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- Wow! Não consigo me mexer.- Haley disse enquanto respirava
fundo, e acabei rindo enquanto eu levantava a cabeça que estava escondida debaixo
dos lençóis aos pés da cama.
- Molenga...Isso porque é uma atleta.- e ela se ergueu nos
cotovelos e franziu os olhos:
- Não tenho forças nem para te chutar pela provocação...-
resmungou e minhas mãos agarraram seus pés e a puxei para mim, sem cerimônia. Ela
gritou espantada e quando percebeu eu já estava por cima dela novamente, e ela fez
biquinho, do jeito que costuma fazer quando briga comigo.
- Vamos brigar novamente? – eu quis saber e ela me olhou um
brilho travesso nos olhos:
- Não, embora sexo de reconciliação seja fantástico. Não sei
se a cama aguentaria outra rodada.Seu quarto está uma bagunça, até parece a
cena do Amanhecer 1, só faltam as penas voando.- fiz uma careta de desgosto, e
ela riu pois conseguiu me obrigar a assistir ao filme inteiro.
- Ainda bem que desta vez quem levou a melhor foi o lobo.E
ele ainda está faminto...- eu disse presunçoso e ela riu provocando:
- Quem disse que precisaríamos da cama? – sorri e a beijei, ela
se aproveitou da minha guarda baixa e me empurrou, fazendo com que eu caísse da
cama, enquanto se levantava rápido e pegava minha camisa e a vestia dizendo:
- Vamos pegar alguma comida, ainda podemos
recriar outras cenas dos meus filmes favoritos, ficarei quase duas semanas
fora, preciso de boas memórias para não sentir saudades. - e eu respondi,
enquanto colocava as minhas calças:
- Ok, mas nenhuma cena que envolva as bancadas da cozinha ou
os sofás da sala, senão Rupert me despeja.
- Posso ser criativa.- ela respondeu mordendo o lábio,
enquanto a gola da minha camisa grande demais para ela, deixava um de seus
ombros descoberto. Engoli seco e disse áspero:
- Droga! Vamos logo buscar esta comida, duas semanas longe
de você serão um inferno.
o-o-o-o-o-o-o-o
Hospital St. Mungus, Terceiro Andar, Envenenamentos por
poções ou plantas:
Eu e minha boca grande. Depois de seis meses de muito
estudo, teorias e práticas, os plantões de 48 horas passaram a ser uma rotina
diária em nossa vida, e eram insano. Pegávamos os casos mais malucos, e sempre que nos
encontrávamos pelos corredores, eu, JJ e Clara, comparávamos nossos pacientes,
para ver quem estava com o caso mais interessante do dia. E quando o caso, era
muito bom, o vencedor se auto proclamava, Rei do St.Mungus. Idiota, é claro,
mas precisávamos ter nossos momentos descontraídos no hospital.
A doutora Louise Storm, mãe da Clara, era nossa chefe e um osso
duro de roer. Ela era uma das lendas no hospital e todos queriam estar em seus
casos, ela tinha a capacidade de nos fazer calar com apenas um levantar de
sombrancelha e um olhar glacial, e entre os internos ela tinha o apelido de
Medusa. E seu olhar foi o que bastou, quando me mandou ficar no terceiro andar,
onde os casos mais chatos com bruxos desatentos com poções ou plantas venenosas
ocorriam. Ora, quem em sã consciência bebe uma poção regurgitadora à toa, apenas
para pagar uma aposta? O serviço era um
porre. Nos limitávamos a avaliar o caso, dar poções para cortar o efeito do
veneno, faziamos curativos nas erupções purulentas...Enfim, era a parte chata
do trabalho, mas apesar disso , eu amava ser curandeiro, mas alguns dias era
dificil manter este amor.
- De novo, senhor McMannus?- eu perguntei cansado, após ver meu
uniforme limpo coberto de vômito, pela quarta vez nas últimas três horas e o
velhinho maltrapilho com cara de papai noel, teve a decência de parecer constrangido:
- Desculpe, doutor, eu avisei que não me sentia bem para
levantar da cama.
- Mas o senhor já foi medicado contra o envenenamento por
sumagre venenoso, suas erupções já desapareceram, não é comum ter este tipo de
reação com a poção que administrei. Diga a verdade: o senhor bebeu quanto antes
de entrar aqui?- e ele fez um ar ofendido, enquanto eu fazia um feitiço rápido
de limpeza em mim:
- Eu não bebo, mocinho. Quer dizer, não deste jeito. Eu só
me sinto mal às vezes, só isso.Pode me dar algum remédio?- continuei a examina-lo
quando a cortina se abriu e a doutora Storm entrou apressada. Cumprimentou o
paciente, verificou sua ficha, e depois disso me chamou de lado, franzindo o
nariz:
-Porque ainda não liberou o senhor McMannus, Justin? E que
cheiro é este?
- Ele não teve tempo de pegar a bacia para vomitar e eu
estava no caminho. Eu estava avaliando-o novamente, acho que ele precisa de
exames mais detalhados doutora Storm.
- Seus exames estão normais. O problema dele, é ressaca, já
aconteceu outras vezes, pois ele sempre volta atrás de algum remédio. Dê uma
poção dupla para ressaca, alguma comida e libere o leito. Você é necessário em outros
setores do hospital e eu preciso daquele leito vazio. E por favor, tome um
banho, você está fedendo. – ela saiu e nem me deu tempo de pedir que ela me
desse mais algum tempo com este caso, pois ele me incomodava. Olhei para o
paciente, e o olhar dele sem esperanças, me fez pensar que talvez valesse a
pena desobedecer à minha chefe. Após uma hora, ela veio atras de mim saber do
paciente e vinha acompanhada de Ethan, que devia ter acabado de sair do trabalho,
pois usava um casaco pesado por cima do uniforme azul escuro do pronto socorro
do hospital onde trabalhava.
- Doutor Silverhorn.- ele cumprimentou sorrindo e eu
reribui:
- Doutor Warrick.- e a mãe da Clara, já foi direito ao
assunto:
- Justin, porque você pediu mais uma avaliação do senhor
McMannus, se deu alta a ele uma hora atrás?
- Não dei alta doutora Storm...- Ethan arregalou os olhos e
me encarou. A Medusa me olhou de cima a baixo:
- Onde ele está?- ela perguntou com voz controlada.
- Bem ali. - E apontei para a cama do senhor McMannus, onde
antes havia um velhinho sujo e maltrapilho, agora havia um senhor de idade, de
banho tomado, barbeado e de roupas limpas.- ela me lançou aquele olhar e eu me
defendi:
- Pobres não recebem atendimento médico adequado, mesmo no
mundo bruxo e isso é injusto. Costumo seguir meus instintos doutora, e acredito
que ele mereça uma segunda opinião, por isso o mantive no hospital.Sei que
posso ser punido por desobedecer a uma ordem, mas pelo menos fiz o meu melhor
como curandeiro. – e ela me olhou
pensativa:
- Sim, isso é certo. O curandeiro geral já foi avisado?
- Sim, mas parece que está preso em um caso de varíola de
dragão...- ela olhou para Ethan.
- Pode dar a segunda opinião neste caso? Preciso subir para
a Obstetrícia, verificar minha paciente, e eu realmente quero que este caso
seja encerrado.
- Sem problemas, se não encontrar nada, eu mesmo assino a
alta. Ainda tenho crédito com a direção. – ele respondeu e ela assentiu sorrindo
orgulhosa e nem me olhou novamente quando saiu, deixando-me com meu cunhado,
que se virou para mim:
- Atualize-me, enquanto vejo a ficha do paciente.E que seja
bom, ou você vai repensar sua carreira. – e já se encaminhou ao paciente e
enquanto eu relatava os detalhes do caso, como enxaqueca e vômitos, Ethan o
examinava, minuciosamente. Quando terminou disse:
- Senhor McMannus, o senhor sofre de uma síndrome de vômitos
cíclicos, SVC. É uma doença comum na infância, mas em casos raros pode ocorrer
com adultos. O paciente não apresenta nada nos exames, porém tem náuseas e
vômitos por dias e de repente os sintomas pausam e do nada eles retornam.
- Achei que fosse a bebida, que me causasse isso, doutor.- e
ele me olhou sem graça quando bufei:
- Não me olhe assim, eu bebo às vezes, sim. Não tem cura? -
e Ethan fez que não:
- Enxaqueca é uma das causas dos seus problemas, e isso nós
podemos tratar., e você terá uma qualidade de vida melhor. – Ethan me orientou
a como prescrever a medicação, quais poções eu deveria buscar na farmácia. Após
medicar o senhor McMannus, e lhe dar comprimidos que iriam durar pelo menos um
mês, ele nos agradeceu muito e foi liberado. Olhei para Ethan:
- Obrigado.Mas o que veio fazer aqui? Saudades do emprego? –
e ele riu:
- Embora trabalhar com a Medusa tenha seus bons momentos, gosto
de onde estou. Sabe que com um filho pequeno e o abrigo, não tenho muito tempo
livre. Você pegou um caso de diagnóstico difícil, e fez o correto: ouviu os seus instintos. Quando seu plantão
acaba? Quero conversar com você, enquanto jantamos. – olhei no relógio e sorri:
- Já está quase acabando, vou me apresentar à minha chefe,
ouvir a bronca e poderemos ir.
Fomos jantar na lanchonete trouxa que ficava perto do St.
Mungus,e enquanto eu devorava um cheeseburguer com fritas, Ethan e eu colocávamos
o papo em dia. O paciente havia sido cuidado, e isso era o que fazia o dia
infernal, valer a pena.