loja de discos do lado de uma farmácia.
- Austin, por quanto tempo seu pai dirigiu com vocês? Vocês pegaram um carro?
- Sim, um carro grande e branco, como uma van. Ele dirigiu por dois episódios de Thomas o trem, Molly estava assistindo no iPad da Sra. Fisher.
- Austin, ele está vindo! – ouvi a voz de Molly ao fundo e barulho de coisas caindo.
- Tenho que desligar, papai está descendo! – e desligou antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa.
- Conseguiu? – perguntei a Nigel, mas ele sacudiu a cabeça.
- Foi mal, irmão. Muito pouco tempo, não consegui a localização exata, mas algo próximo.
- Ele disse que o pai dirigiu por 40 minutos.
- Isso mesmo, o sinal veio de uma torre dentro dessa área – disse apontando para o mapa na tela, que mostrava uma área em Surrey.
- Certo, vou buscar a Brie, isso é caso dela. Vá até a casa dos Fisher ver o que aconteceu. Jason North tirou essas crianças de lá de alguma forma, quero saber como.

Nigel assentiu puxando o casaco da mesa e saindo da delegacia enquanto eu ia avisar ao capitão sobre o que estava acontecendo. Liguei para Brie avisando o que tinha acontecido e ela já estava me esperando na porta do hospital quando parei a viatura. A ligação de Nigel veio antes que andássemos duas quadras no transito. Não estávamos lidando com apenas um seqüestro.

Os corpos de Sarah e Richard Fisher estavam na sala de estar, um único tiro na cabeça de cada um. Eles não tiveram chance alguma. Pelas marcas de sangue no chão, Sarah havia sido baleada quando abriu a porta e seu marido quando apareceu no corredor atraído pelo barulho do tiro. Ele havia arrastado ambos até o meio da sala, deixando um rastro vermelho pelo chão.

A casa estava em perfeita ordem, tudo que Jason queria era levar as crianças e eliminou quem os impedia, não precisava de mais nada. Nigel assumiu o caso do assassinato e decidi cuidar apenas do seqüestro. Se ele já estava em Surrey, podia ir ainda mais longe nas próximas horas e não queria arriscar que Jason descobrisse a ligação que Austin fez.

Com a única informação de uma loja de discos, uma farmácia e uma loja de cupcake na rua, dirigi até Surrey com Brianna. Karpowski ficou coordenando da delegacia e nos dando as direções. Ainda estávamos entrando em Surrey quando outra vez o numero restrito me ligou. Atendi tão afobado que quase derrubei o telefone no chão do carro.

- Nick, ele vai nos levar embora! – a voz de Austin agora era de pânico. Perguntei-me se ele havia visto o que o pai tinha feito com seus pais adotivos.
- Austin, escute com atenção. Esse telefone de onde você está ligando é um celular?
- Sim, é do Dr. Fisher, eu peguei quando- - sua voz morreu e ai soube que ele havia visto seus corpos no chão da sala.
- Está tudo bem, vocês vão ficar bem. Quero que coloque o celular na sua mochila e não desligue, entendeu? Preciso que a ligação não termine para que eu possa encontrar vocês.
- Ok...
- Austin, vai ficar tudo bem. Brianna e eu já estamos a caminho, nós vamos trazer vocês de volta. Agora coloque o celular na mochila para seu pai não ver e fique junto de sua irmã.
- Eu vou tomar conta dela.
- Sei que vai, você é um ótimo irmão para Molly.
- Ele está vindo nos buscar, vou esconder o telefone.
- Agüenta firme, já estamos chegando.

Liguei para Karpowski do celular de Brianna e ele rapidamente começou a rastrear a ligação ainda ativa no meu. Dois minutos depois ele conseguiu a localização exata do sinal, mas ele não estava mais parado. Jason já estava em fuga com as crianças e se dirigia para o sul. Karpowski avisou pelo rádio que já estava enviando reforço da delegacia mais próxima de onde eles estavam e que deviam alcançá-los antes de nós. Liguei a sirene da viatura e pisei fundo no acelerador.

- Por que ele está fugindo em um carro? Ele é bruxo, não seria mais eficiente aparatar? – perguntei a Brie enquanto dirigia a toda velocidade.
- Ele não pode, está sendo rastreado. A condição para a condicional era que ele estava proibido de usar magia – ela explicou e agora as coisas faziam mais sentido – O Ministério está monitorando-o de perto e qualquer sinal de magia alguém aparata ao seu lado e o leva preso.
- Para o azar dos Fisher, métodos trouxas de crime quase sempre têm o mesmo final.

Um bloqueio foi montado em todas as estradas que saia da cidade e o reforço enviado por Karpowski parou eles quase chegando a Kent. Um verdadeiro circo havia sido armado quando os alcançamos. Jason estava atrás do volante de uma van branca, como Austin havia dito, e as crianças estavam no banco do carona olhando apavoradas o pai sacudir uma pistola na direção dos policiais que cercavam o veiculo.

- Qual é a situação? – perguntei para um dos policiais do cerco.
- Ele não está ameaçando as crianças, mas não podemos nos aproximar enquanto ele tiver armado.
- Ele não vai fazer mal a elas, está desesperado para tê-los de volta – Brianna disse ao meu lado.
- Bom, depois de assassinar duas pessoas, acho que podemos dizer que esse barco já naufragou – comentei e eles assentiram em concordância.
- O que quer fazer, detetive? – o policial encarregado do cerco se aproximou – Ele está ficando cada vez mais agitado.
- Deixe-me tentar falar com ele, não interfiram – tirei o rádio e a arma da cintura e entreguei a ele – Venha comigo, Brie. Ele conhece e confia em você.

Aproximamos-nos lentamente da van, eu com as mãos erguidas para mostrar que estava desarmado e não faria nada contra ele. Jason imediatamente nos mandou recuar e apontava a pistola que segurava na nossa direção, mas suas mãos tremiam tanto que duvidava que conseguisse apertar o gatilho. Também não ameaçava ferir as crianças, o que era um ótimo sinal, tornaria tudo muito mais simples.

- Para trás, estou avisando! – ele gritou mais uma vez.
- Não posso fazer isso, Jason, e você sabe o porquê.
- Deixe-nos ir embora! Eu só quero cuidar dos meus filhos em paz!
- Não podemos deixar você levá-los embora – Brie falou firme – Por que não os deixa sair e então podemos conversar com calma?
- Ela está certa, Jason. Ninguém mais precisa se machucar, nem mesmo você. Deixe as crianças saírem e então conversamos.
- Eu matei duas pessoas, acha que sou idiota? Nenhuma conversa vai me livrar de Azkaban. Sei muito bem que é para lá que vão me mandar!
- Papai... – Austin segurou seu braço com força e o encarou nos olhos. Não parecia uma criança de 5 anos naquele momento – Por favor, faz o que eles estão pedindo.
- Não posso, filho. Se deixá-los ir, nunca mais vou tê-los de volta.
- Mas eu não quero que o senhor se machuque – Austin se debruçou por cima da irmã e o abraçou apertado.

Molly começou a chorar, assustada com tudo que estava acontecendo e sem entender direito, e foi naquele momento que os olhos de Jason ficaram vermelhos. Olhei para Brie e ela fazia força para não chorar vendo o apelo daquelas crianças para que o pai fizesse a coisa certa.

- Jason, você está assustando seus filhos – Brie se aproximou mais do carro – Deixe-os ir.
- Você está cercado de policiais armados e nenhum deles vai deixá-lo sair daqui com esse carro. Como acha que isso vai terminar? – dei mais um passo a frente e apoiei as mãos na janela do carro – Quer traumatizar seus filhos para o resto da vida deles?
- Vão, saiam – ele disse beijando a cabeça dos dois, mas sem soltar a arma – Vão com a Brianna.
- Papai... – Molly o abraçou outra vez, ainda aos prantos.
- Eu vou ficar bem, podem ir.

Brianna deu a volta depressa e abriu a porta do carona, tirando os dois do carro o mais rápido que pode. Continuei ao lado de Jason sem tentar nada até que ela já estivesse do outro lado da rua com as crianças seguras, então agarrei a mão que ele segurava a arma. Foi um movimento tão rápido que não deu a ele tempo de reagir, não esperava que eu fosse tentar desarmá-lo tão cedo. Atirei a arma para longe e o policial que estava mais próximo do carro a pegou.

- Jason North, você está preso pelo sequestro de Austin e Molly North e pelo assassinado de Richard e Sarah Fisher – disse enquanto o tirava de dentro do carro e o prendia com as algemas – Você tem o direito de permanecer em silencio e tudo que disser pode e será usado contra você no tribunal. Você tem o direito de ter um advogado. Se você não puder pagar um advogado, um defensor público lhe será indicado. Você entende os seus direitos?
- Sim, entendo.
- Ótimo – disse empurrando sua cabeça para baixo para que entrasse em minha viatura - Porque você nunca mais vai sair de Azkaban.

((Continua...))