Posted: quinta-feira, 20 de dezembro de 2012 by Nicholas O'Shea in
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- Ei O’Shea, a quanto chegou o carro hoje? – um dos detetives perguntou quando voltei para a delegacia.
- 130km/h! – respondi com um sorriso satisfeito – Cara, eu adoro perseguições.
- Seu maldito sortudo! – ele bateu nas minhas costas e o capitão saiu da sala.
- Bom trabalho, O’Shea.
- Obrigado chefe, mas ainda não acabou. Ele ainda precisa ser fichado na central e encaminhado pra prisão pra aguardar julgamento.
- E o que está esperando para fazer isso?
- Só vim buscar os papéis.
- Ótimo, deixe tudo na minha mesa quando terminar.

Assenti pegando a pasta que precisava e voltei para a central de fichamento, onde sempre ficava um novato responsável por fichar os presos que trazíamos, mas desse cuidei eu mesmo. Foi uma manhã longa preenchendo toda aquela papelada, mas quando o preso tinha que ir para Azkaban sempre dava mais trabalho. E eu fazia questão que ele ficasse confinado lá, sob a vigília dos Chronos, porque só assim eu tinha a certeza de que ele não conseguiria fugir.

Nigel já havia mandado as balas que o médico legista retirou dos corpos junto da arma que arranquei da mão de Jason para o teste de balística e o resultado chegou no inicio da tarde. Aquela havia mesmo sido a arma usada nos dois assassinatos. Jason nunca mais iria sair de Azkaban.

Dois guardas do Clã Chronos que ficavam em Azkaban vieram buscá-lo por volta das 16h e a partir do momento em que entreguei Jason a eles, ele não era mais minha responsabilidade. Seu destino agora estava nas mãos da Suprema Corte Bruxa e do advogado que ele contratasse para tentar livrá-lo dessa, embora eu duvidasse que conseguisse. Brianna estava saindo do elevador quando os guardas entraram com Jason e ela lançou um olhar para ele que era uma mistura de desaprovação e pena antes de virar o rosto e sair do caminho.

- Ele vai pra Azkaban? – ela perguntou reconhecendo o uniforme dos guardas.
- Sim, ele é bruxo e vai ser julgados pelas nossas leis, então vai ficar em uma prisão bruxa.
- E uma que não tem como escapar – ela completou com um suspiro cansado – Ótimo, não quero que essas crianças tenham qualquer contato com ele outra vez.
- Onde elas estão? Não tive tempo de falar com eles ainda.
- Na sala de descanso, preciso resolver só mais uma coisa antes de levá-las. Pode dizer isso a elas, por favor? Não vou demorar.

Ela saiu apressada na direção das escadas e caminhei até a sala de descanso. Capitão Cragen estava agachado conversando com as crianças quando entrei e a cena me surpreendeu. Sei que ele tem filhos, acho que já tem até um neto, e com certeza sabe lidar com crianças, mas é sempre estranho ver a figura que representa autoridade e é sempre tão séria mostrando outro lado. Ele levantou quando entrei e Molly veio correndo na minha direção, agarrando minha perna.

- Oi baixinha – puxei-a para o meu colo e ela deitou a cabeça em meu ombro, tímida, mas com um sorriso enorme no rosto – Ei Austin, você cresceu bastante desde a última vez que nos vimos.
- Ele já tem seis anos – Molly levantou a cabeça já abandonando a timidez – E eu já fiz quatro!
- Você também está grande, mas continua baixinha – brinquei e ela riu, se contorcendo quando fiz cócegas em sua barriga e deslizando até o chão.
- Ela ainda é um bebê – Austin provocou.
- Não sou um bebê! – ela respondeu de volta, braba.
- Você vai ser sempre meu bebê – ele agora não tinha um tom de voz provocativo e ela não revidou – O que vai acontecer com a gente?
- Brianna já está vindo buscá-los, ela não vai demorar. Vai levar vocês a um lugar seguro.
- Não vamos mais morar com o Sr. e a Sra. Fisher? – Molly perguntou confusa, olhando para Austin em busca da confirmação do irmão – Mas eu gosto deles.
- Eles não podem mais cuidar da gente, eles foram pro céu – Austin respondeu e ela o abraçou, ameaçando chorar.
- Mas Sarah prometeu que ia cuidar da gente pra sempre.
- Os adultos não cumprem promessas, mas eu nunca vou abandonar você, Molly – ele a segurou firme, outra vez tão sério que não parecia ter só seis anos – Não importa o que acontecer, vai ser sempre você e eu.
- Você promete que não vai ficar longe de mim?
- Nunca. Você é minha irmãzinha e o meu dever é cuidar de você.
- Ei, não é assim também – agachei para ficar na altura deles e Austin me olhava sério – Adultos cumprem promessas sim, mas às vezes demoram mais do que pretendiam. E eu sei que eu fiz uma promessa a você que ainda não cumpri, mas não esqueci.
- Não me importo – ele deu de ombros tentando soar indiferente, mas estava estampado em seu rosto o quanto ele precisava que algo fosse cumprido.
- Mas eu me importo, porque eu sempre cumpro as minhas promessas – puxei o celular do bolso e encontrei o numero de Rupert na discagem rápida. Ele atendeu no primeiro toque – Ei primo, está ocupado? Não, não é sobre isso, mas você pode passar aqui na delegacia? Lembra daquele menino que falei que ia apresentar a você? Ele está aqui e não acha que vou cumprir o prometido. É, ele mesmo. Espero você aqui.
- Pra quem você ligou? – Austin perguntou assustado, sem acreditar que eu fosse mesmo cumprir a promessa.
- Rupert Storm, ele está a caminho. O Harry vai ficar pra depois, ok? Ele não está em Londres.

Ele ainda estava no centro de Londres quando liguei e chegou dez minutos depois. Era difícil descrever a expressão no rosto dele, mas acho que um pouco do trauma de hoje foi esquecido, ao menos naquele momento. Deixei Rupert - que depois de dois livros já estava mais do que acostumado a lidar com crianças - conversando com eles e fui procurar Brianna. Ela estava saindo do elevador outra vez quando a encontrei.

- Está tudo pronto, vou levar as crianças para o meu abrigo. Consegui uma autorização para eles morarem conosco até encontrarem uma nova família.
- Eu quero adotar eles – disse de repente e ela se assustou – O que preciso fazer? Acha que consigo a guarda deles? Sei que nenhum juiz vai autorizar isso se continuar tendo dois empregos, mas eu saio da banda e fico só com o cargo de detetive.
- Wow, calma! É muita informação em poucos segundos! Que história é essa de sair da banda? Ficou maluco? Não pode tomar uma decisão dessas de repente!
- Não é uma decisão de impulso, já venho pensando nisso tem tempo, acho que só precisava de um incentivo maior. E é isso, esse era o empurrão que eu precisava para criar coragem de fazer isso.
- Nick, você está falando sério? Quer mesmo sair da banda e adotar essas crianças?
- Sim, quero. Eles precisam de mim e eu preciso deles. Meu pai deixou os Duendeiros para cuidar de mim e agora é a minha vez de fazer o mesmo.
- Você não sabe o quanto eu estou orgulhosa de ser sua amiga! – Brie me abraçou – Pode contar comigo no que precisar, vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para ajudar.
- Então acha mesmo que consigo?
- Não vai ser fácil. Você é solteiro e ainda é homem, não é exatamente a combinação que eles procuram, mas o fato de você querer adotar os dois juntos e eles já conhecerem e confiarem em você conta muito. É difícil, mas também não é impossível.
- Certo. Então acho que a primeira providencia que preciso tomar é avisar ao resto da banda sobre os meus planos.
- Definitivamente.  Conte a eles hoje e amanhã começamos a trabalhar nisso.
- Você é a melhor! – dei um beijo na bochecha dela e sai correndo atrás de Nigel. Precisava de uma reunião de emergência ainda naquela noite.

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Becky já estava em sua terceira caneca de café – havia saído de um turno de 24h no quartel – quando Otter finalmente chegou. Já estávamos no meu apartamento apenas esperando por ele e todos curiosos com o motivo da reunião repentina.

- Desculpem o atraso, estava repassando as perguntas do caso da bomba no hospital com o comandante. O que eu perdi?
- Só a Becky acabando com o estoque de café do Nick – Nigel respondeu rindo.
- Eu estou sem dormir a 24 horas, me deixem em paz.
- Ok Nick, estamos todos aqui, qual é o assunto urgente que não podia esperar até o fim de semana?
- Bom, não há um meio de fazer isso ser mais fácil, então vou direto ao ponto – sentei no sofá na frente deles e os quatro me olhavam intrigados – Ano que vem entrarmos no nosso ano de pausa dos Orcs que combinamos, mas quando a banda voltar em 2020, eu não volto com vocês. Estou saindo.

A sala ficou em silêncio. Ninguém falava nada, apenas trocavam olhares que eu não conseguia decifrar. Por mim Nigel começou a rir e Otter soltou um palavrão, puxando a carteira do bolso e entregando uma nota de 100 euros para o irmão.

- Vocês apostaram que ele ia sair? – Connor perguntou surpreso, mas Becky estava rindo também.
- Como vocês sabiam? – perguntei não achando muita graça também.
- Nick, nos conhecemos desde que tínhamos o que? Seis anos? Acho que já sei perceber quando algo está errado e você tem andando distante já faz algum tempo. De todos nós, eu sou quem o conhece melhor porque trabalho com você o dia inteiro.
- Não acreditei muito quando ele me disse que achava que você ia sair da banda eventualmente, então apostei que estava errado.
- Podemos saber o motivo? – Connor perguntou.
- Porque eu estou cansado. Vocês entendem melhor do que ninguém o que é fazer shows, dedicar tanto tempo aos ensaios, e ao mesmo tempo ter turnos de 48 horas no quartel ou na delegacia e não ter tempo para mais nada. Vocês ainda conseguem isso, mas eu não. Pensei por muito tempo sobre isso, mas não sabia de qual precisava abrir mão, até hoje.
- Está falando do caso das crianças North? – Nigel perguntou confuso e assenti – O que isso tem a ver com você escolher entre a banda e a delegacia?
- Por que eu vou adotar eles e trabalhando só na delegacia consigo tempo para cuidar deles.

Dessa vez não houve silencio porque Nigel engasgou com a cerveja que bebia e Otter começou a bater em suas costas para ajudar. Connor parecia em estado de choque, mas Becky abriu um sorriso enorme.

- Cara, você precisa aprender a amenizar suas noticias – Connor comentou voltando a respirar.
- Nick, você está falando sério? – Becky perguntou me encarando ainda sorrindo.
- Sim, estou. Sei que não vai ser fácil, mas também sei que posso fazer isso.
- Uau, acho que vou entrar em depressão – Otter se largou no sofá – Nick vai ser o primeiro de nós a ser pai?
- Não é? Sempre achei que seria o Nigel! – Connor comentou e Nigel olhou de cara feia.
- Até onde sei, ele pode ter vários filhos espalhados pele mundo que não sabemos – disse rindo e ele me atirou uma almofada.
- Não diga isso, pode atraí-los até aqui!
- Se alguém tem que ficar deprimida aqui, esse alguém sou eu que já casei! – Becky caminhou até o meu lado, agarrando meu rosto e beijando minha bochecha – Mas estou é muito feliz por você, primo. E orgulhosa de ver que finalmente cresceu.
- Vocês não estão chateados? – perguntei incerto olhando para Connor.
- Como podemos ficar chateados por você querer adotar duas crianças e ter sua própria família? – ele respondeu finalmente sorrindo – Estou orgulhoso também.
- É cara, estamos todos felizes por você – Otter levantou também e bateu em minhas costas – E pode contar conosco no que precisar.
- É, porque você vai precisar de ajuda pra conseguir a guarda dessas crianças – Nigel olhou em volta – Esse apartamento é uma bagunça!
- Está bagunçado porque só chego aqui pra dormir, mas isso acaba ano que vem.
- Gente, se o show do dia 30/12 vai ser o último do Nick, temos que fazer algo especial – Connor comentou e todos assentiram.
- E quero você nele, Becky! – disse apontando para ela.
- Estarei lá, não se preocupe.
- Cara, o Banks vai ficar uma fera!

Nigel imitou a previsível reação do nosso produtor e começamos a rir já imaginado como seria tenso o momento em que eu contasse a ele dos meus planos para o futuro. O resto da noite foi ocupada com planos sobre como transformar o antigo quarto de Connor em um lugar adequado para duas crianças e idéias para o nosso último show juntos, na véspera do ano novo. Se aquele seria o meu último show, então teria que ser épico.

O que não sabíamos naquele momento era que aquele show épico seria o último dos Orcs.